sexta-feira, 30 de março de 2012

Areia contaminada

Pesquisa da UENF detecta parasitas na areia de praias e lagoas do Norte Fluminense

Lagoa de Cima
Nada mais relaxante do que pegar um solzinho matinal em frente ao mar ou a uma lagoa, mas que espécies de organismos podem estar ali à sua espera prontinhos para transmitir doenças? A médica veterinária Suzana Corrêa Wagner Barros pesquisou, em seu mestrado em Ciência Animal na UENF, amostras coletadas em praias, lagoas e comunidades ribeirinhas do Norte Fluminense. E constatou o que muitos poderiam temer: tem parasita de todo tipo nestes locais.

As coletas, visando a um levantamento qualitativo (presença x ausência), foram feitas em cinco praias da região: Atafona, Pontal de Atafona e Grussaí, em São João da Barra (RJ); Farol de São Thomé, em Campos dos Goytacazes (RJ); e Santa Clara, em São Francisco do Itabapoana (RJ). Em todas as praias estudadas foi detectada a presença de pelo menos um gênero de parasita - helmintos (vermes) ou protozoários (micro-organismos). As coletas foram feitas em três pontos da faixa de areia: à beira-mar, na faixa intermediária e na faixa acima. A proporção geral de amostras contaminadas foi de 20% no Pontal de Atafona, 12% no Farol, 8,9% em Santa Clara, 5,4% em Grussaí e 5% em Atafona.

Entre as amostras contaminadas, destaque para a presença de ovos de ascarídeos (Ascaris sp, o gênero da popular lombriga e de outras espécies), verificada em todos os casos problemáticos de Atafona, três quartos das amostras contaminadas de Santa Clara e dois terços das amostras com positividade do Farol. Também foram detectados Ancilostomídeos (Ancylostoma sp, em ovos e larvas) e Toxocara sp. Nas praias, as coletas foram feitas de janeiro a abril de 2010.

— Foram encontradas fases larvares destes parasitos não só nas areias de praias aqui estudadas, mas também em beiras de lagoas e rios, oferecendo à população potenciais riscos de contrair zoonoses como Larva Migrans Cutânea (LMC) e/ou Larva Migrans Visceral (LMV), tanto pela presença de ovos quanto de larvas — explica Maria Angélica, orientadora do estudo. Para a pesquisadora, a solução passa pela melhoria no saneamento básico das regiões estudadas e por campanhas de posse responsável de cães mediante coleta das fezes com sacos plásticos.

Lagoas e áreas ribeirinhas – Nas lagoas, as coletas ocorreram de maio a agosto de 2010 nos seguintes pontos: Lagamar (Farol de São Thomé), Lagoa de Cima (Ibitioca), Lagoa do Vigário (área urbana de Guarus) e Lagoa de Grussaí. Todas apresentaram positividade para algum gênero de parasita. Formas parasitárias de Ancylostoma sp, por exemplo, estão presentes em todas as lagoas investigadas.

A hoje mestre Suzana Corrêa Wagner Barros coletou ainda amostras às margens dos rios Ururaí, na localidade do mesmo nome, e Paraíba do Sul, na comunidade do Matadouro. Em ambos os locais, pesquisados de setembro a novembro de 2010, foram encontradas amostras contaminadas com helmintos.

— Muito se fala em contaminação bacteriana por coliformes na água, esquecendo-se que a condição das areias também deve ser analisada para a liberação das praias num patamar que não ofereça riscos à população em lazer — conclui Maria Angélica.

Gustavo Smiderle

quinta-feira, 29 de março de 2012

A ciência do aquecimento global


Pesquisadores da UENF lançam livro abordando conceitos de Física em linguagem simples

Professor Marcelo Sthel
Embora quase todo mundo fale em aquecimento global, não é toda hora que se tem acesso a informações que combinam rigor científico com linguagem acessível. Mas está pronto para ser lançado em Campos e em outras cidades o livro ‘A Ciência do Aquecimento Global’, escrito por uma dupla de autores da UENF e publicado pela Quartet Editora, do Rio de Janeiro, com apoio financeiro da Faperj.

Os autores são Joziel Costa Creton e Marcelo Silva Sthel — o primeiro, físico e mestre em Ciências Naturais pela UENF; o segundo, pesquisador e orientador de Joziel na graduação e no mestrado. Ambos têm compartilhado estudos e inquietações sobre questões como o efeito estufa e o futuro do planeta. Daí o desejo de apresentar o tema e os principais conceitos envolvidos de forma atraente para o público não especializado.

A obra é dividida em sete capítulos, que explicam ao leitor noções fundamentais sobre as condições de surgimento e manutenção da vida na Terra. No capítulo ‘Planeta Terra’, por exemplo, os autores mostram como a órbita terrestre (nem muito perto, nem muito longe do sol) bem como o tamanho e a massa do planeta (perfeitos para que a gravidade mantenha o núcleo liquefeito e as moléculas de gases próximas à superfície) são indispensáveis à sobrevivência de todas as espécies.

— Nosso planeta tem uma atmosfera cuja composição e em equilíbrio com os demais elementos vivos e não vivos promove o chamado efeito estufa natural, que fornece uma temperatura média amena ao nosso planeta — escrevem os pesquisadores.

Joziel Costa Cretton
Os outros capítulos têm como títulos ‘Astronomia’, ‘Equilíbrio energético e aquecimento global’, ‘Calor’, ‘Planeta Água’, ‘Processos térmicos nos fenômenos naturais’ e ‘Energia e Sustentabilidade’. Num texto leve e de fácil leitura, é possível compreender fenômenos como as estações do ano, as eras glaciais e as variações cíclicas nos movimentos da Terra – contadas em dezenas ou centenas de milhares de anos.

O livro aborda conceitos de Física seguindo orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o que o torna particularmente indicado para a leitura de estudantes do ensino médio. Mas não tem a pretensão de substituir livros didáticos ou ser tomado como única fonte de estudos, já que enfoca uma área específica da Física.

