quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Coluna Infinitum




A Via Láctea


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


Ora, direis ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
Mas vos direi, no entanto,

que para ouvi-las muita vez desperto
 e abro a janela pálido de espanto!

Olavo Bilac



Vivemos no planeta Terra, um pequenino ponto azul na imensidão do cosmos — um “pálido ponto azul”, segundo Carl Sagan. Nosso planeta orbita uma estrela adulta de um sistema planetário localizado fora do centro da Via Láctea.

Nossa bela galáxia é composta por bilhões de estrelas, hoje estimadas entre 200 e 500 bilhões. Estrelas que para nós se mostram com brilho fraco, devido às enormes distâncias existentes entre elas e nós. Já foram descobertas bilhões de galáxias, então são bilhões de galáxias com bilhões de estrelas, e acredita-se que a maioria delas tenha planetas, como o nosso Sol.

Foto obtida do site http://www.apolo11.com


Vale lembrar que o número de estrelas que observamos no céu não é este. O número de estrelas que vemos no céu varia se a observação for a olho nu, com binóculo ou telescópio.  A olho nu podemos observar  até 6.000 estrelas, com binóculo ou luneta, 30.000 e com telescópio, podemos chegar a observar um bilhão de estrelas.

O formato da Via Láctea é espiral. As galáxias podem ser espirais, elípticas ou irregulares, segundo a classificação feita pelo americano Edwin Hubble. Um exemplo de galáxia com forma indefinida, ou seja, irregular, é a pequena Nuvem de Magalhães, que, aliás, orbita nossa galáxia.

A Via Láctea era observada desde a Antiguidade. Recebeu este nome (que significa “caminho do leite”) devido a crenças em deuses, comuns em tempos remotos. É provável que alguns povos associassem a nossa galáxia ao leite que jorra do peito de uma deusa. Ou, quem sabe, a uma escada que a levasse da Terra ao paraíso?

Como podemos ver, muito se cogitou a respeito da Via Láctea antes da invenção do telescópio. Foi muito tempo depois que Galileu, em 1609, de posse de uma luneta, pôde afirmar que a Via Láctea era composta de uma grande quantidade de estrelas de brilho fraco.

Willian Herschel (1738-1822) era um astrônomo alemão que vivia na Inglaterra e foi o primeiro a fazer um mapeamento da Via Láctea. Herschel pensava que nosso Sistema Solar ocupava uma posição central, mas foi só alguns anos mais tarde que se chegou à conclusão que estamos a 23.000 anos luz do centro de nossa galáxia.

Ilustração de Hershel e sua irmã Caroline, que também era astronôma.
 
A propósito se você não sabe o caminho para lá, é só olhar na direção da constelação de Sagitário, e você estará olhando para a direção do centro de nossa galáxia.

Numa galáxia, as estrelas azuis se localizam em seus braços espirais e as vermelhas, nos centros das galáxias. Estrelas azuis são estrelas jovens, cuja temperatura fica em torno de 20000K ou mais. A temperatura das estrelas que estão envelhecendo — as chamadas estrelas vermelhas — fica entre 2000K e 3000K.

As galáxias se concentram em grupos. A Via Láctea faz parte de um grupo de 50 galáxias, o qual chamamos de Grupo Local.

Sobre a Via Láctea, é bom lembrar que está em rota de colisão com a galáxia de Andrômeda, que, aliás, é a galáxia mais próxima de nós, sendo também uma galáxia espiral, que se encontra a 2.000.000 de anos luz. Neste processo, as galáxias passam uma por dentro da outra, sem que haja colisão entre as estrelas, pois os espaços entre elas são muito grandes.

Sugestão de sites:
http://astro.if.ufrgs.br/vialac/vialac.htm

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Animais em pesquisas: consulta pública

A população poderá opinar até 15/10 sobre a Diretriz Brasileira de Prática para o Cuidado e Utilização de Animais para Fins Científicos e Didáticos (DBPA), proposta pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).  O Edital da Consulta Pública e o formulário de inscrição  encontram-se na página do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) no Portal do MCTI.

O Edital foi publicado no Diário Oficial da União de 14/08. O objetivo da Diretriz é “apresentar princípios de conduta que permitam garantir o cuidado e o manejo éticos de animais utilizados para fins científicos ou didáticos”. Cabe às CEUAs (Comissões de Ética no Uso de Animais) determinar se a utilização de animais é justificável e atende aos princípios da ‘substituição’, ‘redução’ e ‘refinamento’.

O princípio da ‘substituição’, de acordo com a DBPA, diz que, antes de se utilizar animais em pesquisas ou para fins didáticos, deve-se pensar em métodos alternativos. Já o princípio da ‘redução’ afirma, entre outras coisas, que a redução do número de animais não pode se dar à custa de um maior sofrimento individual ou da perda da confiabilidade dos resultados. Já o princípio do ‘refinamento’ diz respeito à necessidade de evitar que os experimentos causem dor ou estresse excessivo entre os animais, entre outras questões.

Para o professor Clóvis de Paula Santos, presidente da CEUA-UENF, ainda é impossível fazer estudos científicos confiáveis, em algumas áreas, sem o envolvimento de animais. Ele acredita que, com o avanço da ciência, isso venha a ser possível no futuro. O uso de animais em experimentos científicos é particularmente necessário na área de saúde.

— Se não fosse isso, muitos medicamentos e procedimentos hoje largamente utilizados jamais teriam sido possíveis. É importante lembrar que as experiências com animais não têm funcionalidade apenas para os humanos, servindo também para os animais. O remédio que você usa quando seu cão está doente ou um equipamento ou procedimento cirúrgico, por exemplo, só existem porque foram testados em outros animais — diz.

Ele considera importante informar à população que as instituições de ensino e pesquisa se importam com as condições onde são criados e mantidos os animais, bem como com o manejo adotado. Na sua opinião, isso é fundamental, pois reflete na saúde e bem estar dos animais.

