segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Critério religioso na escolha do candidato

Pesquisa mostra que pentecostais tendem a utilizar parâmetros religiosos em todas as áreas da vida, inclusive na política

Você leva em consideração a religião do seu candidato na hora de decidir o voto? Essa foi uma das perguntas levantadas pela pesquisa de doutorado efetuada pelo jornalista Gustavo Smiderle no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF. Em um contexto de sociedade moderna e Estado laico, a resposta mais esperada para essa pergunta seria “não”, mas a realidade encontrada pelo pesquisador foi um pouco diferente.

É de conhecimento geral que as igrejas evangélicas pentecostais disseminam um estilo religioso com ênfase na emoção e em milagres, usam de uma leitura mais literal da Bíblia e tendem a explicar bons e maus acontecimentos do mundo pela batalha entre o céu e o inferno. Segundo a pesquisa, que teve vertentes quantitativa e qualitativa, é neste grupo da população que se encontra o maior número de pessoas que consideram mais importante a crença em Deus, por exemplo, na hora de escolher um candidato. O trabalho foi orientado pelos professores Sergio de Azevedo e Wania Mesquita, do CCH/UENF.

A pesquisa utilizou dados de questionários aplicados em Campos (2008) e em Macaé (2009) e ainda informações levantadas anteriormente pelo “Observatório das Metrópoles” nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Natal. Em Campos e Macaé, o questionário incluiu questões para avaliar a importância que os eleitores atribuem a critérios religiosos na escolha dos candidatos, o que pôde ser cruzado com a pertença religiosa do entrevistado. Os resultados indicaram que os que se declararam evangélicos pentecostais ou católicos carismáticos – a vertente pentecostal do catolicismo – davam mais importância a parâmetros religiosos.

— Um governante evangélico atrairia bênçãos para o país enquanto um governante “pecador” acarretaria consequências negativas — afirmou um pastor entrevistado na fase qualitativa da pesquisa, intitulada 'Modernidade mágica: o pentecostalismo brasileiro 100 anos depois'.


De acordo com o estudo, os praticantes das religiões evangélicas pentecostais tendem a analisar toda a realidade pelo filtro de categorias religiosas. Não só na política ou na eleição, mas em todas as áreas da vida. Segundo esta visão de mundo, a maioria do que acontece na Terra é reflexo da batalha espiritual entre Deus e Satanás. Isto pode ser aplicado a fatos como perda de emprego, problemas conjugais ou doenças não diagnosticadas: tudo isto seriam obras de entidades malignas que se aproveitam das fraquezas humanas.

- Trabalhamos com a noção de pentecostalização e vimos que onde ela é mais forte o indivíduo fica mais exposto à possível influência das lideranças religiosas sobre suas decisões eleitorais – resume Gustavo Smiderle, que contou com a colaboração do professor Vitor Morais Peixoto e do então mestrando Marcus Cardoso na tabulação dos dados.

Veja artigo sobre a pesquisa publicado na Revista Religião e Sociedade.

Ana Clara Vetromille



3 comentários:

  1. Na minha opinião, o caráter de um homem não está relacionado diretamente a sua religião, mas sim naquilo que ela aprendeu desde a sua infância. Ser evangélico não é sinônimo de bom caráter, bem como o não ser evangélico sinônimo de mau caráter. É preciso, acima de tudo, estar preparado para exercer o cargo pólitico, tendo em mente o propósito pela qual foi designado: "Representar o povo e buscar o interesse do coletivo".

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  2. Nada do que foi reportado é novidade. O autor do post diz:

    "Em um contexto de sociedade moderna e Estado laico, a resposta mais esperada para essa pergunta seria “não”, mas a realidade encontrada pelo pesquisador foi um pouco diferente."

    É um pouco de ingenuidade achar que a resposta mais esperada seria "não". Basta conversar 5 minutos em uma fila de banco ou observar as eleições proporcionais no Brasil.

    Embora os resultados sejam importantes para nortear políticas que neutralizem a influência religiosa no processo eleitoral, estes estão longe se serem considerados grandes novidades.

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  3. Uma tendência normal é que a opção religiosa induza o indivíduo a escolher candidatos que professem os mesmos valores que ele. Porém isso não seria diferente se o caso fosse um candidato que defendesse o agnosticismo. Todo ateu votaria nele. Considero a pesquisa rasa e tendenciosa.

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