A data do lançamento ainda não está definida, mas é certo que o livro será brevemente apresentado ao público de Campos e região. Os autores também planejam lançamentos em outras cidades, como Vitória (ES) e Rio de Janeiro (RJ). A publicação tem capa de João José de Melo Franco e diagramação de Paulo Vermelho, com revisão de Alvanísio Álvaro Damasceno.

Gustavo Smiderle

domingo, 25 de março de 2012

Você na rede: até que ponto?

You Tube: 2 bilhões de visualizações por dia
Quais os limites entre o que é público e o que pertence à intimidade nas postagens em canais da internet, especialmente no You Tube? É o que tenta responder a dissertação de mestrado de Daniella Costantini das Chagas Ribeiro, do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da UENF. Entre outras coisas, o trabalho conclui que muitos usuários, ao postarem vídeos como forma de expressão pessoal, acabam expondo sua intimidade em grau maior do que gostariam.

O trabalho tem como título “As representações do ‘eu’ na rede social You Tube: quando o íntimo atravessa os limites do público e do privado” e foi orientado pelo professor Carlos Henrique Medeiros de Souza, do Laboratório de Cognição e Linguagem (LCL) da UENF.

Como conta Daniella, a rede You Tube – criada em junho de 2005 - é a maior plataforma de compartilhamento de vídeos do mundo, tendo chegado, em 2008, à marca dos 85 milhões de vídeos postados. O ritmo é tal que a cada minuto são inseridas 24 horas de novos vídeos. Em apenas um dia, acontecem 2 bilhões de visualizações.

A pesquisa se debruça sobre as chamadas videografias de si, que constituem pequenas biografias e narrações de experiências e análises do cotidiano inseridas na rede. Em certos casos, pessoas anônimas se transformam em celebridades, seguindo o rastro de atores de canais on-line como Felipe Neto e PC Siqueira.

Segundo Daniella, as análises construídas são ‘tentativas de investigação e construção’ de uma questão que extrapola as páginas de um trabalho acadêmico, dada a velocidade das mudanças verificadas no ambiente virtual.

- Como lembra o autor Manuel Castells, uma pesquisa não pode ser completa quando seu objeto se desenvolve e muda muito mais depressa do que o sujeito pesquisador – afirma Daniella.

Éder Souza
Gustavo Smiderle

sábado, 24 de março de 2012

A ciência nossa de cada dia


Fúlvia D'Alessandri*

“Isso vai servir para quê?” Esta é a pergunta que nove em cada dez jornalistas costumam fazer toda vez que são escalados para entrevistar um cientista. Pode parecer natural que seja assim, mas essa pergunta, na realidade, esconde muito do que o chamado público “leigo” — como se convencionou chamar todos aqueles que não estão inseridos no mundo científico — pensa sobre a ciência.

Reproduzida pelos jornalistas, a visão de senso comum da ciência diz que todo conhecimento produzido pelo método científico é bom por si mesmo, redundando, num futuro próximo, em soluções para todos os problemas que afligem a humanidade.

Tal pensamento acaba determinando o que, dentre tudo aquilo que a Ciência produz, pode virar notícia ou não. Normalmente, a ciência que ganha as páginas dos jornais e, vez ou outra, as telas da TV, é a ciência das grandes descobertas, dos feitos e resultados mirabolantes (quase mágicos), fruto da “genialidade” de seres voltados unicamente para o bem estar da humanidade — os cientistas. E assim, sem perceber, somos todos sugados por esta onda exacerbadamente otimista e preocupantemente idealizada do fazer científico.

Como principais canais de divulgação da ciência, os veículos de comunicação não podem se eximir da responsabilidade de mostrar ao público uma ciência mais próxima da realidade.

Para que isso aconteça, é preciso que a cobertura da ciência não se limite aos seus resultados. Da mesma forma que acontece nas outras áreas do jornalismo (econômico, político, esportivo etc), é necessário que o lado vivo, dinâmico, humano da ciência também tenha seu espaço. Afinal, estamos falando de uma prática social, que, como tal, não está imune às influências existentes em todo ambiente social. A idéia de uma ciência “neutra”, portanto, está fora da realidade.

Em suma, antes de se maravilhar com as descobertas da ciência, é preciso que o público entenda, primeiro, como ela funciona. Só assim será possível imaginar um novo cenário, em que a ciência deixe de ser uma preocupação unicamente dos cientistas e dos políticos (responsáveis pelos investimentos públicos destinados ao setor) e passe a importar a todos os cidadãos.

Só uma população devidamente informada se sentirá capaz de interferir nas decisões políticas que determinam os caminhos seguidos pela ciência em seu país.

* Jornalista da UENF
(Artigo publicado em 03/01/08 no Jornal da Ciência)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Insetos persistentes


'Bicho-lixeiro' é encontrado em abundância tanto em mata contínua quanto em fragmentos

Fragmentos pequenos de mata nativa podem ser tão importantes para a biodiversidade dos insetos quanto áreas de mata contínua. Em sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UENF, o agrônomo e licenciado em Biologia Gilson Silva Filho constatou que insetos da família Chrysopidae existem em abundância tanto em áreas protegidas quanto em pequenos fragmentos localizados em áreas particulares. Também conhecidos como “bichos-lixeiros”, eles são muito utilizados no controle biológico de insetos-pragas de culturas agrícolas.

Na pesquisa — que teve a orientação do professor Gilberto Soares Albuquerque, do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia (LEF) da UENF —, Gilson avaliou e comparou a diversidade, abundância e sazonalidade dos crisopídeos em duas unidades de preservação permanente da Mata Atlântica: a Reserva Biológica (ReBio) União e o Parque Estadual (PE) do Desengano, além de quatro fragmentos florestais situados no entorno dessas duas áreas.

— Os resultados sugerem que mesmo os fragmentos pequenos são importantes para a manutenção e preservação da diversidade deste inseto no bioma Mata Atlântica, sendo necessário que sejam preservados — explica.

Na pesquisa, ele usou dois métodos de amostragem: a rede entomológica e a armadilha atrativa. Em 13 meses, foram coletados 9.566 indivíduos, distribuídos em 32 morfoespécies, 18 das quais identificadas ao nível de espécie, pertencentes às tribos Leucochrysini e Chrysopini. A primeira foi a que apresentou uma maior diversidade.

