sexta-feira, 29 de junho de 2012

Manguezal sofre impactos ambientais


Pesquisa da UENF aponta baixo desenvolvimento estrutural no manguezal localizado no estuário do rio São João

Embora sejam protegidos por lei, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados, devido à proximidade com áreas urbanas. O manguezal do estuário do Rio São João, entre Casimiro de Abreu e Cabo Frio (RJ), não foge à regra. Lançamentos de esgoto, aterros, desmatamento para introdução de pastagens e derramamento de óleo de barcos são alguns dos problemas que atingem o ecossistema, que foi alvo da pesquisa de mestrado da bióloga Gabriela Calegário pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UENF, defendida em março.

Orientada pela pesquisadora Elaine Bernini e coorientada pelo professor Marcos Sarmet Moreira de Barros Salomão, ambos do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, a pesquisa teve por objetivo caracterizar a estrutura das florestas de mangue do estuário do rio São João, com o propósito de gerar bases para o seu manejo e conservação, assim como mecanismos para restauração de suas áreas degradadas.

— O manguezal do estuário do rio São João apresenta problemas semelhantes aos registrados em outras áreas de mangue no Estado do Rio, mas exibe melhor estado de conservação em relação aos manguezais do Norte Fluminense, como os dos rios Macaé, das Ostras e Guaxindiba — diz Gabriela.

Intitulada ‘Aspectos estruturais da vegetação do manguezal do Estuário do Rio São João, RJ”, a pesquisa registrou a ocorrência das seguintes espécies vegetais: Avicennia schaueriana Leechm ex Stapf e Moldenke, Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. f. e Rhizophora mangle. Além dessas, também foi observada a presença das espécies associadas Acrostichum aureum e Hibiscus pernambucensis.
Gabriela durante a pesquisa no manguezal

— De uma maneira geral, o manguezal apresentou baixo desenvolvimento estrutural. A floresta do estuário superior apresentou melhor desenvolvimento estrutural em relação à floresta do estuário inferior, em termos de altura e área basal. Isso ocorre provavelmente devido aos menores valores de salinidade, já que a parte superior está mais afastada do mar — explica.

A pesquisa confirmou a hipótese de que está ocorrendo no manguezal o fenômeno chamado 'zonação' — variação das espécies ao longo do estuário, devido às mudanças nas condições ambientais.  Segundo Gabriela, no estuário superior a maior densidade foi para a L. racemosa, enquanto no estuário inferior foi para a R. mangle.

— Apesar de estar protegida, a bacia do rio São João vem sofrendo impactos devido à ocupação humana e a superexploração dos recursos naturais. Às margens do rio é possível observar construções onde antes havia florestas de mangue. Além disso, por trás das faixas remanescentes de manguezal, as florestas foram desmatadas para dar lugar a pastagens de fazendas — diz a pesquisadora.

Segundo Gabriela, o estudo pode ajudar na elaboração de um plano de gerenciamento do manguezal, bem como auxiliar no seu manejo. Ela lembra que atualmente existe a iniciativa de criação da Reserva Extrativista da Foz do Rio São João, que se encontra em estágio avançado para implementação.

Saiba mais acessando o trabalho de Gabriela aqui.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sobre as estrelas


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


As estrelas foram e são importantes por vários motivos. Inicialmente, foram elas que deram origem a todos os elementos que conhecemos e, de certa forma, também a nós.

Vale ressaltar que somos formados por moléculas e que estas moléculas são formadas por átomos, que foram originados nas estrelas. Das estrelas até a nossa complexa formação molecular foi um longo caminho.

A nossa estrela, o Sol
Existem estrelas jovens, estrelas adultas e velhas. A diferença entre elas está nas temperaturas que apresentam e na quantidade de hidrogênio transformado em hélio.

Sobre o Sol, que é a estrela do nosso Sistema Solar, nosso velho conhecido, sabemos que ainda se encontra na fase adulta. 

Foi formado há cinco bilhões de anos e ainda terá mais cinco bilhões de anos pela frente.  É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, pensava-se que as estrelas eram eternas.

O tamanho do Sol lhe conferiu estabilidade para que, emitindo praticamente a mesma energia desde sua formação, propiciasse a existência de vida em nosso planeta.Esses fatores, claro, foram associados ao fato de a Terra se encontrar na zona habitável do Sistema Solar.

No céu, se observarmos bem, veremos que existem estrelas vermelhas, azuis, amarelas. As cores estão relacionadas à temperatura de cada estrela. Existe uma faixa de temperatura que apresenta a mesma cor superficial. A  cor laranja determina uma temperatura de 6.000K , a azul, 50.000K, a branca, 10.000K e a vermelha, 2.000K.

Logo, as vermelhas são as estrelas de menor temperatura. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, as estrelas azuis possuem temperaturas muito maiores. Porém, existem estrelas de temperatura ainda menores que as vermelhas — as anãs marrons.

O meio interestelar não é vazio, contendo gás e poeira. Grande parte do gás é hidrogênio, e a poeira é formada por grafite, silicatos e gelo de água.

O gás e a poeira podem se encontrar difusos ou na forma de nuvens, chamadas nebulosas. Seu tamanho pode chegar a dezenas de anos-luz. Suas massas podem ser de milhares de vezes a massa do Sol. Serão estas nuvens que darão origem às estrelas.