— Vemos pessoas fazendo manifestações contra o uso dos animais em laboratórios, mas não param para analisar que, sem pesquisas, não haveria  o desenvolvimento de medicamentos, imunobiológicos ou procedimentos e equipamentos cirúrgicos. Quem é contra o uso de animais em qualquer que seja a pesquisa, para ser coerente, não deveria usar remédios nem vacinas ou se submeter a inúmeros exames médicos ou cirurgias. Imagina! Não vacinar, não medicar ou mesmo não submeter um filho, por exemplo, a um exame ou cirurgia necessária é abominável, já que pode incorrer em uma abreviação da vida.  É algo a se pensar antes de ser contra o uso de animais em pesquisas — afirma.

Se quiser saber mais, leia o artigo 'Pesquisas com animais: necessidade com responsabilidade', do professor Clóvis de Paula Santos.

Ana Clara Vetromille
Fúlvia D'Alessandri 



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Combate aos metais pesados

Bactéria promove crescimento de plantas, minimizando efeitos da contaminação ambiental

Rio Tietê (SP). (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
O lançamento de metais pesados na natureza, em forma de resíduos industriais, é um dos mais graves problemas ambientais em todo o mundo. A contribuir para a gravidade do problema está o fato de que os metais pesados não podem ser destruídos pelo homem. E, quando bioacumulados no ambiente, passam de uma espécie a outra ao longo da cadeia alimentar. Cientistas da UENF vêm estudando formas de minimizar este problema ambiental através da fitorremediação (despoluição dos solos utilizando plantas).

No entanto, este processo esbarra em um problema: o lento crescimento dos vegetais e sua reduzida biomassa. Uma forma de intensificar a produção de biomassa é a utilização de bioinoculantes promotores do crescimento vegetal. Em sua pesquisa de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da UENF, a bióloga Aline Chaves Intorne mostrou que a bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus tem vasto potencial para a promoção do crescimento vegetal, podendo contribuir para uma maior eficácia do processo de fitorremediação.

— Concluimos que esta bactéra é um organismo promissor e que merece atenção da comunidade científica. Seu potencial biotecnológico não abrange somente a agricultura, onde se concentra o maior número de trabalhos, mas inclui também indústria de alimentos, construção civil, metalurgia e farmacêutica — afirma Aline, que teve a orientação do professor Gonçalo Apolinário, do Laboratório de Biotecnologia (LBT) da UENF.

Isolada em 1988, a bactéria G. diazotrophicus teve seu genoma sequenciado recentemente, impulsionando estudos de genômica funcional. Trata-se de uma bactéria promotora do crescimento vegetal identificada como um endofítico diazotrófico (micro-organismo  que vive no interior de plantas, capaz de fixar nitrogênio).

— A pesquisa teve por objetivo explorar as características relevantes desta bactéria, com ênfase em sua resistência a metais pesados. Faltam estudos quanto à produção de sideróforos e fitormônios, por exemplo, que são características importantes para a promoção do crescimento vegetal.

Embora sejam muito úteis na indústria, os metais pesados estão entre os agentes tóxicos mais conhecidos. Entre os mais perigosos estão o mercúrio, o cádmio (encontrado em baterias de celulares), o cromo e o chumbo.  Muitos metais são essenciais para o crescimento dos organismos, mas em baixas concentrações. Em quantidade excessiva eles podem provocar diversas doenças no organismo humano, algumas muito graves.

Acesse aqui a tese de doutorado de Aline.

Fúlvia D'Alessandri

quinta-feira, 23 de agosto de 2012



Alimentação adequada


Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda


Não há alimento natural completo em termos nutricionais. Por este motivo, uma alimentação balanceada segue o principio da variedade e quantidade adequada de alimentos. A função dos nutrientes no organismo ocorre em padrões inter-relacionados, de forma que tanto a ausência quanto o excesso de um nutriente afeta a função dos demais. Por exemplo, de nada adianta assegurar a ingestão adequada, ou até mesmo elevada de vitamina C e de proteínas visando ao ganho de massa muscular se a ingestão de carboidratos não estiver correta. Aliás, até o excesso de vitamina C é prejudicial, pois pode causar cálculos renais. 

Uma dieta contendo quantidades adequadas de todos os grupos de alimentos certamente fornecerá todos os nutrientes que necessitamos nas quantias necessárias. Pode-se proceder da seguinte maneira para elaborar uma dieta adequada:

1)    A quantidade ideal de frutas é de 400 gramas por dia. É importante variar os tipos de frutas. Os sucos naturais podem substituir as frutas. Elas são ricas em vitaminas, minerais, fibras e  substâncias antioxidantes.

2)    Os laticínios são importantes para fornecer proteínas e cálcio. A ingestão diária satisfatória de laticínios  deve ser de duas porções. Os exemplos a seguir correspondem a uma porção: uma fatia de queijo mozarela (20 g), um copo de leite integral ou desnatado (200 ml), um copo de iogurte natural desnatado (200ml). 

3)    O consumo de carnes deve ser moderado: 120 gramas por dia. Elas são fontes de vitaminas do complexo B, ferro, zinco, selênio e proteínas de boa qualidade. Peixes também são carnes e têm a vantagem de ainda serem fontes dos ácidos graxos ômega-3. Uma porção de carne, 60 gramas, pode ser substituída por um ovo.

4)    A ingestão diária ideal de verduras ou hortaliças é de aproximadamente 400 gramas por dia, considerando as folhosas e as não folhosas. Por exemplo: 30 gramas de couve ou taioba e 150 gramas ou mais de hortaliças não folhosas (cenoura, brócolis, abóbora etc) nas principais refeições. Estes alimentos fornecem fibras, carotenoides, vitamina E, dentre outros nutrientes e substâncias antioxidantes, assim como as frutas.

5)    Incluir azeite (rico em antioxidantes e vitamina E) e óleo de soja ou canola (ricos no ácido graxo essencial da família ômega-3, ácido linolênico, e vitamina E). O consumo diário total destes óleos deve ser de aproximadamente 33 gramas, o que equivale a cerca de três colheres de sopa.

6)    Completar a dieta com cereais (arroz, aveia, milho, trigo e derivados),  leguminosas, tubérculos e raízes, que são fontes de carboidratos. A quantidade destes alimentos deve ser de acordo com a necessidade de perder, manter ou ganhar peso. Deve-se dar preferencia aos cereais integrais, pois são mais nutritivos e de baixo índice glicêmico (ajudam a prevenir o diabetes tipo 2).