Segundo Gilson, em sua fase larval, o crisopídeo se alimenta de insetos-pragas que atacam as plantas. No entanto, são poucas as informações sobre a sua presença na Mata Atlântica do Rio de Janeiro. No Brasil, os levantamentos existentes restringem-se principalmente à Floresta Amazônica e a agroecossistemas.

— Os insetos constituem o grupo de animais mais numeroso do planeta e grande parte deles está localizada nas florestas tropicais. Têm grande importância nos estudos de impacto ambiental e efeitos da fragmentação florestal. No entanto muitos destes insetos ainda não foram estudados, por serem pequenos, difíceis de serem encontrados e viverem nas copas das árvores — diz.

Veja a tese completa aqui.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 21 de março de 2012

Esperança para vítimas de derrame


Substância encontrada em vegetais recupera movimento em ratos submetidos a AVC

Amélia Miranda Gomes Rodrigues
Uma contribuição para um possível tratamento de pacientes acometidos pelo Acidente Vascular Encefálico (AVE) — popularmente conhecido por 'derrame' — foi dada a partir de um estudo experimental pré-clínico por cientistas da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro). A partir do uso da substância chamada "rutina", encontrada em vegetais, eles conseguiram recuperar parcialmente o movimento das patas dianteiras de ratos em experimentos de laboratório. A rutina é um tipo de flavonoide, substância produzida pelos vegetais cuja função é semelhante ao do sistema imunológico humano: proteger a planta contra as agressões externas.

Os flavonoides já são conhecidos por sua ação farmacológica antioxidante e anti-inflamatória. Segundo o professor que coordena as pesquisas, o professor Arthur Giraldi Guimarães, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT), estudos prévios já verificaram a capacidade dos flavonoides de prevenir e de proteger contra os danos de doenças vasculares, através da administração prévia à ocorrência da isquemia. Mas o estudo, que embasou a dissertação de mestrado de Amélia Miranda Gomes Rodrigues, do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da UENF, é um dos poucos não só a utilizar a rutina, como também a focar na terapêutica e não na prevenção — ou seja, na administração posterior à ocorrência da isquemia. Os pesquisadores induziram um tipo de AVE em ratos, que ficaram com parte dos movimentos comprometidos. Depois, submeteram os animais ao tratamento com a rutina.

Ratinho sendo submetido ao teste do cilindro
Os ratos foram avaliados por um período de três meses, sendo submetidos a dois testes sensorimotores. Um deles é o teste do cilindro, no qual o ratinho é colocado dentro de um cilindro de vidro e é avaliada a sua capacidade de utilizar as duas patas para explorar as paredes. No início, os animais levantam apenas uma pata, mas depois do tratamento conseguem levantar as duas. O outro teste é o do adesivo, no qual os ratinhos inicialmente demonstram não sentir o material colado à pata, mas depois de algum tempo não só sentem como conseguem desgrudá-lo da pele. O estudo também observou redução da neurodegeneração na região periférica à lesão, sugerindo um papel neuroprotetor para o flavonoide.

— O AVE é a principal causa de incapacidade em pessoas adultas e a cada dia aumenta o número de casos. Esperamos que, em breve, se consiga chegar a um conjunto de evidências que levem a um ensaio clínico com seres humanos — diz o professor, lembrando que no momento não existe nenhum tipo de tratamento para vítimas de derrame, apenas o uso de antitrombolíticos nas primeiras três horas. Quem é hospitalizado depois desse período normalmente fica com sequelas irreversíveis.

Segundo Amélia, que é formada em Farmácia, a rutina já é comercializada em forma de medicamento com ação vasoprotetora, o que facilita o uso na clínica, já que para o uso em humanos os medicamentos obrigatoriamente devem passar por uma sequência de ensaios clínicos. Na natureza, a substância é encontrada em vegetais folhosos, como brócolis e couve. Outro flavonoide com estrutura química semelhante ao da rutina, a quercetina, pode ser encontrada na maçã, cebola, uva e chá verde.

Fúlvia D'Alessandri


A Teoria do Big Bang


Adriana  Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br



Teorias cosmológicas existem desde muito tempo, pois o homem sempre tentou criar uma teoria a respeito do mundo em que vivia. As cosmologias indiana, egípcia, entre outras, tentaram explicar o mundo a partir de observações do dia a dia, porém sem muito sucesso. Nesta época, a cosmologia ainda não se constituía em ciência, como é hoje.

Grandes contribuições foram dadas pelos gregos, ainda que não estivessem corretos. Foi o momento em que, pela primeira vez, a cosmologia se aproximou da ciência. Na Antiguidade, a Teoria Geocêntrica, proposta por Aristóteles, creditada por Hiparco e embasada anos mais tarde por Ptolomeu, afirmava ser a Terra o centro do universo.

Neste momento, acreditava-se que existia apenas a Terra, o Sol e os planetas no universo. Essas idéias surgiram a partir da observação cotidiana dos fenômenos celestes. Na época não acreditavam que a Terra se movia — coisa que o senso comum nos leva a crer.

Mais tarde surgiu a Teoria Heliocêntrica, que foi pensada desde a antiguidade por Aristarco de Samos e voltou com força com as idéias de Nicolau Copérnico. Nesta teoria, nosso modesto Sol constituía-se no centro do universo e todos os planetas giravam a seu redor. Esta teoria recebeu grandes contribuições de Galileu, Kepler e Newton, entre os anos de 1600 e 1700.

A teoria que predominou no século XX, o modelo do Big Bang — a teoria cosmológica conhecida pela maioria das pessoas —, afirma que o universo surgiu a partir de uma singularidade inicial. A propósito, esta singularidade seria um momento do universo em que este possuiria uma condensação máxima de matéria. Esta singularidade era o próprio universo.

Esta teoria se fortaleceu nos anos 40, sendo o maior responsável por isso o físico russo Georg Gamow (1904-1960), nascido na Ucrânia. Gamow era contemporâneo de outro grande físico da época, Alexander Friedmann (1888-1925), que havia criado um modelo de universo em expansão. Gamow foi o responsável por inserir leis físicas na teoria de Friedmann.

