quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Coluna Nutrição: Diabetes



 Diabetes: você pode ter e não saber

 Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*

Em 2011, a Federação Internacional de Diabetes divulgou o último levantamento sobre a quantidade de diabéticos no mundo, mostrando que a doença atinge pelo menos 366 milhões de pessoas. No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas são portadoras da doença e 500 casos surgem a cada dia. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, apresenta o maior contingente diabético do país, afetando quase 10% da população. Segundo o Ministério da Saúde, o Diabetes está entre as cinco doenças crônicas não transmissíveis que mais matam no mundo.

Existem principalmente dois tipos de Diabetes: o tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 chama-se Diabetes Mellitus Insulinodependente. Ela ocorre quando o indivíduo não produz insulina em função da doença autoimune. Assim, o próprio organismo destrói células específicas do pâncreas que produzem insulina (células beta). Com a ausência ou baixa produção deste hormônio, a glicose se eleva no sangue. Estes indivíduos, portanto, necessitam de medicamentos e insulina, que também são fornecidos gratuitamente em setores públicos de saúde.

Indivíduos portadores do Diabetes tipo 2, entretanto, produzem insulina normalmente, mas possuem muitas células parcialmente ou totalmente insensíveis ao contato com a insulina, diminuindo a captação de glicose no sangue e, consequentemente, elevando o teor da substância. O Diabetes Mellitus tipo 2 acomete 90 a 95% dos diabéticos e sua causa é multifatorial, influenciada pela inatividade física, excesso de gordura corporal, genética e dieta. Mas qual a importância de controlar o teor de glicose no sangue?

O teor de glicose no sangue não pode ser muito baixo, inferior a 70mg/dL de sangue, pois resulta em hipoglicemia, fraqueza, até coma e morte. E nem alto, frequentemente acima de 126 mg/dL de sangue, resultando em hiperglicemia contínua. Em curto prazo, a constante hiperglicemia, em termos populares, resulta na produção de substâncias que podem prejudicar a visão, a função de proteínas das células do sangue, dos vasos sanguíneos e de receptores de insulina contribuindo para o desenvolvimento do Diabetes. Se o Diabetes não for tratado, os efeitos mencionados acima se agravarão, podendo resultar em doenças oftalmológicas, insuficiência renal, doenças neurológicas, cardiovasculares, acidente vascular periférico e cerebral (AVC) e morte.

Há muitas pessoas que são diabéticas ou pré-diabéticas (glicose no sangue em jejum, regularmente, entre 100 e 125mg/dL de sangue) e não sabem, pois os sintomas podem não ser percebidos pelo doente. Segundo o Ministério da Saúde, em recente diretriz para cuidado aos diabéticos, publicada em setembro de 2012, os principais sintomas clínicos são: perda de peso aparentemente inexplicável, urinar em grande quantidade sem ingestão de muito líquido, além de excessiva sensação de sede. Se você tem estes sintomas, procure um(a) médico(a), de preferência endocrinologista. É preciso investigar bem para diagnosticar corretamente.

E a nutrição, em quê ela pode contribuir para prolongar, melhorar a qualidade de vida dos diabéticos e prevenir a doença? Seguem algumas contribuições:

1.    Além de cuidado médico, os diabéticos devem ter orientação nutricional para elaboração de dietas e monitoramento da glicose no sangue. Ter Diabetes não significa ser proibido de ingerir os alimentos que se deseja, mas sim ter o controle dietético. Os pré-diabéticos e indivíduos não diabéticos com histórico da doença na família devem ter atenção redobrada.

2.    Jamais elimine carboidratos da dieta. Isto independe se você é ou não diabético. Ingerir carboidratos é fundamental à vida!


3.    Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 61% dos casos da doença ocorrem devido à obesidade! Portanto, evite o consumo de alimentos em excesso e faça exercícios físicos com respaldo médico.

4.    Sempre que possível, ao consumir alimentos ricos em carboidratos, procure ingerir juntamente alimentos ricos em fibras e proteínas, mas com pouca gordura. Exemplo: comer pão ou torrada com creme de ricota ou requeijão light pode ser mais saudável do que comer a torrada ou pão puro. Do ponto de vista técnico, o índice glicêmico da torrada complementada é menor. Outros exemplos mais saudáveis: macarrão com molho “light” e vegetais, pão integral com sementes, arroz com feijão, iogurte light, queijo com goiabada, refeição em geral com vegetais.

5.    Evite a ingestão excessiva de bebidas ricas em sacarose (açúcar), como refrigerantes, refrescos de guaraná adocicados (que não podemos citar o nome) e sucos adoçados.

6.    Um recado àqueles que praticam exercícios físicos (não atletas): não consumir suplementos à base de maltodextrina em excesso (hipercalóricos). A maltodextrina é um carboidrato de rápida absorção, que provoca picos agudos de glicose e insulina no sangue, fato que deve ser evitado para prevenção do Diabetes. Estes produtos foram elaborados para atletas e devem ser ingeridos estrategicamente. Consumi-los sem orientação nutricional pode fazer mal em longo prazo (leia a matéria anterior sobre Suplementos Alimentares, neste mesmo Blog).

7.    Consuma diariamente verduras, legumes e frutas, de preferência in natura. Exemplos de frutas indicadas para os diabéticos: pera inteira, maçã inteira, mamão, morango, kiwi, laranja baía, uva inteira, abacate e acerola.


* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF

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