Haverá possibilidade de formação de uma estrela num local da nebulosa onde houver maior concentração de gases. A força gravitacional, então, será gigantesca e, dependendo da massa de gás, poderá ser iniciada ou não a queima do hidrogênio.
SDO (Solar Dinamics Observatory)

Quando a massa é grande, a formação da estrela acontece, pois o aumento de temperatura do gás irá gerar grande emissão de energia. Porém, se a massa não for suficiente, a contração do gás dará origem a uma anã marrom — astro que emite muito pouca energia.

A partir daí, seu futuro dependerá também de sua massa. Quanto menor for a massa, mais viverá a estrela em condições normais. A massa do nosso Sol, por exemplo, foi determinante para que a vida na Terra pudesse surgir e evoluir.

Para observação do Sol, a Nasa, Agência Espacial Norte-Americana, utiliza o Solar Dinamics Observatory, que tem por missão avaliar todos os fenômenos que ocorrem na estrela e seu impacto na Terra.

Sugestão de Leitura: O Fascínio do Universo
Augusto Daminelli e João Steiner
http://www.astro.iag.usp.br/fascinio.pdf

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ciência para futuros professores

Universidade de Coimbra: pesquisa e disciplinas
Sete estudantes do curso de Licenciatura em Física da UENF vão passar dois anos na Universidade de Coimbra, em Portugal, participando de grupos de investigação e cursando disciplinas. É o que prevê o projeto ‘Intercâmbio de Saberes na Formação de Professores para Educação Básica', coordenado pela professora Marília Paixão Linhares, que acaba de ser aprovado pela Capes/Ministério da Educação. 


A iniciativa se insere no esforço de internacionalização da UENF, que enviou recentemente seus primeiros alunos de graduação para intercâmbios no exterior ao amparo do programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal.


Segundo o edital da Capes, a UENF é responsável pela seleção dos candidatos às bolsas, necessariamente ingressantes em 2011. Eles devem ter cursado todo o ensino médio e pelo menos dois anos do fundamental em escolas públicas brasileiras. Alunos de escolas particulares com bolsa integral por motivo de baixa renda familiar também são admitidos. A lista dos pré-selecionados pela UENF, baseada nos coeficientes de rendimento (CR), está sob análise da Capes. Ao final da formação, os estudantes receberão dupla diplomação (UENF/Universidade de Coimbra)

Consulte a lista dos projetos contemplados.


Integração - Numa primeira etapa, os alunos serão acompanhados pela coordenadora do curso na UENF, Marília Paixão Linhares, e pelo professor Roberto Franco. Ambos compõem a equipe do projeto ao lado do também professor André Guimarães. Durante o período de intercâmbio, os docentes farão duas visitas aos alunos para facilitar a sua integração à nova cultura universitária, ajustar as estruturas curriculares e avaliar os impactos do projeto. Também é de responsabilidade da equipe manter a comunicação entre as duas instituições e sistematizar informações para a criação de banco de dados.


O vice-reitor e responsável pela área de internacionalização da UENF, Edson Corrêa da Silva, elogiou o empenho dos responsáveis pelo projeto.


- Com isso, mais os ótimos resultados das avaliações internacionais, podemos ampliar muito nossas oportunidades. Vai ser muito bom para os estudantes da UENF!


Ao todo, o edital da Capes contemplou 64 projetos de melhoria do ensino e da qualidade na formação inicial de professores em diversas áreas. O Programa Licenciaturas Internacionais (PLI) envolve intercâmbios com 11 universidades portuguesas: Universidade Nova de Lisboa, Universidade da Beira Interior, Universidade do Algarve, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra, Universidade de Évora, Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, Universidade do Porto, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade Trás-os-Montes.


Rebeca Picanço
Gustavo Smiderle

terça-feira, 19 de junho de 2012

Organização produtiva e desenvolvimento

Será que um bom nível de organização entre os produtores rurais pode efetivamente redundar em maior desenvolvimento econômico? Uma pesquisa feita pela UENF está mostrando que sim, pelo menos para os produtores de café da microrregião Sudoeste Serrana, no Espírito Santo. Intitulada “O perfil da organização produtiva nas regiões Serrana e Caparaó do Espírito Santo: uma abordagem Neo-Marshalliana”, a pesquisa embasou a dissertação de mestrado de Lucas Louzada pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UENF, defendida em março.

Na pesquisa, Lucas investiga o perfil da organização produtiva dos cafeicultores nas microrregiões Sudoeste Serrana e Caparaó, no Espírito Santo — principais regiões produtoras do café arábica, acumulando 75% da produção total do Estado. Na primeira, foram investigados os municípios de Domingo Martins, Venda Nova do Imigrante e Vargem Alta, onde se concentram muitos imigrantes e seus descendentes, provenientes da Itália, Alemanha e outros países europeus.

Já no Caparaó foram estudados os municípios de Alegre, Ibitirama e Iúna. Alegre já foi o coração da cafeicultura no Estado, mas hoje corre risco de esgotamento econômico da atividade. Ibitirama e Iúna continuam mantendo sua base econômica a partir da cafeicultura.

— Os resultados preliminares indicam que a microrregião Sudoeste Serrana tem conseguido obter maior desenvolvimento econômico que o território da microrregião do Caparaó em função de uma melhor organização produtiva — explica Lucas, que teve a orientação do professor Alcimar das Chagas Ribeiro, do Laboratório de Engenharia de produção (LEPROD) da UENF.