A ideia de início do universo foi lançada em 1931 pelo abade e astrônomo belga Georges Lemaitre (1894-1966). O universo teria tido início então, segundo ele, a partir de um “ovo” primordial.

A teoria do Big Bang afirma que o universo surgiu a partir de uma grande explosão. Este nome foi dado, de forma irônica, por Fred Hoyle (1915-2001) em 1950.

Na foto abaixo, um dos experimentos do acelerador de partículas do CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), o maior já construído, capaz de recriar as condições iniciais do universo.



Atlas, experimento do maior acelerador de partículas
já construído (Foto obtida do site da Nasa)
A teoria da qual Hoyle era partidário era a do universo estacionário, segundo a qual o universo não teria tido um início, nem teria um fim. O espaço e tempo seriam infinitos e a matéria, continuamente criada. Vale lembrar que Einstein, na época, também era partidário desta teoria.

Mais tarde surgiram no cenário científico dois físicos americanos que deram contribuições importantes, mas ainda sem constatação observacional: Ralph Alpher (1921-2007) e Hans Bethe (1906-2005). Este era alemão, naturalizado americano.

Eles criaram a teoria da expansão do universo a partir de uma singularidade inicial. Segundo a teoria de Alpher e Bethe, haveria uma radiação oriunda deste momento, que seria detectável em microondas.

Em 1964, outros dois cientistas também americanos, Arno Allan Penzias (1933-) e Robert Woodrow Wilson (1936-), obtiveram a comprovação observacional das idéias de Alpher e Hans. Eles eram radioastronomos e detectaram através de uma antena um ruído, ou seja, um sinal não esperado, contínuo, que não deveria existir. Este ruído foi relacionado a resquícios da explosão, ou seja, do Big Bang.

Dois fatores contribuíram para o desenvolvimento desta teoria: a descoberta de Edwin Hubble (1889-1953) sobre o universo em expansão e a radiação de fundo, que deu o prêmio Nobel a Penzias e Wilson em 1965.

A propósito, Hubble, o cientista, trabalhando no telescópio de Monte Wilson, deu grandes contribuições à cosmologia moderna: descobriu que a Via-láctea não era a única galáxia existente, e que as galáxias se afastavam continuamente umas das outras. Esta é uma das principais evidências do Big Bang.

O modelo cosmológico do Big Bang é chamado singular, porém existem modelos cosmológicos que se opõem a ele e são chamados não-singulares. Nestes modelos o universo não surgiu de uma singularidade inicial, região de máxima condensação de matéria. (Lembrando que a condensação máxima de matéria teria existido pelo fato de o volume, naquele momento, ser igual zero; logo a densidade de matéria tenderia ao infinito).

Em 1980, Alan Guth (1947-), físico e cosmologista americano, professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), sugeriu que teria ocorrido uma espécie de inflação no início do universo. Ele haveria crescido 1030 , ou seja, 1 seguido de trinta zeros, após 10-36s, velocidade maior que a da luz. É bom observar que era o universo que crescia à velocidade maior que a da luz e não um corpo que se deslocava com velocidade maior que a da luz.

Podemos dizer que o ponto forte da teoria do Big Bang, que a tornou tão popular, é o fato de a mesma permitir a existência de um momento da criação, fato que, sem dúvida, seduziu a opinião pública e também a comunidade científica.

Porém a teoria do Big Bang começou a perder a hegemonia a partir dos anos 90. Dos anos 70 ao ano 2000, a teoria do Big Bang foi a dominante, e a imprensa tornou esta teoria de domínio popular. Porém, estamos vivemos uma época de mudança de paradigma, ou seja, uma mudança de modelo.

Mário Novello, cosmologista do Centro Brasileiro
de Pesquisas Físicas (CBPF)
No modelo não-singular não há começo. Este momento, de condensação máxima, é apenas a passagem de uma fase para outra, ou seja, a passagem da fase de colapso para a fase de expansão. O modelo não-singular é o chamado modelo do universo eterno, que vem sendo discutido por cosmologistas brasileiros, entre outros o cosmologista do CBPF (Centro de Pesquisas Físicas), Mário Novello.

SUGESTÃO DE VÍDEO:
Neste vídeo o professor Mário Novello fala sobre a teoria do Universo Eterno:
http://youtu.be/vuYz_k5LCw4

SUGESTÃO DE LIVRO:
Do Big Bang ao Universo Eterno
Mário Novello
Editora Zahar

(Data de publicação: 21/03/2012)

terça-feira, 20 de março de 2012

Avicultura pode crescer em Campos


O Estado do Rio de Janeiro já foi o berço da avicultura brasileira, mas não conseguiu acompanhar o grande crescimento do setor — que nos últimos anos levou o país a ocupar o posto de maior exportador de frangos de corte em todo o mundo. Pesquisadores do Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal (LZNA) da UENF apostam que é possível reverter esta realidade, e já contam com o interesse da Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Campos.

Segundo o professor Humberto Pena Couto, do LZNA/UENF, ainda não há uma parceria formalizada, mas a UENF vem articulando junto à Secretaria de Agricultura estratégias que venham a contribuir para a implantação de um forte setor avícola no município — que seja capaz, além de tornar o Estado mais autossuficiente, de atender às demandas que serão criadas com a implantação do Porto do Açu.

A questão foi tratada recentemente em uma palestra promovida pela UENF e a Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Campos, reunindo o secretário Eduardo Crespo, assessores e representantes do Fundecam, além de produtores rurais interessados.

Segundo Humberto, o Estado do Rio de Janeiro é responsável atualmente por apenas 5% da produção nacional de frangos. Grande parte do frango e dos ovos consumidos  no Estado vem de fora. Um fator que pode ajudar a reverter este quadro, segundo o professor, é o grande potencial do Norte/Noroeste para a produção de grãos, que podem servir de matéria-prima na produção de rações, como o milho, o sorgo e a soja.

— Com a decadência da cana-de-açúcar, temos cada vez mais áreas agrícolas desocupadas, que poderiam ser utilizadas na produção de grãos. A vantagem é que a região é muito plana, o que viabilizaria uma agricultura tecnificada, aumentando a produtividade — diz.