Para garantir uma dieta adequada é preciso estabelecer uma rotina alimentar, com um cardápio que inclua todos estes grupos de alimentos. Tambem é importante comer pequenas quantidades de alimentos em cada refeição, porem fazendo maior número de refeições por dia.




 Grupos alimentares e exemplos de alimentos que os representam  

1)    Leguminosas: ervilha, lentilha, soja, feijão e grão de bico.
2)    Cereais, raízes, tubérculos, produtos de panificação: pães, aveia, mandioca, beterraba, cenoura, batatas e arroz.
3)    Pescados em geral, ovos, carne bovina, suína e frango.
4)    Laticínios: leite e derivados
5)    Hortaliças: tomate, folhosos em geral, pimentão, alho, chuchu, pepino, cebola, aspargo e  berinjela
6)    Frutas: frutas e sucos de fruta natural
7)    Óleos e gorduras: óleos vegetais (canola, soja, azeite, girassol e algodão) nozes e sementes oleaginosas (castanhas, pistache, amêndoas, linhaça, semente de abóbora e gergelim)
8)    Produtos industrializados açucarados e fonte de gorduras.

 Exemplo de cardápio:

1)    Café da manhã: fruta (ou suco natural) com cereal e laticínios
2)    Antes do almoço: suco ou fruta ou laticínio
3)    Almoço: salada (dê preferência à mista, ou seja, com mais de uma hortaliça. Exemplo: cenoura, vagem e rúcula), carne ou ovo, cereal e leguminosa e algum suco de fruta.
4)    Lanche da tarde: suco ou fruta e laticínio com cereal. Não exagerar no consumo de pães e laticínios ricos em gordura.
5)    Jantar: refeição com pouca quantidade de alimentos, contendo quantidades moderadas de cereais, legumes, frutas (ou suco) e laticínio. Alimentos de fácil digestão são adequados, por exemplo as sopas.
6)    Antes de dormir: alimentos de fácil digestão (exemplo minguau) ou pequeno lanche com cereal, laticínio e chá.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Congresso Brasileiro de Meteorologia

José Carlos Mendonça
'Incertezas e desafios para a sustentabilidade planetária: o papel da ciência meteorológica'. Este é o tema do  XVII Congresso Brasileiro de Meteorologia, que será realizado de 23 a 28/09/12 no Centro de Exposições da cidade de Gramado-RS. O professor José Carlos Mendonça, do Laboratório de Engenharia Agrícola da UENF (LEAG), integra o comitê científico do evento.

Realizado desde 1980, o congresso é o principal fórum nacional de intercâmbio técnico-científico na área de meteorologia, setor no qual o Brasil se destaca mundialmente. O evento é promovido pela Sociedade Brasileira de Meteorologia e acontece bianualmente.

A programação inclui mesas-redondas, plenárias, minicursos, apresentação de trabalhos em sessões orais e na forma de pôster, exposição técnica, premiações, encontros e workshops. De acordo com Mendonça, o congresso tem por objetivo debater temas relacionados ao cotidiano das pessoas, agregando professores, pesquisadores, estudantes da área e profissionais do mundo inteiro.

— Durante o evento há disseminação de dados meteorológicos, minicursos ministrados por professores, além de apresentação de trabalhos de várias partes do país e do mundo — diz o professor, que irá coordenar as sessões orais e de banners. Como autor, Mendonça vai apresentar quatro trabalhos feitos junto com pesquisadores da UENF.

O Congresso vai abordar as seguintes áreas temáticas: Variabilidade e Mudanças Climáticas; Desastres Naturais; Climatologia Geral; Meteorologia Sinótica e Extremos Meteorológicos; Modelagem Atmosférica; Poluição, Saúde e Meio Ambiente; Meteorologia Física e Meteorologia por Satélite; Interação Oceano-Atmosfera; Sustentabilidade, Vulnerabilidade e a Sociedade; Perspectivas Profissionais da Meteorologia Multidisciplinar; Agrometeorologia, Micrometeorologia e Hidrologia.

Paralelamente ao congresso, a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos realiza o  IV EUMETSAT (Encontro Sul-americano de aplicações dos sistemas EUMETCast e GEONETCast para o monitoramento meteorológico e ambiental). Haverá apresentação de trabalhos técnico-científicos nos quais tenham sido utilizados dados e produtos relativos aos dois sistemas de difusão de informações meteorológicas e ambientais.

Veja mais informações no site do Congresso.

Thaís Peixoto

Morre pioneiro da divulgação científica

Manuel Calvo: pioneirismo
O jornalista espanhol Manuel Calvo Hernando, conhecido pelo trabalho pioneiro com divulgação científica, morreu aos 88 anos no dia 16 de agosto, em Madri. Dedicou-se ao jornalismo científico desde a década de 1950. Foi um dos fundadores da Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico, em 1969, da qual foi secretário-geral, e da Asociación Española de Periodismo Científico, em 1971, da qual foi presidente de honra – a entidade é atualmente conhecida como Asociación Española de Comunicación Científica.

Nascido em Fresnedillas de la Oliva, nos arredores de Madri, Calvo Hernando começou sua carreira como redator do jornal Ya, no qual chegou a redator-chefe e subdiretor. Foi o responsável pela comunicação no Instituto de Cultura Hispánica. Em 1999, aos 75 anos, doutorou-se em Jornalismo Científico.

Autor de mais de 30 livros e centenas de artigos sobre jornalismo científico, foi vice-presidente da Asociación de la Prensa de Madrid e professor na Universidad CEU San Pablo, em Madri. Em 2008, foi homenageado pelo Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha pelo trabalho com a divulgação da ciência.

“Se queremos realmente uma sociedade democrática, é preciso que todos entendam a ciência”, disse Calvo Hernando em entrevista à revista Ciência e Cultura em 2005.

A respeito da formação dos jornalistas científicos, disse: “Como os campos científicos são muito específicos, não me parece adequado que os jornalistas sejam formados em cursos de ciência. Mas os jornalistas deveriam fazer uma disciplina de história da ciência e metodologia científica e, depois, fazer como fiz: escolher quatro ou cinco disciplinas – como física, latim, filosofia ou matemática – que, mais tarde, possam servir de base para todo o resto. A partir do momento em que os comunicadores entenderem e souberem o que é a ciência e o método científico, poderão se especializar na área de seu interesse”.