Em seu estudo, Lucas tomou por base a teoria proposta pelo economista inglês Alfred Marshall (1842-1924). Aspectos clássicos da teoria neo-marshalliana foram encontrados na microrregião Sudoeste Serrana, tais como: cooperação, senso de pertencimento à unidade de produção, flexibilidade produtiva e participação na tomada de decisões do território.

Lucas Louzada
Segundo Lucas, a economia local da microrregião Sudoeste Serrana é mais diversificada e flexibilizada que a da microrregião do Caparaó. As ações organizacionais em torno da promoção econômica na microrregião estão, segundo ele, em um nível mais elevado em termos de estágio que a microrregião do Caparaó. Além disso, foi possível perceber a atuação local dos governos em prol do território.

— Na microrregião do Caparaó, essas ações foram encontradas, porém em um nível mais baixo que na microrregião Sudoeste Serrana. A região se mostrou desfavorecida, houve grande ruído e reclamação por parte dos produtores e personalidades públicas. Várias vezes os produtores descreveram que existe muito descaso por parte dos governantes em promover ações que possam elevar os valores econômicos da microrregião do Caparaó. Porém foi observado que alguns atores vêm buscando formas de promover a elevação econômica do território em prol de ações coletivas, visando à promoção desta microrregião — afirma.

Se você quiser saber mais sobre a pesquisa, veja a dissertação completa aqui.

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Jornada Fluminense de Botânica


Em sua 31ª edição, a Jornada Fluminense de Botânica acontece este ano no município de Rio das Ostras. O evento será no Centro de Convenções do Vilarejo Praia Hotel entre os dias 20 e 23 de setembro. Dessa vez, o tema geral será 'Riqueza, diversidade e conservação do componente vegetal dos ecossistemas fluminenses'

A Jornada, que vem sendo realizada desde 1931, tem como objetivo principal discutir temas atuais em botânica através de palestras, mesas redondas e apresentação de trabalhos científicos, além de organizar excursões em áreas verdes do Estado Rio de Janeiro, bem como contribuir para a formação de recursos humanos com a realização de minicursos abertos a comunidade.

— Esse ano, uma nova proposta de unir forças com várias instituições de ensino que envolvem botânica — como UENF, Uerj, JBRJ, UFRRJ, UGF e PUC — está sendo avaliada. Tal união fará com que as instituições tenham uma visão integrada de Ensino-Pesquisa-Extensão, um dos pilares para promover a integração e interdisciplinaridade das pesquisas em botânica brasileiras. Outra novidade de 2012 é que a XXXI Jornada Fluminense de Botânica será cenário para parte das comemorações do centenário de nascimento da dra. Graziela Maciel Barroso, a primeira dama da Botânica e primeira mulher a fazer um curso de graduação nesta área no Brasil — diz a professora Maura da Cunha, que participa da comissão organizadora do evento.

A Comissão organizadora também escolheu uma espécie que leva o nome de Graziela como Planta Símbolo do evento: Tillandsia grazielae Sucre & Braga, da família Bromeliaceae, que se encontra ameaçada de extinção. 

Mais informações no site do evento.

Letícia Barroso

XII Mostra de Pós-Graduação da UENF


A UENF realiza de 15 a 18/10/12 a sua XII Mostra de Pós-Graduação, cujo tema será 'Economia verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza'. Este ano, a novidade é a possibilidade de apresentar trabalhos de forma oral. O aluno poderá optar, na ficha de inscrição, pela forma de apresentação preferível. 

Após o período de  inscrição, os resumos serão enviados às coordenações de Programas para que seja feita a seleção dos trabalhos que serão apresentados na forma oral.

A inscrição deve ser realizada por meio do envio da ficha cadastral do resumo, já
disponível no site da UENF, até o dia 13 de julho para o e-mail
xiimostrapos.uenf@yahoo.com.br.

A participação no evento, com apresentação de trabalho, é obrigatória para bolsistas de pós-graduação que estejam cursando a partir do 2º ano do mestrado e do 3º ano de doutorado. Entretanto, a UENF incentiva a participação de todos seus alunos de pós-graduação no evento.

quarta-feira, 13 de junho de 2012



Nosso Sistema Solar: Os planetas rochosos


Adriana Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


Terra
A Astronomia sem dúvida expande nossos conhecimentos, fazendo-nos refletir sobre nossas vidas — por isso vale a pena conhecê-la. Sobre nosso Sistema Solar, podemos dizer que é formado por uma estrela, oito planetas, mais de 150 satélites naturais, cinco planetas anões, cometas e asteroides.

Neste primeiro de dois artigos no qual abordarei o tema Sistema Solar, falaremos sobre os planetas rochosos ou, se quiserem,  planetas terrestres ou telúricos, dadas as suas semelhanças com a Terra.

O planeta Mercúrio é o mais próximo do Sol e sua superfície é muito parecida com a do nosso satélite natural, a Lua — cheia de crateras. A formação destas crateras vem ocorrendo desde o início da formação do Sistema Solar, quando todos os planetas eram bombardeados constantemente por corpos menores. Mercúrio não tem atmosfera e o dia lá é quase tão longo quanto o ano, já que seu período de translação em torno do Sol é de 88 dias e seu período de rotação em torno do seu eixo é de 59 dias.

Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, Mercúrio, apesar de estar mais próximo do Sol, não apresenta a maior temperatura do Sistema Solar. Vênus é o mais quente. Este planeta é o segundo a partir do Sol e o que apresenta as maiores temperaturas. Este astro sofreu um processo chamado efeito estufa, que, aliás, o nosso planeta é sério candidato a apresentar, mas sobre isso falaremos em outro artigo.