A ideia, segundo o professor, é aliar a produção de grãos à produção de frangos. Atualmente, a região Sul do Estado do Rio de Janeiro é a única a manter uma avicultura industrial, mas abastece apenas 25% a 30% da demanda fluminense. O restante é importado do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo.

Nesta sexta, 23/03, às 18h, o professor Humberto ministra a palestra “Avicultura em Campos”, dirigida a produtores rurais, na Fundação Rural de Campos. No evento foi montado um aviário demonstrativo, com 1.500 frangos,  para visita dos produtores rurais.

Paolla Martinez
Fúlvia D'Alessandri

sexta-feira, 16 de março de 2012

Divulgar e inovar rendem pontos

CNPq passa a avaliar pesquisadores também por ações de divulgação científica e inovação; medida reforça iniciativas de popularização da ciência


Oficina de produção de vídeos científicos com celular para
alunos de escola  pública, ministrada em abril de 2011 por
Simone Bortoliero (UFBA), na UENF.
Agora é política do CNPq, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico: as atividades de divulgação da ciência e as de inovação também contarão pontos nas avaliações de produtividade dos pesquisadores brasileiros. Para isto a plataforma Lattes - que abriga 1,8 milhão de currículos disponíveis na internet - vai disponibilizar duas novas abas: uma para os pesquisadores inserirem informações sobre iniciativas de divulgação e educação científica, outra para registrarem informações sobre a inovação de seus projetos e pesquisa.

As duas áreas contempladas pelo CNPq têm recebido atenção especial da UENF nos últimos anos. Na divulgação científica, ações articuladas e em sequência, desde a organização do I Simpósio Nacional de Jornalismo Científico, em 2009, perseguem um duplo objetivo: induzir a afirmação de uma cultura de divulgação da ciência entre os pesquisadores ou futuros pesquisadores da Universidade e oferecer subsídios aos profissionais de mídia para ampliar os espaços sobre ciência nos veículos. Para debater o tema com pesquisadores e jornalistas, a UENF trouxe estudiosos como Cidoval Morais de Sousa (UEPB), Cilene Victor da Silva (Uninove) e Simone Bortoliero (UFBA), além de ter criado o Blog ‘Ciência UENF’ e estar em vias de lançar a Revista da Extensão, entre outros projetos.


Ulisses Capozzoli, da
Scientific American
Brasil, no I Simpósio
de Jornalismo Científico
promovido pela UEN
Na Inovação, os exemplos incluem a participação da UENF na criação e consolidação da Incubadora Tecnológica TEC Campos e a recente criação da Agência de Inovação. Para o diretor da Agência, Ronaldo Paranhos, a mudança é bem-vinda: a universidade brasileira é ‘eficiente’ na formação de recursos humanos e atingiu ‘bom patamar’ na pesquisa, mas tem pela frente o desafio de transferir para a sociedade o conhecimento gerado.  Para Paranhos, a notícia é boa, mas ainda há muito a ser feito.

O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UENF, Antônio Teixeira do Amaral Junior, enfatiza que o item ‘divulgação’ contará na avaliação de produtividade do pesquisador por parte do CNPq.

- A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação atuará para que os pesquisadores atualizem seus currículos na Plataforma Lattes de forma a abranger ações que ora passam a ser efetivamente capitalizadas na produtividade científica – afirma Amaral.

Também o reitor Silvério de Paiva Freitas concorda com o acerto da medida do CNPq:

- Ela cria instrumentos para a valoração de ações importantes que muitas vezes são feitas na base do voluntarismo – avalia Silvério.

Para a jornalista e pesquisadora Simone Bortoliero, doutora em Comunicação Social e coordenadora da Agencia de Notícias em CT&I da Universidade Federal da Bahia (UFBA), esta é a 'melhor notícia para o Jornalismo Científico brasileiro'. Para a pesquisadora, a sociedade pode se beneficiar de imediato com o aumento no volume de informações circulando nas instituições de pesquisa e com o necessário investimento em políticas de comunicação e na formação de jornalistas e divulgadores.

- Talvez agora os pesquisadores passem a considerar a popularização do conhecimento tão relevante quanto publicar em revista para os pares - opina.

Outras informações no site do CNPq.

Gustavo Smiderle

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cooperação entre UENF e Texas A&M University

Libo Shan, da Universidade Texas A&M
Em visita à UENF para estreitar uma cooperação científica já estabelecida com a Texas A&M University na área de biologia molecular da interação entre plantas e bactérias, a Dra. Libo Shan e o Dr. Ping He ministram seminários nesta quinta, 15/03, às 15h30 e às 16h30, no Auditório do P4. 

Às 15h30, Libo Shan aborda o tema ‘Nonself recognition and signaling mechanisms in plants’ (‘Mecanismos de reconhecimento e sinalização do sistema imune vegetal). Em seguida, às 16h30, Ping He fala sobre ‘Bifurcation of calcium signaling in plant innate immunity’ (‘Bifurcação da sinalização por cálcio associada à imunidade inata em plantas’).

Libo Shan e Ping He, que têm trabalhos publicados em periódicos como Science, Nature e Cell, mantêm cooperação com o grupo do professor Gonçalo Apolinário de Souza Filho, pesquisador do Laboratório de Biotecnologia (LBT) e diretor do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF. Segundo Gonçalo, eles ficaram ‘muito bem impressionados’ com o desempenho de doutorandos da UENF que passaram um período na Texas A&M University, ao longo de 2011.

- Agora vieram conhecer a UENF de perto e estreitar a cooperação – informa Gonçalo.

Píng He: seminário às 16h30
A Dra. Libo Shan atua no Department of Plant Pathology and Microbiology Institute of Plant Biotechnology and Genomics da Texas A&M University. Já Ping He é pesquisador do Department of Biochemistry and Biophysics Institute of Plant Biotechnology and Genomics da mesma Texas A&M University.