Fonte: Agência Fapesp (Heitor Shimizu)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Coluna Infinitum



Planetas Anões

Adriana Oliveira Bernardes

Em artigo no qual abordei o tema 'planetas extrassolares' comecei dizendo que, para ser denominado um planeta, o astro deve orbitar uma estrela, ser esférico e ter massa dominante em sua órbita. A propósito, seria importante também darmos a definição de estrela. Fundamentalmente, uma estrela é um astro que realiza a fusão de hidrogênio produzindo hélio ou deutério.No primeiro caso temos uma estrela como a nossa, o Sol, e no segundo, uma anã marrom. Para termos uma idéia, uma anã marrom tem tamanho comparável ao do planeta Júpiter.

Com a descoberta do planeta-anão Éris, algumas divergências ocorreram na classificação dada aos planetas. Os astrônomos se perguntavam então: não seria Plutão um corpo semelhante a Éris e Sedna? Logo viram que sim. Conhecemos hoje cinco planetas anões, em ordem de distância ao Sol. São eles: Ceres, Plutão, Haumea, Makemake e Éris. Ceres, Plutão e Éris foram denominados planetas anões, a partir da reunião da União Astronômica Internacional em 2006. Os dois últimos foram descobertos depois.

Na mitologia grega, Ceres é a deusa da agricultura, filha de Saturno. Plutão é o deus do submundo, enquanto Éris é a deusa da discórdia — afinal de contas, foi por causa da descoberta deste planeta, que Plutão passou a ser denominado anão. Finalizando, Haumea é uma deusa da Indonésia e Makemake,  uma divindade da Ilha de Páscoa.

Bom, você deve estar se perguntando: e Sedna? Lembro bem o grande estardalhaço que houve quando este foi descoberto, mas dentro da nova classificação Sedna não pode nem ao menos ser denominado anão. Ele está dentro do grupo chamado de corpos menores, assim como os cometas. Resumindo, temos no Sistema Solar: planetas, planetas anões e corpos menores.

Vamos falar então um pouco de Plutão, afinal de contas foi ele quem perdeu o status de planeta com as novas denominações. Descoberto por Clyde Tombaugh em 1930, Plutão tinha características que não se assemelhavam às dos planetas. Sua órbita era elíptica e inclinada, diferente das órbitas dos demais, que são quase circulares. Sem contar que, em determinado período de sua órbita, ele fica mais próximo do Sol que Netuno, portanto ele não tem massa dominante em sua órbita.

Com exceção de Ceres, que se encontra no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, os outros fazem parte do cinturão de Kuiper. O cinturão de Kuiper é um cinturão de asteroides, que fica além de Plutão e é formado por grande quantidade de cometas e corpos menores. O cinturão recebeu este nome devido a Gerard Peter Kuiper.

A definição de plutoides também é importante. São corpos celestes transnetunianos, ou seja, localizam-se após a órbita de Netuno. São corpos semelhantes a Plutão, formados por gelo, poeira e rocha.

Imagens de Ceres e Plutão já foram obtidas pelo telescópio espacial Hubble, mas dos outros anões ainda não existe. Se você encontrar alguma na Internet é apenas uma concepção artística, não correspondendo ao astro real.

Sobre Plutão é interessante saber que a sonda New Horizons, lançada em 2006, o visitará em 2015. Para se ter uma idéia da distância deste planeta ao sol, ela vai demorar nove anos para chegar a Plutão, mesmo após ter se aproveitado de sua passagem por Júpiter para aumentar sua velocidade.

Sonda New Horizons, foto retirada do site http://www.apolo11.com/



A propósito, Plutão tem três satélites: Caronte, Nix e Hydra. A New Horizons, após realizar estudos em Plutão, continuará atravessando o cinturão de Kuiper.

É importante lembrar que a disposição dos corpos celestes no Sistema Solar está diretamente ligada à sua formação inicial. O choque dos planetas gasosos com os chamados planetesimais, que eram trilhões, os jogou para um local distante no Sistema Solar.

Uma coisa interessante é que, pesquisando os planetas extrassolares, foram observados planetas gasosos próximos à estrela, o que é incomum. Isto foge à explicação que temos hoje ao fato de termos inicialmente planetas rochosos e depois gasosos. Aguardamos que a ciência nos diga, em breve, por que isto acontece.

Neste site vocês poderão comparar tamanhos de planetas e estrelas e também verificar como são as órbitas e suas inclinações em relação ao plano da eclíptica:

http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/sistemasolar.html

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Carvão dissolvido em rios e oceanos pode ter origem antiga

Estudo publicado na Nature Geoscience indica que queimadas históricas na mata atlântica ainda lançam carbono nas águas 
Pesquisadores da UENF estão entre os autores do estudo
O carvão que chega às águas dos rios e dos oceanos pode não ter origem apenas nas fogueiras que hoje queimam florestas e plantações. Um estudo publicado domingo, 12/08, no site da Nature Geoscience sugere que o carbono gerado em queimadas fica armazenado por décadas e até séculos no solo, sendo aos poucos liberado para os rios. Dois pesquisadores da UENF - Carlos Eduardo de Rezende e Alvaro Ramon Coelho Ovalle, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) - estão entre os autores do artigo.

“Fizemos a conta de todas as fontes possíveis de carbono e o que encontramos na bacia do rio Paraíba do Sul é muito maior”, comenta o biólogo Carlos Eduardo de Rezende. Ao longo de um projeto de longa duração, entre 1997 e 2008, a cada duas semanas ele e sua equipe coletaram amostras de água do rio Paraíba do Sul, cuja bacia banha uma área de 55.400 quilômetros quadrados nos estados do São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em parceria com Thorsten Dittmar, do Instituto Max Planck, na Alemanha, ele analisou as amostras de água e obteve estimativas de quanto carbono está dissolvido nas águas. A surpresa foi encontrar uma carga entre 3 e 16 vezes maior do que pode ser explicado pelas queimadas atuais. Segundo seus cálculos, a cada ano é produzida uma média de entre 190 e 740 toneladas de carbono negro nessa região.

