A pesquisa teve por objetivo identificar os estoques pesqueiros do camarão sete barbas ao longo da costa leste do país, a partir da variação de forma de seu cefalotórax (região anterior do corpo dos crustáceos, que compreende a cabeça e o tórax juntos). A hipótese — confirmada durante a pesquisa — era a de que as diferenças ambientais (como temperatura da água, salinidade e tipo de sedimento) poderiam influenciar na diferenciação morfológica entre grupos populacionais da espécie, formando distintos estoques pesqueiros. As áreas escolhidas foram Caravelas (BA), Vitória (ES), Atafona e Farol.
— Verificamos a existência de dois grupos distintos da mesma espécie entre as áreas de coleta. Os camarões coletados nos portos de Caravelas, Vitória e Atafona (maiores), que sofrem influência permanente dos aportes de água doce e se associam a substrato arenoso-lodoso, formaram um grupo distinto em relação aos indivíduos coletados em Farol, área que não tem esse tipo de influência e que apresenta substrato arenoso, temperatura média da água mais baixa e salinidade mais elevada. — explica Bissaro.
Segundo ele, a pesquisa pode ajudar a criar formas mais sustentáveis para a comercialização do camarão, bem como estabelecer períodos de defeso específicos para cada região. Para tanto, acrescenta, é necessário reconhecer os estoques existentes e a forma como se distribuem, promovendo um melhor entendimento sobre os impactos da pressão pesqueira.
— Estudos sobre essa espécie são considerados prioridade para o governo brasileiro, devido à sua importância como recurso pesqueiro. É importante que haja outros estudos dessa natureza ao longo de outras áreas de distribuição e exploração comercial da espécie, para a aplicação de políticas pesqueiras que mantenham a sua sustentabilidade — afirma.
O camarão sete barbas é a espécie mais representativa dentre os crustáceos explorados pela pesca artesanal marinha no país. A produção anual da espécie na costa leste do Brasil é estimada em cerca de 5 mil toneladas, o que representa 42% da produção total da pesca direcionada a crustáceos marinhos.
Em 1984, o governo implantou a política do defeso, proibindo a pesca dos camarões rosa em mar aberto, do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, durante meados do verão e final do outono. Desde 2008 está em vigor a política atual do defeso, que vale para várias espécies de camarão que se distribuem no sul e sudeste do país — incluindo o sete barbas.
Fúlvia D'Alessandri
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