Gustavo Smiderle

História e cultura dos negros nas escolas

Abilio Weiand: registros de pesquisa em comunidade quilombola
Educação e relações étnico-raciais em debate no CCH

Era apenas o encerramento das atividades de uma disciplina optativa do curso de Pedagogia, mas o Auditório Multimídia do CCH/UENF abrigou, na noite desta terça, 13/03, um denso debate sobre os alcances e os limites da aplicação da lei que inclui no currículo oficial da rede de ensino a temática da história e cultura afro-brasileira (Lei 10.693/03). Sob a coordenação da professora Maria Clareth Gonçalves Reis, responsável pela disciplina 'Educação e relações étnico-raciais do curso de Pedagogia da UENF, o encontro reuniu o fotógrafo Abilio Maiworm Weiand (UFF), o professor Renato Emerson dos Santos (Uerj) e a professora Vera Lúcia Neri da Silva (Unisuam), além do presidente da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, de Campos (RJ), Jorge Luís dos Santos.

- O que me preocupa não é a lei, que constitui uma prescrição, mas o que acontece efetivamente nas escolas, nas salas de aula e nos corredres - afirmou Renato Emerson dos Santos, em cuja perspectiva o racismo no Brasil constitui um sistema de dominação afinado com o sistema capitalista.

O fotógrafo Abilio Weiand, que fez registros da comunidade quilombola de 'Chacrinha dos Pretos', na região de Belo Vale (MG), durante a pesquisa de mestrado de Maria Clareth, apresentou pressupostos do trabalho fotográfico aplicado à pesquisa em Ciências Sociais. Em sua visão, a expressão 'Ciências Sociais' abarca um conjunto relativamente amplo de especialidades, incluindo, por exemplo, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Pedagogia, Geografia e Psicologia. Abilio esboçou uma classificação das fotos para pesquisa social em 'fotos para descobrir' - referentes ao momento em que o pesquisador vai a campo coletar informações - e 'fotos para contar' - relativas à fase do processo em que a pesquisa está feita e é apresentada.

- Claro que esta classificação não se dá no momento em que os registros são feitos, mas posteriormente.

A professora Vera Lúcia Neri da Silva relatou a experiência de inserção de uma disciplina específica para abordar a temática proposta pela Lei 10.693/03 na Unisuam. A disciplina, intitulada 'Educação das relações étnico-raciais', tornou-se obrigatória para o curso de Pedagogia e optativa para os demais. Mas teve que enfrentar resistências para se estabelecer - não da direção da instituição, mas de outros professores.

Gustavo Smiderle

Divulgação científica hoje, segundo Wilson da Costa Bueno

Wilson Bueno: pioneiro em divulgação científica
Reproduzimos aqui a entrevista do professor Wilson da Costa Bueno, pioneiro nos estudos de divulgação científica no Brasil, concedida ao blog Dissertação sobre Divulgação Científica e replicada pelo Jornal da Ciência da SBPC, edição de 12/03/12.

Bueno é autor da primeira tese de doutorado sobre jornalismo científico no país, defendida em 1985 na Universidade de São Paulo (USP), e atualmente é docente da USP e da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), diretor da Revista Comtexto Comunicação e Pesquisa e editor de revistas digitais e de sites

Confira aqui a entrevista, cuja leitura nos foi sugerida pelo professor Marcelo Carlos Gantos, do CCH/UENF, e que também recomendamos aos nossos leitores.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Brincando e aprendendo


Quem disse que hora de estudar não é hora de brincar? Para a professora Maria Cristina dos Santos Peixoto, do Laboratório de Estudo da Educação e da Linguagem (LEEL) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, a brincadeira pode ser uma importante ferramenta na educação infantil. Ela é a coordenadora do projeto “Brinquedoteca do Colégio Estadual João Pessoa: um espaço criativo de construção do conhecimento”, que tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

A brinquedoteca será inaugurada nesta segunda-feira, 12/03, às 14h, no Colégio Estadual João Pessoa, situada no Parque São Caetano, em Campos. O acervo inclui jogos pedagógicos nas quatro áreas do conhecimento — matemática, português, ciências e estudos sociais —, construídos pelos alunos do curso de Formação de Professores da própria escola, orientados pelos pesquisadores da UENF que participam do projeto.

— Os alunos já estão utilizando esses jogos nas aulas práticas que devem ministrar, com excelentes resultados — diz Maria Cristina, que iniciou a parceria com a escola João Pessoa em 2007 e, desde então, já realizou diversos projetos tendo como foco a arte na educação.

Além de funcionar como laboratório para os alunos do curso de Formação de Professores, a brinquedoteca poderá ajudar os alunos dos cursos de Licenciatura e Pedagogia da UENF e demais universidades no estudo de novas práticas pedagógicas. A ideia é que o espaço sirva ainda para pesquisas científicas e projetos de extensão voltados, por exemplo, para a formação continuada de professores, oficinas de criação pedagógica, visitação de outras escolas, brinquedoteca itinerante, entre outras iniciativas.

— O processo de aprendizado costuma ser todo cognitivo, o sensível não entra. Mas não se forma só cérebros, existe um corpo inteiro ali. E quanto menor a criança, maior a necessidade de um aprendizado através da atividade lúdica. É uma forma de construção do conhecimento. Infelizmente acham que a escola deve ser um lugar muito sério, desprovido de prazer. A criança é estimulada porque é curiosa e tem muita imaginação. Além disso, a criança de hoje é diferente, recebe muitos estímulos e a escola tem que acompanhar isso — diz Maria Cristina, que é formada em História e tem mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 7 de março de 2012

A ciência dos materiais cerâmicos

 
Parte dos avanços mais recentes em pesquisas com materiais cerâmicos está num livro publicado em 2011 na Croácia, com autores de vários países, e três capítulos da obra são assinados por pesquisadores atuantes na UENF ou formados pela instituição. Publicada pela editora Intech Open, a obra tem como título "Advances in Ceramics – Characterization Raw Materials, Processing, Properties, Degradation and Healing”. Numa tradução livre, o título seria ‘Avanços em cerâmica – caracterização de matérias-primas, processamento, propriedades, degradação e recuperação’.
   
