sexta-feira, 30 de março de 2012

Areia contaminada

Pesquisa da UENF detecta parasitas na areia de praias e lagoas do Norte Fluminense

Lagoa de Cima
Nada mais relaxante do que pegar um solzinho matinal em frente ao mar ou a uma lagoa, mas que espécies de organismos podem estar ali à sua espera prontinhos para transmitir doenças? A médica veterinária Suzana Corrêa Wagner Barros pesquisou, em seu mestrado em Ciência Animal na UENF, amostras coletadas em praias, lagoas e comunidades ribeirinhas do Norte Fluminense. E constatou o que muitos poderiam temer: tem parasita de todo tipo nestes locais.

As coletas, visando a um levantamento qualitativo (presença x ausência), foram feitas em cinco praias da região: Atafona, Pontal de Atafona e Grussaí, em São João da Barra (RJ); Farol de São Thomé, em Campos dos Goytacazes (RJ); e Santa Clara, em São Francisco do Itabapoana (RJ). Em todas as praias estudadas foi detectada a presença de pelo menos um gênero de parasita - helmintos (vermes) ou protozoários (micro-organismos). As coletas foram feitas em três pontos da faixa de areia: à beira-mar, na faixa intermediária e na faixa acima. A proporção geral de amostras contaminadas foi de 20% no Pontal de Atafona, 12% no Farol, 8,9% em Santa Clara, 5,4% em Grussaí e 5% em Atafona.

Entre as amostras contaminadas, destaque para a presença de ovos de ascarídeos (Ascaris sp, o gênero da popular lombriga e de outras espécies), verificada em todos os casos problemáticos de Atafona, três quartos das amostras contaminadas de Santa Clara e dois terços das amostras com positividade do Farol. Também foram detectados Ancilostomídeos (Ancylostoma sp, em ovos e larvas) e Toxocara sp. Nas praias, as coletas foram feitas de janeiro a abril de 2010.

— Foram encontradas fases larvares destes parasitos não só nas areias de praias aqui estudadas, mas também em beiras de lagoas e rios, oferecendo à população potenciais riscos de contrair zoonoses como Larva Migrans Cutânea (LMC) e/ou Larva Migrans Visceral (LMV), tanto pela presença de ovos quanto de larvas — explica Maria Angélica, orientadora do estudo. Para a pesquisadora, a solução passa pela melhoria no saneamento básico das regiões estudadas e por campanhas de posse responsável de cães mediante coleta das fezes com sacos plásticos.

Lagoas e áreas ribeirinhas – Nas lagoas, as coletas ocorreram de maio a agosto de 2010 nos seguintes pontos: Lagamar (Farol de São Thomé), Lagoa de Cima (Ibitioca), Lagoa do Vigário (área urbana de Guarus) e Lagoa de Grussaí. Todas apresentaram positividade para algum gênero de parasita. Formas parasitárias de Ancylostoma sp, por exemplo, estão presentes em todas as lagoas investigadas.

A hoje mestre Suzana Corrêa Wagner Barros coletou ainda amostras às margens dos rios Ururaí, na localidade do mesmo nome, e Paraíba do Sul, na comunidade do Matadouro. Em ambos os locais, pesquisados de setembro a novembro de 2010, foram encontradas amostras contaminadas com helmintos.

— Muito se fala em contaminação bacteriana por coliformes na água, esquecendo-se que a condição das areias também deve ser analisada para a liberação das praias num patamar que não ofereça riscos à população em lazer — conclui Maria Angélica.

Gustavo Smiderle

4 comentários:

  1. Mesmo que todo o esgoto de Campos e região seja tratado, vai levar bastante tempo para minimizar a presença dos microorganismos citados, em função dos séculos de descaso com o saneamento e dos animais domésticos que "passeiam" pelas orlas deixando os seus dejetos por lá.

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  2. Bacana esse trabalho do pessoal da veterinária.

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  3. Este tipo de pesquisa deveria ser levada às autoridades responsáveis pela Secretaria de Obras, Saneamento, Águas do Paraíba...enfim, para que se "desconhecem" as características de suas secretarias, passem a realizar ações mais específicas. Afinal nosso município recebe quase 2 bi de royalties e é uma vergonha os responsáveis por administrá-lo não conhecerem isto.
    Parabéns aluna e professora!

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  4. Agradeço os Comentarios
    Parabenizo a Mestre Suzana Correa Wagner Barros ( medvet) por ter tido persistencia pois o trabalho ficou ótimo.
    E levaremos sim os
    resultados às autoridades competentes municipais. Pq a pesquisa deve unir a cientificidade às necessidades da população.
    Profa Maria Angélica da Costa Pereira
    Setor de Parasitologia/LSA-HV/CCTA

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