Rezende se interessou por estudar essa área por ser emblemática da perda de mata atlântica: hoje resta apenas 10,7% de uma superfície que já foi inteiramente floresta. É exatamente essa história que explica o desencontro entre os números: entre os anos 1850 e 1973, quase toda a mata atlântica da região foi eliminada por queimadas. Para os pesquisadores, boa parte do que detectaram tem origem nesse fogo histórico. “O carbono dissolvido é um indicador da influência do homem no ciclo natural desse elemento”, explica.

Alterações dessa dimensão, ele se preocupa, podem interferir nas funções metabólicas dos organismos que vivem nas águas, tanto dos rios como do oceano onde eles desembocam. O próximo passo é conseguir obter uma datação do carbono contido nas amostras, para distinguir com segurança a contribuição histórica e a atual para essas alterações químicas nas águas.


(Fonte: Revista Pesquisa Fapesp)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Capacitação interessa mais a novos professores

Professores em início de carreira estão mais propensos a investir na sua capacitação profissional do que aqueles há mais tempo no magistério. É o que sugere a pesquisa feita pela mestre em Políticas Sociais pela UENF Lucimarie Louvain, intitulada ‘Política pública de formação continuada de professores: um estudo de caso na modalidade de educação a distância no Estado do Rio de Janeiro’.

Sob orientação da professora Silvia Alicia Martinez, do Laboratório de Estudo da Educação e da Linguagem (LEEL) do Centro de Ciências do Homem (CCH), a pesquisa teve como foco o curso de extensão promovido pela Fundação CECIERJ em 2009, na área de Educação & Ciências. Foram entrevistados professores que participaram do curso e ainda o coordenador da área de Extensão da Fundação Cecierj.

— No início da carreira, o entusiasmo contribui para que os professores façam maiores investimentos na profissão. Com o decorrer do tempo, a rotina profissional e as particularidades que fazem parte das histórias de vida dos professores acabam interferindo no desempenho profissional. Além disso, a jornada excessiva e as precárias condições de trabalho provocam um desgaste na saúde e uma exaustão emocional que acabam comprometendo o interesse pelo aperfeiçoamento — diz Lucimarie.

Segundo ela, a pesquisa mostra a necessidade de uma maior integração entre o CECIERJ, as coordenadorias regionais de ensino e as escolas, no sentido de divulgar os cursos de educação continuada, bem como incentivar os professores a cursá-los. Mostrou ainda a necessidade de o Cecierj investir em cursos mais direcionados, dada a amplitude de áreas de conhecimento e de segmentos no ensino fundamental e médio.

— Acredito que na formação continuada a distância deveria haver uma atuação mais efetiva nos polos de atendimento, para o acompanhamento e orientação dos participantes — afirma Lucemarie.

A procura pela educação continuada a distância ocorre, em grande parte, devido à exigência de que os professores tenham qualificação. Lucimarie lembra que o Plano Nacional de Educação (PNE) de 2001 aponta a necessidade de melhoria da qualidade do ensino, com a valorização do magistério. E esta deve ser compreendida de forma global, implicando simultaneamente a formação inicial, as condições de trabalho, salário e carreira, bem como a formação continuada dos professores em atuação.

— No entanto, os cursos a distância requerem disciplina e comprometimento. Como não há um professor por perto, certificando-se de que tudo está sendo produzido, o aluno deve garantir algumas horas de seu dia para a leitura dos conteúdos e participação nos fóruns de discussão, onde pode trocar ideias sobre a matéria com outros alunos — diz.

As provas também acontecem online e são enviadas via e-mail ao tutor. Salvo exceções, quando avaliações presenciais são previamente combinadas no momento da inscrição no curso. Estas deverão acontecer no polo escolhido pelo participante ou em outro local indicado pela coordenação do curso. O estudo mostra que a maioria dos inscritos reside em cidades próximas às sedes do CECIERJ. Provas e aulas presenciais, que ocorrem eventualmente, transformam-se em grandes custos aos que não moram perto dos polos.

Se quiser saber mais sobre a pesquisa, veja a dissertação aqui.

Fúlvia D'Alessandri
Ana Clara Vetromille

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Trabalhos da UENF selecionados

Gasoduto da Petrobras (Foto: Agência Petrobras)
Dentre as sete dissertações selecionadas para concorrer ao prêmio Icarahy da Silveira, realizado pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), três foram do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da UENF. Os mestrandos concorreram com centenas de dissertações em todo o país. O prêmio consiste em avaliar as melhores pesquisas de mestrado, na área de mecânica de solos, em um período de dois anos.

O trabalho de Priscila Cardoso Santiago, uma das selecionadas, demonstra como evitar explosões e vazamentos nos gasodutos com um sistema de ancoragem. A dissertação de Cássia Rangel também teve foco na área de petróleo e gás. Ela desenvolveu uma tecnologia de estacas de sucção para ancorar plataformas de petróleo que ambicionam diminuir o congestionamento de equipamentos que ficam no leito marinho durante a exploração de petróleo.

Já a terceira pesquisa pode ser aplicada a problemas de instabilidade de encostas. Wagner Nogueira Sterk estudou o comportamento geotécnico de solos não saturados. Ele desenvolveu um novo método para avaliar as propriedades hidráulicas destes solos. Os alunos foram orientados pelos professores Fernando Saboya, Sérgio Tibana e Rodrigo Martins Reis, respectivamente.

A premiação acontecerá em 15/09/12 em Porto de Galinhas, Pernambuco, durante o Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG).

Ana Clara Vetromille

quarta-feira, 8 de agosto de 2012



Fontes alimentares de selênio


Karla Silva Ferreira


O selênio é um elemento que participa de enzimas antioxidantes. A médio e longo prazo, a baixa ingestão de selênio, que resulta em níveis baixos de selênio no sangue, causa flacidez nos músculos, aumento da fragilidade das células vermelhas sangüíneas, degeneração pancreática, doenças cardíacas, problemas de estrutura das articulações e ossos e atividade da tireoide. A doença de Keshan, uma miocardiopatia que afeta mulheres e crianças, e a doença de Kashin Beck, artrose que afeta adolescentes e pré-adolescentes, são prevalentes em certas regiões da China onde os solos são pobres neste elemento. O selênio possui ainda um efeito antídoto com relação aos metais pesados como o mercúrio, o chumbo, o arsênico e o cádmio.