Já o primeiro capítulo, intitulado ‘On the Use of Photothermal Techniques as a Tool to Characterize Ceramic-Metal Materials’ é de quatro autores ligados à UENF: o pós-doutorando Francisco de Assis Leo Machado e os professores Marcello Filgueira, Roberto da Trindade Faria Junior e Helion Vargas. O capítulo trata da caracterização térmica, estrutural e microestrutural de um metal duro largamente empregado como ferramenta de corte nas indústrias metal-mecânica, de petróleo e na construção civil – um material de carbeto de tungstênio-cobalto, como explica Marcello Filgueira:
   
- Os aspectos inéditos do trabalho são a produção das pastilhas de metal duro via altas pressões e altas temperaturas (HPHT - high pressure - high temperature) e o uso de técnicas fototérmicas para a caracterização destas pastilhas. O trabalho resultou de esforços conjuntos entre pesquisadores do programa de pós-graduação em Engenharia e Ciências dos Materiais e do programa de Ciências Naturais do CCT/UENF.
   
O capítulo 11 discute a caracterização de cerâmica vermelha com incorporação de rejeitos de massa de louça sanitária de uma indústria de São Paulo, que foi tema da tese de doutorado de Vanessa Pereira de Souza Ulliam Caldas, defendida em setembro de 2011, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais, com a orientação do professor Roberto Trindade Faria Junior. O artigo tem autoria dos próprios Roberto e Vanessa e ainda de Carlos Maurício Fontes Vieira, Rosane da Silva Toledo Manhães, Sergio Neves Monteiro, José Nilson França Holanda e Helion Vargas.  O título é ‘Characterization of Clay Ceramics Based on the Recycling of Industrial Residues – On the Use of Photothermal Techniques to Determine Ceramic Thermal Properties and Gas Emissions during the Clay Firing Process’ (em português, algo como ‘Caracterização de cerâmica vermelha com base na reciclagem de resíduos industriais – uso de técnicas fototérmicas para determinar propriedades térmicas das cerâmicas e emissões de gás durante a queima da argila’.)
   
Já o capítulo 16 demonstra como a incorporação de resíduos de rochas ornamentais à fabricação de artigos de cerâmica vermelha aumenta em mais de 50% a vida útil de tijolos e telhas. O trabalho é assinado pelos professores Gustavo de Castro Xavier, Fernando Saboya, Paulo Cesar de Almeida Maia e Jonas Alexandre, todos do Laboratório de Engenharia Civil da UENF. Segundo Gustavo, os resíduos são incorporados na proporção de 5%, e as peças são queimadas a até 900º C. O capítulo tem como título ‘Considerations about Degradation of the Red Ceramic Material Manufactured with Granite Waste’ (‘Considerações sobre a degradação de materiais de cerâmica vermelha produzidos com resíduos de granito’).
   
Para ter acesso ao livro com todos os seus 18 capítulos, clique aqui.

Rafaella Dutra
Gustavo Smiderle

segunda-feira, 5 de março de 2012

‘Detergentes naturais’ contra poluição por petróleo

Região do mangue de Gargaú
Quanto tempo a natureza leva para consumir volumes de petróleo derramado em manguezais, importantes berçários da vida marinha, e que mecanismos ela usa para isto? A tese de doutorado da bióloga Rita Maria Costa Wetler Tonini, aprovada em dezembro de 2011 na UENF, ajuda a responder. Ela analisou o comportamento de bactérias que se alimentam do carbono presente nas moléculas de petróleo (chamadas petrófilas) e que existem naturalmente nos manguezais.

O estudo coletou amostras de sedimento de dois manguezais e inseriu 2% de petróleo em cada amostra para observar o comportamento das bactérias degradadoras. A tese teve a orientação do professor Carlos Eduardo de Rezende e a coorientação da professora Adriana Daudt Grativol, ambos do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF.

Detergentes naturais - Estudando duas amostras do mangue de Gargaú, na foz do Paraíba do Sul, e outras duas do mangue da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bióloga constatou o aumento no número de bactérias produtoras de 'detergentes naturais' - chamados biossurfactantes - produzidos pelas próprias bactérias presentes no sedimento. As amostras, contaminadas com petróleo, foram submetidas à contagem de bactérias degradadoras (aquelas que consomem átomos de carbono das moléculas de petróleo) durante certos períodos de tempo: primeiro a cada sete dias, até completar quatro semanas; depois, quando já não era possível perceber visualmente o poluente, do 150º ao 178º dia, sempre uma vez por semana.

- No meu trabalho, o petróleo deixou de ser visualizado em cinco meses, mas a degradação ocorre mais rapidamente em laboratório do que no ambiente natural, porque eu forneci nutrientes e oxigênio, que aumentam o metabolismo das bactérias. Em condições naturais existem relatos de que a recuperação ocorre aproximadamente cinco anos depois do derramamento em um manguezal, mas isto varia muito. Depende do tipo de ambiente e também da quantidade de petróleo derramada – explica.

Rita WetlerTonini também avaliou a diversidade de espécies de bactérias presentes nas amostras antes e depois da contaminação. A análise foi feita nos prazos de sete, 14, 21, 28, 60, 90, 120 e 150 dias após a inserção do óleo.  Os resultados demonstraram que antes da incubação com petróleo as amostras de Gargaú apresentaram maior diversidade bacteriana do que as da Baía de Guanabara (Gargaú ainda não foi atingido por derrames, ao contrário da Baía). Após sete dias de experimento, três das quatro amostras apresentaram redução da diversidade de espécies de bactérias, enquanto uma mostrou aumento.

No final da incubação, as amostras voltaram a apresentar índices de diversidade próximos dos iniciais. Porém muitas das espécies presentes eram diferentes daquelas encontradas antes do contato com o petróleo. Ao longo do experimento, todas as amostras apresentaram mudanças sucessivas nas espécies de bactéria, indicando que o poluente causou a morte de algumas espécies e estimulou o crescimento de outras. Além disso, os resultados sugerem que seja necessário um trabalho em conjunto por parte das bactérias para que a degradação ocorra.

- Os fatores ambientais são determinantes para o crescimento bacteriano na presença de petróleo - afirma a pesquisadora.