Logo chegamos a uma conclusão importante: não é só a distância que influencia na temperatura do planeta, mas também a sua atmosfera. A de Vênus, por exemplo, passa por um processo que faz com que ele apresente temperaturas de mais de 470ºC. O interessante é  que este planeta tem rotação no sentido oposto aos outros planetas. Acredita-se então que no passado tenha sofrido uma grande colisão com algum corpo, como um asteroide, por exemplo. Outro fato importante é que sua superfície foi toda mapeada por radar, revelando dezenas de vulcões extintos.

Divulgando astronomia no ensino fundamental, infelizmente pude constatar que os professores muitas vezes passam informações incorretas para os alunos, afirmando muitas vezes que Mercúrio apresenta a maior temperatura. Já houve até o caso de afirmarem que Marte apresentava maior temperatura devido a sua cor, vermelho. Sem dúvida, sem querer entrar em detalhes sobre o assunto, a formação do professor do ensino fundamental deveria ser revista de forma mais séria pelo governo, afinal de contas são eles os responsáveis pela educação das crianças e, portanto, pelo futuro do nosso país.

Marte
A Terra é um planeta rochoso, como Mercúrio e Vênus. Em relação ao volume, Vênus tem quase o mesmo que a Terra. Nosso planeta é o primeiro a apresentar satélite natural. Os dois primeiros não possuem.  Aliás são os únicos que não possuem. Entre os planetas rochosos — que são os quatro primeiros (mais próximos do Sol): Mercúrio, Vênus, Terra e Marte — somente os dois últimos possuem satélites naturais.

Marte é o quarto planeta a partir do Sol e o que mais recebe visitas de sondas espaciais, sendo alvo de grande curiosidade. É chamado de planeta vermelho devido à cor que apresenta. Isto ocorre devido ao óxido de ferro presente em sua superfície. Possui duas luas: Deimos e Fobos, que foram descobertas no final do século XIX por Piazzi.

As sondas que visitaram Marte estavam à procura de água, porém até agora ela só foi encontrada no estado sólido. Após o planeta Marte, temos o cinturão de asteroides e os planetas gasosos, os quais serão abordados num próximo artigo. Até lá!

Sugestão de sites:
Site do livro Astronomia e Astronáutica do professor Kepler de Souza Oliveira Filho

Debate sobre o ciberbullying


Tema foi tratado por professor da UENF durante II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica

Violência praticada entre crianças e adolescentes na escola, o bullying vem crescendo nos últimos anos no Brasil e é tema de discussão entre muitos estudiosos do país e do mundo. Mas se a prática em ambiente escolar já é fator preocupante, o que dizer quando a agressão se dá em ambiente virtual? O ciberbullying foi uma das questões abordadas no II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica que aconteceu na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina entre os dias 28 de maio e 1° de junho.

O coordenador do mestrado em Cognição e Linguagem da UENF, Carlos Henrique Medeiros de Souza, esteve presente no fórum e apresentou o artigo que aborda a questão da potencialização do bullying na escola através dos ambientes virtuais.

O professor aponta que a velocidade com que são passadas as informações nos meios virtuais faz com que o assédio se abra a mais pessoas e invada o âmbito de privacidade e segurança da vítima, levando a violência para além do espaço escolar. O praticante de cyberbullying ainda tem a possibilidade de esconder sua identidade, vendo no anonimato a segurança para praticar a agressão sem medo de ser reprimido.

Além do professor Carlos Henrique, também estiveram presentes ao Fórum a professora Rosalee Crespo Istoé e oito alunos do mestrado em Cognição e Linguagem, que apresentaram seus trabalhos de pesquisa.

Se você quiser mais sobre o assunto leia o artigo do professor Carlos Henrique Medeiros de Souza.

Leia reportagem sobre o Fórum aqui.

Rebeca Picanço

terça-feira, 12 de junho de 2012

‘Uso seguro de agrotóxicos é um mito’


Para o geógrafo Marcos Pedlowski, professor do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico (LEEA) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF, “a única forma segura de se lidar com os agrotóxicos é parar de usá-los”. Estudioso do assunto, Pedlowski considera ‘um mito’ a ideia de que há um uso seguro destes produtos. “Creio que a transição para um modelo agrícola pós-Revolução Verde é um dos grandes desafios que a Humanidade deverá enfrentar ao longo do século XXI”, afirma. Graduado e mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com doutorado em Environmental Design And Planning pela Virginia Polytechnic Institute and State University, ele concedeu a seguinte entrevista ao Blog Ciência UENF — que dá continuidade à reportagem Agrotóxicos trazem risco ao produtor, publicada em 11/06/12.

Ciência UENF - O uso de agrotóxicos na região é feito dentro das normas? Há fiscalização?
 