Pesquisas em curso colocam em evidência as propriedades anti-inflamatórias e imunoestimulantes do selênio e seu efeito preventivo contra o câncer de próstata. Um caso comum de lesão do tecido, relatada em sistema cardiovascular, é a isquemia-reperfusão. Esta lesão está associada com hemorragia, arritmias, angina, enfarte do miocárdio e baixa atividade de antioxidantes seqüestradores de H2O2.  E doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em seres humanos em todo o mundo.

A ingestão diária de selênio varia de um país para outro: 200 µg (microgramas —  milésima parte de miligramas, o mesmo que 0,2 mg) para os canadenses e somente 30 µg para os Filandeses. Na França, o consumo médio/dia é de 46 µg. O Conselho Nacional Americano de Pesquisas preconiza 1µg por quilo de peso corporal ao dia. O Ministério da Saúde, com base nas diretrizes da Organização Mundial de Saúde, recomenda para adultos a ingestão de 34 µg/dia.

Castanha do Pará
É consenso que os teores de selênio nos alimentos, no caso de alimentos de origem vegetal, dependem das características do solo. Já nos alimentos de origem animal, dependem de sua utilização em rações e seus teores nas pastagens. Sendo assim, as melhores fontes de selênio em uma região podem ser de origem vegetal, em outras de origem animal e em outras, ainda, dependendo dos tipos e quantidades dos alimentos consumidos, a dieta pode ser pobre em selênio. Processos de irrigação e inundação aceleraram a liberação de selênio para o solo, o que ocorre no ecossistema da Amazônia e explica os elevados teores deste nutriente encontrados na castanha do Pará. Por outro lado, a queima de combustível fóssil, chuva ácida, acidificação do solo e uso de fertilizantes sulfurados acarretam a diminuição no teor de selênio nos vegetais.

Esta pesquisa realizada em Campos dos Goytacazes teve o objetivo de determinar os teores de selênio no sangue dos doadores de sangue do Hemocentro Regional de Campos dos Goytacazes e identificar as principais fontes alimentares de selênio da Região.

Foi observado que, apesar de constituírem um grupo saudável, 74% por cento dos doadores estavam com teor de selênio no sangue abaixo de 70 ng mL-1, o menor nível para atuação máxima das selenoproteínas, de acordo com o Nutritional Prevention of Cancer Study Group.

As principais fontes alimentares de selênio são os produtos de origem animal (peixes, carnes de boi, frango, queijos, leite desnatado e ovos), que possuem teores de selênio entre 2,0 a 54,3 µg/100gramas) Dos alimentos de origem vegetal, destacam-se as castanhas-do-pará (38 a 49 µg/100gramas), a castanha-de-caju (7,0 a 15,0 µg/100gramas), pães e biscoitos (1,7 a 8,8 µg/100gramas). As frutas e hortaliças são pobres em selênio (0,0 a menos que 1,0 µg/100gramas). Quase a metade dos alimentos analisados, 47%, continham baixos teores de selênio, entre 0,0 e 10,0 µg/100g.

Veja tabela com os índices de selênio nos principais alimentos.




terça-feira, 7 de agosto de 2012


Doença de Alzheimer e bexaroteno:  
uma esperança de tratamento

                                                                                                                     Arthur Giraldi Guimarães*

A Neurociência já comprovou que os processos mentais, dos mais simples aos mais sofisticados, estão sediados no nosso Sistema Nervoso Central, em especial, no nosso encéfalo. Isso não encerra a questão do dualismo “mente e cérebro” (a qual não será abordada aqui, sendo possível assunto para futura coluna), mas é certo que a mente, no mínimo, depende do encéfalo para se expressar.

Pensamentos, memórias, aprendizados, sensações conscientes, movimentos voluntários e demais aspectos cognitivos dependem do bom funcionamento das conexões nervosas e da saúde dos neurônios. Consequentemente, a perda das conexões nervosas e/ou dos neurônios resultará em perdas cognitivas. Quando essa perda é progressiva e generalizada, resulta numa condição patológica conhecida como demência, que corresponde justamente à redução progressiva e generalizada dos processos mentais-cognitivos. Em estágios avançados, a demência leva à perda da autonomia do indivíduo e do próprio sentido de individualidade.

A causa mais comum de demência é conhecida como Doença de Alzheimer. Ela leva o sobrenome do médico-psiquiatra que primeiramente a descreveu, em 1906, Alois Alzheimer, após análise post mortem de lâminas do encéfalo do paciente August D. É uma doença neurodegenerativa, e na sua forma mais comum (chamada de Esporádica) é idiopática (causa desconhecida) e mais prevalente na terceira idade.

A Doença de Alzheimer caracteriza-se pela formação de placas senis (ou neuríticas, ou amiloides) ao longo das estruturas encefálicas, em especial no córtex cerebral. Essas placas são formadas pela agregação massiva de um peptídeo chamado proteína-beta amiloide (pAb)Este peptídeo é formado pela clivagem (ou recorte - ver figura 1) errada da proteína transmembranar Precursora da Proteína Amilóide (PPA), cujo gene se localiza no cromossoma 21.

Figura 1: A proteína-beta amiloide ( pAb  - em verde) está contida na proteína Precursora da Proteína Amiloide (PPA). O recorte errado da PPA por enzimas libera a  pAb . As unidades de  pAb  têm forte tendência a se aglomerar, formando desde pequenos oligômeros solúveis até grandes placas senis. (Imagem extraída e editada de: AlzheimerMed)

De acordo com a “hipótese amiloide”, são os agregados de pAb  que causam a morte dos neurônios. Ela foi proposta há mais de vinte anos e é amplamente aceita, embora seja questionada por alguns cientistas, Em favor dessa hipótese tem o fato da incidência da Doença de Alzhemier ser de 100% em portadores de Síndrome de Down (que apresentam três, ao invés das normais duas cópias do cromossoma 21) com mais de 50 anos de idade.

Além das placas senis, a pAb também forma pequenos agregados, como fibrilas insolúveis e oligômeros solúveis (ver figura 2). Existem fortes evidências de que, mais do que as placas senis, os principais responsáveis pela degeneração neuronal são os oligômeros solúveis, que se difundem pelo tecido nervoso e exercem ação tóxica sobre os neurônios, deflagrando a sua morte.