Rafaella Dutra / Gustavo Smiderle

sexta-feira, 2 de março de 2012

Pesquisas buscam recuperar movimentos de vítimas de derrame


Uma das maiores causas de morte em todo o mundo, o Acidente Vascular Encefálico (AVE) (ou Acidente Vascular Cerebral – AVC) — vulgarmente conhecido por “derrame” — é também o principal fator de incapacitação entre indivíduos adultos. É provocado pela interrupção do fluxo sanguíneo em alguma região do encéfalo, o que ocasiona uma lesão no tecido encefálico. O AVE isquêmico normalmente deixa suas vítimas com um dos lados do corpo enfraquecido ou paralisado, passando a depender de terceiros para a realização de atividades básicas da vida diária.

Pesquisadores da UENF vêm tentando contribuir para o tratamento dos indivíduos acometidos por AVE, através de estudos com o uso da terapia celular em um modelo animal da doença. A mestranda Maria de Fátima dos Santos Sampaio, do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia, avaliou o efeito do tratamento com as células mononucleares de medula óssea (MNMOs) em ratos submetidos à lesão isquêmica do córtex cerebral. Os resultados mostram que estas células são capazes de induzir a recuperação de movimentos menos refinados da pata dianteira dos animais.

— No entanto, as MNMOs não se mostrou capaz de fazer o mesmo no que se refere aos movimentos mais complexos e que envolvem destreza, como segurar e conduzir objetos. Isto sugere que estas células podem apresentar limitações ao nível de recuperação promovida aos pacientes, podendo agir sobre certas vias sensorimotoras e não em outras — diz Maria de Fátima, que teve a orientação do professor Arthur Giraldi Guimarães.

Segundo a pesquisadora, os resultados não esgotam a questão, sendo necessários mais estudos para analisar se em outros modelos da doença a terapia com as MNMOs ou outros tipos celulares pode ser efetiva na recuperação de movimentos de destreza. Ela observa que as MNMOs possuem algumas vantagens, como a facilidade de obtenção, podendo ser isoladas e transplantadas no paciente num período curto de tempo (horas), e apresentam um menor custo em relação a outras terapias com células-tronco. Além disso, sua segurança e eficácia vêm sendo demonstradas em estudos sobre outras doenças. Pesquisas mostraram, por exemplo, importantes melhorias na função cardíaca e reparo do miocárdio lesado.

— As MNNOs são constituídas por alguns tipos celulares, como células progenitoras hematopoiéticas e células-tronco, sendo que todos podem ter sua contribuição na recuperação. Células-tronco são células indiferenciadas que apresentam a capacidade de se autorrenovarem e de dar origem a células diferenciadas (especializadas), que compõem os tecidos e órgãos do corpo. Elas podem ser obtidas do embrião, do feto e do indivíduo adulto — explica.

Ela observa que, ao contrário da ideia de que a terapia possa estar regenerando neurônios perdidos, na verdade o principal mecanismo de ação das MNMOs é a liberação de diversos fatores tróficos e neuroprotetores, reduzindo assim o número de neurônios perdidos, além de estimular a regeneração e a reestruturação das conexões nervosas.

Dentre os principais fatores de risco para o AVE estão a hipertensão, a obesidade e o tabagismo. Como é de grande ocorrência, a doença provoca altos gastos para o sistema de saúde. Segundo projeções do Ministério da Saúde, até 2015 deverão ocorrer cerca de seis milhões de óbitos no país em decorrência de AVE. Além disso, considerando que, de todos os casos, cerca de 30% dos pacientes vem a óbito e que cerca de 50% apresentam sequelas permanentes, pode-se imaginar o tamanho do impacto socioeconômico desta doença.

— Nosso objetivo é contribuir, de alguma forma, para que os indivíduos acometidos por AVE possam ter maior qualidade de vida. Que possam, por exemplo, executar funções comuns do dia a dia, mas para as quais eles dependem da ajuda de outras pessoas, como por exemplo, pentear os cabelos e escovar os dentes — diz Maria de Fátima.

Éder Souza
Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 1 de março de 2012

Herbário UENF reúne amostras de plantas da região

Bolsistas trabalhando na montagem do acervo do Herbário 
Quem quiser conhecer mais sobre as diversas espécies de plantas existentes no Norte Fluminense deve fazer uma visita ao Herbário da Uenf, situado no 2º andar do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB). Criado há cerca de sete anos, o Herbário UENF é o único acervo botânico-científico do Norte/Noroeste Fluminense, constituindo-se num valioso banco de informações sobre a flora local.

— Seu valor científico é inestimável, podendo servir de base para qualquer trabalho na área de botânica, ecologia vegetal e agroecologia. É formado por coleções oriundas das diferentes fisionomias ocorrentes no diversificado e quase desconhecido mosaico que é a região — diz o coordenador do Herbário, professor Marcelo Trindade do Nascimento, que atua no Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF.

Ao pé da letra, herbário significa coleção organizada de plantas dessecadas. Constitui, portanto, uma maneira prática de examinar as espécies, representando um registro valioso da vida vegetal. O Herbário UENF possui catalogadas cerca de 8 mil plantas secas,  que atualmente passam por um processo de informatização e criação de um banco de dados.

Professor Marcelo Trindade
No espaço, encontram-se espécies de grande importância para a conservação da Mata Atlântica, como por exemplo a Euterpe edulis (palmito-juçara), a Caesalpinia echinata (pau brasil), Melanoxylon brauna (braúna) e a Paratecoma peroba (peroba de campos). O Herbário se divide em três coleções — exsicatas (amostras secas de plantas), xiloteca (coleção de amostras de madeira) e carpoteca (coleção de frutos).

— Como a região é carente de estudos florísticos, o Herbário UENF representa um importantíssimo banco de informações. Com isso podemos unir forças para o levantamento e conhecimento da flora do Estado do Rio de Janeiro junto à Rede Fluminense de Herbários (RFH) — afirma o professor.

Além de oferecer conhecimento prático à população, o herbário também oferece cursos durante o ano, que são abertos à comunidade. Mais informações podem ser obtidas através aqui ou através do telefone 2739-7271.

Letícia Barroso
Fúlvia D’Alessandri