Marcos -  Na minha experiência de quase uma década em diversos assentamentos de reforma agrária no norte fluminense, a resposta, no que tange aos agricultores familiares, é que a prática não segue as normas existentes para tentar assegurar um uso minimamente seguro deste tipo de substâncias.  E também, no caso dos agricultores familiares, nunca tive a oportunidade de ouvir ou ver qualquer ação de fiscalização tanto na venda como na utilização destas substâncias. O fato é que, na maioria dos casos, são as próprias lojas agropecuárias que tentam oferecer, mesmo que precariamente, qualquer tipo de orientação. E isso é especialmente preocupante no que tange ao processo de contaminação ambiental e humana que está ocorrendo em nossa região, se considerarmos que por décadas tem existido a utilização de milhões de litros de agrotóxicos nos monocultivos de cana e, mais recentemente, de eucalipto. Em outras palavras, o que está surgindo agora em termos de evidências acerca dos usos e práticas por pequenos agricultores é apenas a ponta de um gigantesco iceberg de contaminação associado ao uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos na agricultura brasileira.

Ciência UENF -  Os agricultores sabem dos riscos que esses produtos oferecem à saúde?

Marcos - Eu diria que a maioria sabe, ainda que não haja um entendimento claro do que significa relaxar as normas de segurança que deveriam estar sendo seguidas na preparação, utilização e descarte de agrotóxicos. O problema é que, frente à necessidade de produzir para gerar renda e seguir as poucas orientações que recebem, os agricultores adotam uma postura pragmática de optar pela geração de renda. Esse é o problema de se lidar com um conjunto de substâncias cujos impactos na saúde se dão de forma crônica. Se o uso resultasse logo em sintomas agudos, a tendência ao pragmatismo cairia exponenciamente. A relação da exposição crônica/aguda dificulta a conscientização dos agricultores, já que muitas doenças só aparecem após um longo período de exposição, o que faz com que muitos impactos só ocorram após uma exposição prolongada, isto é, crônica. Isto também impede que muitas doenças que resultam de um caráter ocupacional sejam diretamente associadas ao contato e uso de agrotóxicos, inclusive diferentes tipos de câncer. Além disso, é preciso dizer que as pesquisas que temos realizado indicaram a presença de substâncias banidas na União Europeia, Estados Unidos e até na China. Isto significa dizer que muito provavelmente temos aqui um alto nível de contaminação entre agricultores e trabalhadores rurais que trabalhem diretamente com estas substâncias. Neste momento estamos inclusive iniciando um estudo do qual participarão estudantes da Faculdade de Medicina de Campos, no qual tentaremos verificar se já existem sinais físicos de alterações na saúde dos agricultores. Caso consigamos estabelecer vínculos inequívocos entre exposição a agrotóxicos e doenças, creio que poderemos também evoluir no processo pedagógico junto a esses agricultores.


Ciência UENF - Existe algum trabalho de conscientização dos agricultores quanto ao uso e risco dos agrotóxicos?

Marcos - A verdade é que não há nada consistente ou, tampouco, à altura do problema que estamos enfrentando, fruto do uso intenso de agrotóxicos.  A partir da minha experiência de campo, e de pelo menos duas monografias de graduação orientadas no curso de Ciências Sociais, posso afirmar que a instrução ocorre parcialmente nas lojas agropecuárias e depois se propaga dentro das comunidades a partir de canais informais construídos pelos próprios agricultores. E, dadas as crescentes evidências científicas de que estamos enfrentando um grave processo de contaminação ambiental e dos trabalhadores envolvidos no uso destas substâncias e que pode, inclusive, estar contaminando as pessoas que se alimentam da produção gerada a partir deste tipo de tecnologia, penso que é urgente que se reverta imediatamente esse quadro. E isso, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, exige que haja um reforço de pessoal e da infraestrutura tanto da Emater como da Pesagro. Da forma em que estes dois órgãos ligados à extensão e pesquisa agropecuária foram deixados, seus técnicos pouco ou nada podem fazer para instruir e redirecionar as práticas e costumes que estão vigindo neste momento.

Ciência UENF - Como fazer com que os pequenos agricultores utilizem os agrotóxicos de forma segura?

Marcos – Na minha opinião, existe um mito de que há um uso seguro possível para os agrotóxicos. A minha posição e de muitos outros pesquisadores que estudam esta problemática é de que a única forma segura de se lidar com os agrotóxicos é parar de usá-los. Neste sentido, cresce a importância da expansão dos cursos de agroecologia, visto que, a partir deste tipo de paradigma é que poderemos retornar a uma forma mais equilibrada de produzir alimentos que sejam fontes de vida e não de morte. E isto vai exigir que as universidades públicas, a UENF inclusive, passem a estudar de forma mais profunda como modificar os currículos de cursos que tenham uma interface direta com a produção agropecuária.  O bom nisso é que na UENF já estamos vendo o interesse pela agroecologia crescendo entre estudantes e professores. Creio que a transição para um modelo agrícola pós-Revolução Verde é um dos grandes desafios que a Humanidade deverá enfrentar ao longo do Século XXI. E, quanto mais cedo começarmos a ultrapassar o atual paradigma baseado nos agrotóxicos e nos organismos geneticamente modificados, melhor será.


Rebeca Picanço
Fúlvia D’Alessandri

sábado, 9 de junho de 2012

Agrotóxicos trazem risco ao produtor


Falta de conscientização faz com que alguns produtores utilizem embalagens vazias até para transportar água e alimentos

Por falta de conscientização dos agricultores, recipientes vazios de agrotóxicos nem sempre têm o destino que a lei determina: retornar à loja onde foram vendidos para ser descartados dentro das normas. Segundo o agrônomo Silvaldo Felipe da Silveira, que coordena a Clínica Fitossanitária da UENF, não é difícil encontrar recipientes sendo utilizados para outros fins, trazendo riscos ao ambiente e à saúde do agricultor.