Não existe ainda cura ou tratamento direto para interromper as perdas neurológicas. O tratamento é baseado apenas em tentativas (na maioria frustradas) de atrasar as perdas ou compensá-las com a amplificação das capacidades cognitivas ainda presentes ou menos afetadas. Entretanto, estudos recentes dão grande esperança para a conquista de uma terapia eficiente!

Figura 2: Detalhe da agregação da  pAb, formando oligômeros, fibrilas e placas. (Imagem extraída e editada de: National Institute on Aging)

Um passo importante nesse sentido foi dado por evidências de que a formação da pAb  no tecido encefálico é igual em indivíduos normais e em indivíduos com Alzheimer. Entretanto, a taxa de limpeza tecidual desse peptídeo é significativamente menor (menos eficiente) nos indivíduos com a doença. Ou seja, a causa do problema parece não ser um aumento na formação da pAb, mas sim uma diminuição da limpeza tecidual da pAb, sendo essa a principal causa do seu acúmulo. Essas evidências apontaram que o melhor caminho para tentar reverter o processo da doença seria agir sobre o mecanismo de limpeza, e não no da formação da pAb!

Num trabalho de um grupo de pesquisa americano (da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve) publicado na conceituada revista Science, essa estratégia foi usada com sucesso, pelo menos num modelo de estudo com camundongos. A proteína apoliproteína E (Apo-E) está envolvida no processo de limpeza, sendo que a sua forma mutada é considerada um fator de risco para o desenvolvimento da Doença de Alzhemeir Esporádica. O fármaco bexaroteno (já usado na clínica para tratamento de câncer) é um ativador de um receptor celular (proteína localizada na membrana da célula que reconhece uma molécula sinalizadora externa e desencadeia reações no interior da célula) presente no encéfalo e que promove a expressão da Apo-E.

Usando camundongos transgênicos portadores do gene quimérico humano/camundongo da PPA, que desenvolvem espontaneamente a doença, os pesquisadores mostraram que o tratamento com o bexaroteno por via oral aumenta a expressão da Apo-E em células da glia (que, junto com os neurônios, também compõem o tecido nervoso). Mostraram também que o fármaco promoveu significativa redução dos agregados de  pAb, tanto da forma solúvel como das placas senis. A redução da área ocupada pelas placas chegou a 50%. Além disso, foram feitos testes comportamentais que mostraram significativa recuperação das perdas cognitivas nos animais tratados com o fármaco. Este não reduziu os agregados em camundongos que não apresentam o gene da Apo-E (e, portanto, não são capazes de expressá-la). A conclusão do estudo é que o bexaroteno aumenta a expressão da Apo-E, levando ao aumento da limpeza da  pAb e, consequentemente, à redução dos danos neurológicos.

Esse estudo talvez seja o que tenha mostrado o efeito mais significativo e promissor para o tratamento da Doença de Alzheimer até o momento. Portanto, é sem dúvida uma esperança e, segundo os autores do estudo, servirá para que sejam planejados futuros ensaios clínicos com pacientes. Estudos como esse só reforçam a importância do trabalho científico, dando-nos sem dúvida ainda mais estímulo para continuar desenvolvendo os nossos respectivos trabalhos de pesquisa com determinação!

*Professor do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF.


SUGESTÃO DE LEITURA:

Decreased clearance of CNS beta-amyloid in Alzheimer's disease. Mawuenyega KG, Sigurdson W, Ovod V, Munsell L, Kasten T, Morris JC, Yarasheski KE, Bateman RJ. Science (2010) 330(6012):1774.

ApoE-directed therapeutics rapidly clear β-amyloid and reverse deficits in AD mouse models. Cramer PE, Cirrito JR, Wesson DW, Lee CY, Karlo JC, Zinn AE, Casali BT, Restivo JL, Goebel WD, James MJ, Brunden KR, Wilson DA, Landreth GE. Science (2012) 335(6075):1503-6.

The amyloid hypothesis of Alzheimer's disease: progress and problems on the road to therapeutics. Hardy J, Selkoe DJ. Science (2002) 297(5580):353-6.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Manipulação de carnes

Açougue no Mercado Municipal de Campos
Minicurso é um dos 52 que serão ministrados durante a 8ª Semana do Produtor Rural da UENF, que ocorre de 20 a 24/08

Qual a melhor maneira de manipular os alimentos? Esta é a pergunta que a veterinária Elaine Cristina Alcântara da Silva e a estudante de Zootecnia Charina Veturim pretendem responder no curso ‘Boas práticas de manipulação de alimentos’, que será ministrado em 22/08, dentro da 8ª Semana do Produtor Rural da UENF.

Coordenado pelo professor Fábio Costa, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF, o curso tem como principal objetivo alertar a população sobre as condições de comercialização dos alimentos. O curso é dirigido, portanto, tanto aos consumidores quanto aos comerciantes de alimentos.

— Queremos alertar a população sobre os locais onde são vendidos alimentos em Campos, principalmente carnes, tanto in natura quanto em conserva. No ano passado, começamos a realizar pesquisas de campo no Mercado Municipal e redondezas. Lá o resultado não foi muito satisfatório. O local não foi considerado propício para a venda de carnes — diz Fábio, lembrando que o projeto de pesquisa conta com o apoio da Faperj.

Durante o curso, serão passados os resultados das pesquisas, com o objetivo de conscientizar os consumidores quanto aos locais apropriados para a compra de carne. Ao mesmo tempo, será mostrado aos comerciantes como o local de trabalho pode e deve melhorar, com o objetivo de melhor atender à população.

Inscrições - As inscrições para a 8ª Semana do Produtor Rural na UENF podem ser feitas até 17/08. São cerca de mil vagas, distribuídas em 52 minicursos. A taxa de inscrição, no valor de R$ 10,00, permite o ingresso em até três minicursos. As inscrições devem ser feitas na Coordenação de Extensão do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), localizada no térreo do prédio.

A 8ª Semana do Produtor Rural na UENF será realizada de 20 a 24/08. Ministrado por professores, técnicos e alunos da UENF, o evento tem a ambição de socializar o conhecimento científico, tornando-o acessível e integrando universidade e população. Será ministrado por pesquisadores e técnicos da UENF.