- Como não há fiscalização, é possível que resíduos sejam despejados no solo ou em cursos d’água. Alguns até utilizam as embalagens vazias para transportar água e alimentos, o que é proibido e muito perigoso – afirma.

Segundo reportagem publicada no Jornal O Globo, o município de Campos está entre os que apresentam mais problemas de contaminação por agrotóxicos, bem como problemas de saúde decorrentes do uso inadequado destes produtos.

Silvaldo observa que os órgãos responsáveis pela fiscalização não estão estruturados para o serviço. Faltam recursos e contingente para cobrir uma área tão vasta. Na prática, só as lojas tradicionais e com endereço fixo respeitam as normas, justamente por serem as mais fiscalizadas. Algumas chegaram a construir galpões para receber e armazenar as embalagens vazias de agrotóxicos, segundo as normas vigentes.

- No entanto, há revendedores clandestinos onde é possível burlar a lei e comprar qualquer produto sem a receita do agrônomo responsável. Por isso é muito importante a conscientização de todos os produtores rurais, técnicos e extensionistas – diz Silvaldo.

Segundo o agrônomo, os produtores mais experientes sabem dos riscos, mas muitos ignoram, como é o caso daqueles com baixo nível de instrução e pouco assistidos pelos técnicos.

- Como qualquer um pode plantar e vender alimentos vegetais, os consumidores pagam o preço e estão sujeitos aos riscos de comprar vegetais sem procedência ou sem a indicação de que foram produzidos sob assistência técnica responsável e com nível tecnológico adequado – afirma.

Ele observa que o uso de agrotóxicos pode trazer problemas ao solo, especialmente quando se trata de produtos antigos, já proibidos ou não registrados. O uso correto, segundo os preceitos técnicos e indicações de uso dos fabricantes, não deve deixar resíduos no solo por tempo prolongado.

- A totalidade dos produtos hoje legalizados no Brasil se extingue no meio ambiente, desde que sejam usados corretamente e que, após a aplicação, se faça a tríplice lavagem e devolução das embalagens vazias nos galpões credenciados – explica.

Contaminação em poços  - Pesquisas coordenadas pela professora Maria Cristina Canela, do Laboratório de Ciências Químicas (LCQUI) da UENF, apontaram a contaminação da água de poços rasos em assentamentos de Campos onde existem plantações de abacaxi. Segundo a professora, os agricultores não tinham idéia da contaminação.

- Ao saberem dos resultados da pesquisa, eles ficaram preocupados.  Houve uma família que inclusive mudou o local da fossa séptica depois que levamos o resultado dizendo que a água estava contaminada por coliformes – conta.

Segundo Cristina, a cada coleta realizada o resultado é levado para a família, que é instruída sobre os cuidados com a água para que ela seja apropriada para o uso doméstico. O mais difícil, segundo ela, é convencer aqueles que fazem a aplicação dos agrotóxicos a terem mais cuidado.

- Muitas vezes eles sabem dos perigos, porém, como o efeito é crônico e os problemas demoram a aparecer, continuam tomando poucos cuidados – observa.

A pesquisa ainda está em andamento e não pretende se limitar ao estudo das águas. No momento, os pesquisadores monitoram o ar que estes agricultores respiram durante a aplicação e em suas casas.

- Assim que possamos ter algum resultado da atmosfera, também vamos tentar convencer os agricultores a utilizar máscaras e se equipar melhor com roupas apropriadas para a aplicação – afirma.

Fúlvia D'Alessandri
Rebeca Picanço

quarta-feira, 6 de junho de 2012

'Novo Código Florestal traz avanços para o país'


A opinião é do ecólogo Marcelo Trindade Nascimento, do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF

Apesar de não ter saído como queriam os ambientalistas, o novo Código Florestal não deixa de ser um avanço para o país. A opinião é do ecólogo Marcelo Trindade Nascimento, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, que chama a atenção para o fato de a nova legislação exigir a restauração de áreas degradadas de APPs  “em uma escala nunca antes vista”.

— Após os vetos da presidente Dilma e a nova MP publicada no dia 29, corrigindo alguns problemas sérios nas APPs (Áreas de Preservação Permanente), acho que estamos avançando sim. Afinal, o código antigo, embora sob alguns aspectos mais rigoroso, estava defasado e com alguns pontos de difícil aplicação — diz.

Segundo Marcelo, os vetos da presidente corrigem problemas sérios que constavam no texto e que gerariam vários processos na Justiça, entre outros problemas. Ele destaca a permissão para que as pequenas propriedades tenham árvores frutíferas em APPs, embora o uso de espécies exóticas tenha sido proibido. Outra mudança positiva, segundo Marcelo, foi a associação entre o tamanho da recomposição das faixas marginais de cursos d’água ao tamanho da propriedade e à largura do curso d’água.

— Em resumo, isso significa que quem tem mais área vai ter que recompor mais — afirma.

Segundo o botânico, a necessidade de restauração de áreas degradadas vai gerar uma grande demanda por mudas de espécies nativas, o que pode vir a beneficiar os pequenos e médios produtores rurais que investirem em criação de viveiros de mudas de qualidade.

— Entretanto, essa nova medida exigirá um maior apoio aos pequenos produtores por parte de instituições públicas ligadas ao setor ambiental e agropecuário. É preciso levar a eles modelos e técnicas de recuperação mais eficientes e baratas, mas que estejam norteadas pela recomposição da biodiversidade - diz.