Os cursos têm duração de duas a 16 horas, variando de acordo com suas especificidades e juntando teoria a prática. Entre os assuntos abordados nos minicursos estão: A nutrição no exercício físico e influência na mídia; Tecnologia de aplicação de agroquímico; Cultura do maracujazeiro; Introdução ao cultivo in vitro de plantas; Piscicultura ornamental; Produção de Frangos, Codornas e Ovos; Tecnologia da produção de queijo minas frescal e ricota, entre outros.

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (22) 2739-7192.

Veja a programação da 8ª Seprodur, que traz um total de 52 minicursos.

Letícia Barroso
Ana Clara Vetromille 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Tecnologia integra energias fósseis e renováveis

Núcleo de Energias Alternativas- UENF
Tema será abordado na palestra de abertura da XII Mostra de Pós-Graduação da UENF, em 15/10, pelo engenheiro Daltro Garcia Pinatti, da USP.

Já está definida a palestra de abertura da XII Mostra de Pós-Graduação da UENF, que será realizada de 15 a 18/10/12 na UENF. Com o tema “Iterf — Integração total das energias renováveis com as fósseis visando a um sistema energético limpo e sustentável”, a palestra será ministrada pelo professor Daltro Garcia Pinatti, da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da Universidade de São Paulo (USP).

Durante a palestra, ele apresentará a tecnologia Iterf, que se propõe a ser uma alternativa para a questão energética. Segundo Pinatti, a tecnologia Iterf permite triplicar as reservas energéticas mundiais, permitindo aos países em desenvolvimento alcançar o mesmo consumo dos países desenvolvidos (com exceção do consumo predatório americano).

— As energias fósseis e a biomassa formam uma base energética capaz de absorver as energias intermitentes (solar, eólica etc), sem necessidades de reservatórios energéticos, bem como a adição do etanol de segunda geração ao combustível fóssil. A viabilização da Iterf gera oportunidades econômicas para o Brasil e outros países tropicais — afirma.

Engenheiro civil pela Escola de Engenharia de São Carlos-USP, Pinatti tem mestrado e doutorado em Física pela Rice University Houston Texas – USA, tendo participado de três instituições de ensino e pesquisa: Instituto de Física da Unicamp, Departamento de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena-USP e Laboratório de Materiais Avançados da UENF (LAMAV). Atualmente lidera um grupo de várias empresas multiplicando Refinarias de Biomassas e de Produção de Metais.

Em breve será divulgada a programação total da XII Mostra de Pós-Graduação da UENF, que este ano terá como tema 'Economia verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza'.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012



Saturno: suas luas, seus aneis e seus mistérios


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br


É emocionante observar Saturno ao telescópio. Se você nunca viu, sugiro que não perca a oportunidade.Atividades de observação do céu são realizadas por planetários – como ocorre no Mast, por exemplo (Museu de Astronomia, no Rio). Pessoas interessadas em divulgar o assunto geralmente se reúnem em clubes de Astronomia.

Apesar das limitações dos aparelhos, não espere visualizar uma imagem como as divulgadas pelo telescópio espacial Hubble. Mas posso dizer que é uma experiência única. Sem dúvida, este é um dos mais belos planetas, com um sistema de aneis que lhe cofere uma beleza sem igual.

Das observações na Antiguidade, passando pelas descobertas de Galileu até chegar aos dias de hoje, Saturno sempre encanta.


Imagem de Satuno, com os aneis e a chamada divisão de Cassini.
O que Galileu viu de diferente neste planeta lhe pareceu apenas “orelhas” por conta da óptica pouco potente de sua luneta. Mas com as imagens obtidas pelas sondas espaciais que já passaram por lá foi possível apreciar até detalhes de seus aneis. A Pioneer, a Voyager I e II e a Huygens/Cassini, sondas espaciais americanas, já passaram próximas ao planeta, fotografando-o.

Saturno é observado desde a Antiguidade. Demora cerca de 29 anos para dar uma volta completa em torno do Sol. Isto fez com que o nome escolhido para ele fosse o do deus do tempo — a propósito, em grego seu nome é Cronos. Sobre Cronos sabemos que era filho de Urano e Gaia, pai de Zeus.

Saturno tem 62 luas. A maior delas, Titã, foi descoberta por Christian Huygens, um sábio holandês do século XVII que também foi responsável por uma das teorias que explica a natureza da luz: a chamada teoria ondulatória.

Uma das teorias que tentam explicar a existência dos aneis supõe que uma de suas luas foi despedaçada por um cometa ou asteroide atraído gravitacionalmente por Saturno.

Hoje em dia, a lua Encélado é o que mais intriga neste planeta. Ela foi descoberta por Herschel em 1789. A maior parte do que se sabe sobre ela foi obtida através de dados das sondas Voyagers.
Encélado tem 500 km de diâmetro. Comparada com nossa Lua, que tem 3476 km, é pequena. Ela reflete quase 100% da luz que recebe do Sol, sendo sua atmosfera formada por vapor de água (predominante), nitrogênio e metano.

Os gêiseres existentes nesta lua chamam a atenção dos cientistas. Eles estudam a razão de sua existência e o fato de ela dar origem a um dos sistemas de aneis deste planeta. 

A sonda Huygens/Cassini foi enviada em 1997 com o propósito de investigar como se formaram os aneis deste planeta. A viagem demorou sete anos. A nave chegou em 2004, com o objetivo de orbitar o planeta por quatro anos.

Imagem da Sonda Cassini

A sonda Huygens/Cassini é uma nave espacial formada por um orbitador (Cassini) e uma sonda (Huygens). Seu nome, além de ser uma homenagem a Huygens, também presta uma homenagem a Cassini, astrônomo italiano que descobriu um espaço vazio entre os dois aneis externos de Saturno.  Este espaço hoje é conhecido como “Divisão de Cassini”.

Algumas descobertas recentes dizem que seus aneis estão em movimento com grande velocidade. Sua espessura é de alguns metros, considerada pequena quando comparada a seu diâmetro de 100.000km.  Segundo os astrônomos, os aneis de Saturno podem ter se formado no tempo em que os dinossauros habitavam a Terra

Devido à importância dos conhecimentos sobre este planeta, voltaremos ao assunto futuramente, trazendo mais informações.