Segundo Marcelo, os pontos negativos do Código estão principalmente nos números estabelecidos, que para algumas das atividades ainda são considerados inadequados e sem valor ecológico (como recuperação de apenas cinco a oito metros em pequenas propriedades, independentemente da largura do rio) ou excessivos. Outro ponto negativo é a  anistia ou suspensão da multa aos proprietários que desmataram até 2008, principalmente em áreas de manguezais com possibilidade de novos desmatamentos para a atividade de carcinocultura.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O aborto no Brasil: um caso de saúde pública

Marinete dos Santos Silva*

Marinete dos Santos Silva
O pensamento conservador no Brasil tem, no meu entender, uma vertente apocalíptica. Quando algo o contraria, faz previsões catastróficas. Lembro-me do ano de 1974, quando o projeto de lei que instituiu o divórcio estava sendo debatido. Os que não queriam o divórcio argumentavam que, caso a lei passasse no Congresso Nacional, a família brasileira estaria ameaçada. Seria o apocalipse: lares desfeitos, crianças com os pais separados etc. O divórcio virou lei porque o Estado precisava  regularizar a situação de milhares de filhos de pais desquitados ou separados que eram tidos como bastardos. A lei do divórcio veio para regularizar essa situação e dar às pessoas infelizes no casamento a possibilidade de recomeçar uma nova vida. Os católicos nunca admitiram o divórcio sob a alegação de que o que “Deus uniu o homem não separa”. Dessa forma, pressupõe-se que os católicos não se divorciem e continuem a levar em frente uma união infeliz e mortificante. O Estado brasileiro, que é laico desde a 1ª Constituição Republicana, datada de 1891, não se pautou pelos preceitos católicos e sancionou o divórcio deixando aos não-católicos a possibilidade de utilizá-lo em caso de necessidade.

Durante os debates sobre o divórcio, os que a ele eram contrários acamparam na porta do Congresso Nacional em vigília, fazendo previsões terríveis a respeito do que viria caso ele fosse aprovado. Essas previsões não se concretizaram, a família não acabou, os casamentos continuaram a acontecer e os divórcios também.

Nos anos 90 do século passado, foi instaurado um grande debate sobre o salário mínimo que valia menos de 100 dólares. Um senador do PT do Rio Grande do Sul, Paulo Paim, quase que diariamente subia a tribuna para falar daquilo que ele considerava uma vergonha nacional: o salário mínimo abaixo de 100 dólares. De certa feita, no auge da empolgação, rasgou um exemplar da Constituição Brasileira sob a alegação de que os seus preceitos de nada valiam, pois o salário mínimo que era pago ao trabalhador brasileiro a desrespeitava.

Os contrários ao aumento do mínimo argumentavam que, caso ele chegasse a 100 dólares, as empresas quebrariam e o país não resistiria. O tempo passou, o governo de Fernando Henrique Cardoso acabou e o que vimos no governo subsequente do presidente Lula foi o aumento do salário mínimo, que hoje gira em torno de 300 dólares. As previsões catastróficas dos que eram contra não se cumpriram. Pelo contrário, a economia do país vai bem e vemos um aumento do poder de compra das pessoas em geral. Observamos também a emergência da famosa classe C, formada, segundo o que dizem as fontes oficiais – IBGE, FGV –, por milhares de pessoas que hoje têm acesso a bens de consumo como viagens de avião, antes só acessíveis aos mais ricos.

Na primeira década do século XXI, o debate girou em torno dos homossexuais, que foram às ruas em passeatas que reuniam milhares de pessoas, reivindicando a união civil entre pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia.

Novamente os conservadores fizeram previsões catastróficas: será o fim da família, não podemos aceitar tal coisa. O Estado, mais uma vez, pautou sua ação não pela ética religiosa, cristã, mas pela sua própria lógica. Se os homossexuais – mulheres e homens – já vivem juntos independentemente de ser legal ou não a sua união, que a mesma se legalize e que os cidadãos e cidadãs que trabalham e pagam seus impostos possam regularizar a sua questão patrimonial e sucessória, assim como os benefícios dos planos de saúde e pensões. O Supremo Tribunal Federal bateu o martelo e hoje a união civil entre pessoas do mesmo sexo é uma realidade legal. E a família como vai? Essa vai muito bem, pois os gays já estão até adotando crianças e tocando suas vidas. O mundo, ao que tudo indica, não acabou.

Nos dias que correm, parece que a questão eleita pelo pensamento conservador é o aborto. O Código Penal Brasileiro, que data de 1947, prevê a possibilidade de aborto em dois casos: risco de vida para a mãe e gravidez proveniente de estupro. Embora previstos em lei, as mulheres brasileiras não podiam se beneficiar dessas possibilidades, pois as mesmas não haviam sido regulamentadas. Somente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante a gestão de José Serra à frente do Ministério da Saúde, é que houve essa regulamentação. A possibilidade de aborto em caso de feto anencéfalo só recentemente entrou na pauta das discussões, em face da decisão do STF permitindo-o. Parece, entretanto, que o pensamento conservador não gostou da decisão do Supremo e volta à carga prenunciando um novo fim do mundo.

O aborto até 12 semanas de gestação é um direito das mulheres em todos os países desenvolvidos da Europa: França, Alemanha, Noruega, Itália, Suécia, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Inglaterra, Suíça e até Portugal, considerado um país extremamente conservador. No continente americano, ele é permitido nos Estados Unidos e no Canadá. Foi um direito conquistado pelo movimento feminista, que se articulou com  vários outros setores da sociedade nos anos 60 — os chamados Anos Rebeldes — e que foi para as ruas exigindo os direitos expressos nos slogans: “trabalho igual, salário igual” e “meu corpo me pertence”. Nesse último slogan estava impresso o desejo das mulheres de controlar o próprio corpo, onde se dá a gestação.

Vale lembrar que a 4º Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada pela ONU em Pequim em 1995 e que contou com a participação do Brasil, exarou um documento final do qual o nosso país é signatário. Por ele, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são considerados direitos humanos e devem ser respeitados por todos os países que o assinaram. Não é, pois, de se estranhar que na sequência tenha sido regulamentado no Brasil o aborto em caso de estupro e de risco para a vida materna e que o STF tenha legalizado o aborto em caso de anencefalia. Essas medidas não foram, pois, urdidas por “grupelhos de esquerda”, foram o resultado de compromissos legais assumidos pelo Brasil internacionalmente.   

A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, atualmente chefiada pela socióloga Eleonora Menucucci, já fala da legalização do aborto até 12 semanas de gestação como uma medida de saúde pública e antes dela, o ministro da Saúde do governo Lula, José Gomes Temporão, já havia batido na mesma tecla. No Brasil são feitos por ano milhares de abortos ilegais com consequências funestas para as mulheres. São utilizados talos do mamoeiro, agulhas de tricô, chás de ervas que causam intoxicações graves, sondas e Citotec. As mulheres pobres são as mais vitimizadas, pois só têm acesso ao aborto inseguro e realizado em péssimas condições de higiene. Invariavelmente, acabam em um hospital do SUS para a realização de curetagem e combate às infecções que sobrevêm. Ocupam leitos, gastam recursos públicos e dão prejuízo ao Estado. Muitas ficam internadas por vários dias. As mulheres ricas e de classe média se dirigem às clínicas de aborto que existem por todo lado na capital do nosso Estado e, pela quantia de mil e quinhentos reais, fazem um procedimento razoavelmente seguro com anestesia e que dura cerca de 10 minutos. Saem da clínica caminhando, sem problemas, e podem retomar a vida normal no dia seguinte. O fato de o aborto ser proibido não impede que as clínicas estejam abertas ou que o Citotec seja vendido nas farmácias. As mulheres, historicamente, sempre procuraram alternativas para uma gravidez indesejada e continuaram a fazê-lo independentemente de ser considerado crime ou pecado.

O Estado brasileiro, que é laico, mais uma vez busca pautar sua ação não pela ética cristã, muçulmana ou budista, mas pela racionalidade econômica. O aborto é uma realidade. O estado despende grande soma de recursos para tratar das sequelas dele provenientes. É, portanto, mais barato financiar um aborto seguro, em boas condições higiênicas e que não necessita de internação. As leis e decisões judiciais vêm sempre ao encontro daquilo que a sociedade já pratica. Elas não surgem, em geral, em função de pequenos grupos, sejam de esquerda ou de direita.

Geralmente, o pensamento conservador contrário ao aborto fala em preservar a vida, mas esquece que o conceito de vida é uma decisão sociocultural e que tem uma historicidade. Na Idade Média, por exemplo, a Igreja Católica permitia o aborto até o feto movimentar-se no ventre materno, o que se dá por volta do quarto mês de gestação. Considerava-se que só então se tratava de um ser humano. Quando afinal começa a vida? Poderíamos determinar o seu começo no sêmen do homem. Nesse caso dever-se-ía proibir a masturbação masculina? Ou então no óvulo da mulher. A menstruação das mulheres deveria então ser proibida?

A Igreja Católica é contrária às experiências científicas com células embrionárias e tentou impedi-las acampando na porta do STF. Novamente o Tribunal considerou legal a realização dessas experiências, não entendendo como vida o embrião que seria descartado pelas clínicas de fertilização humana.

Nesse debate acerca da implantação do aborto no Brasil — com um atraso de 40 anos em relação aos países desenvolvidos, é bom que se diga — o falso moralismo desempenha um papel importante. Na última eleição presidencial, vimos a esposa do candidato José Serra acusar a atual presidenta Dilma Roussef de “abortista” e de “assassina de criancinhas” pelo fato de a mesma ser favorável à legalização do aborto. Em meio ao debate, a máscara da senhora tão favorável à vida caiu quando uma de suas alunas revelou que ela havia feito um aborto no Chile, quando José Serra era refugiado político. Muitos homens e mulheres que já pagaram abortos ou já o fizeram procuram, talvez, purgar a culpa que sentem por acreditarem ter feito algo errado com uma posição radical contrária à sua legalização. Creio que devemos ter bom senso e pensarmos que chegou o tempo de as mulheres deixarem de ser objetos da reprodução e passarem a ser sujeitos da mesma. A legalização do aborto não significa que todas as mulheres serão obrigadas a fazê-lo. As que são contrárias, evidentemente, não o farão. Entretanto, as demais terão ao seu dispor essa possibilidade, caso assim o desejem. A lógica do Estado não está pautada, portanto, em qualquer tipo de ética religiosa. Que isso fique bem claro para todos e todas.

* Professora do Laboratório de Estudo da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) e coordenadora do Atelier de Estudos de Gênero (ATEGEN) da UENF.