sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Coluna Nutrição: Alimentação e festas de fim de ano






Alimentação e festas de fim de ano


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*



Panetone engorda? Cerveja e rabanada aumentam a “gordura da barriga”? Existe dieta desintoxicante? Estas são algumas dúvidas muito comuns em festas de fim de ano, temas recorrentes em revistas populares, telejornais, e, claro, não poderíamos deixar de comentar aqui no blog Ciência UENF.

Não existe alimento que engorda, nem que emagrece. O que leva um indivíduo a ganhar ou perder peso é o desequilíbrio energético diário. Para entender melhor o que isso significa, suponhamos que um indivíduo necessite de uma quantidade diária de energia de 1500 Kcal. Se ele comer somente uma fatia de panetone (270 Kcal), a quantidade de energia obtida ainda será inferior ao que ele necessita. Entretanto, se além do panetone este mesmo indivíduo ingerir duas fatias de rabanada (477 Kcal), duas latas de cerveja de 350ml (286 Kcal), uma porção de castanha portuguesa (95 Kcal/50g), duas fatias grossas de peito de chester (99Kcal/100g), duas colheres de servir de arroz (128 Kcal/100g) e duas colheres de sopa de farofa simples (111 Kcal/porção de 30g), isso totalizará 1608 kcal. Observe que o somatório energético é superior ao que o indivíduo necessita diariamente, e provavelmente, haverá pequeno ganho de peso corporal. Portanto, não será o panetone, nem nenhum dos alimentos citados anteriormente que o engordará, mas sim o conjunto dos alimentos que ele ingeriu no dia.
               
Muitas vezes, o ganho de peso corporal devido à ingestão excessiva de alimentos em único dia não é percebido. Por exemplo, se uma pessoa diariamente ganha 66g de gordura (quantidade imperceptível) sem haver compensação, no final do mês ele terá engordado três quilos. A perda de peso não necessariamente envolve só a gordura, mas sim proteínas corporais (ex. músculos) e água. Quem faz restrição alimentar exagerada perde gordura corporal e músculos também. O ganho de peso pode estar associado à hidratação, aumento dos músculos e excesso de gordura corporal. No caso de indivíduos sedentários e sem alimentação equilibrada, o excesso de gordura é mais comum, e se diz que ele engordou.           

Em relação às bebidas alcoólicas, não existe comprovação científica da relação direta entre consumo de cerveja, por exemplo, e aumento de gordura abdominal. Mesmo assim, o álcool deve ser evitado. Ingerir bebidas alcoólicas em excesso e em longo prazo contribui para o surgimento de câncer de boca, esôfago, laringe, faringe, cirrose e outras doenças.  Estas bebidas também contribuem para desidratação pela elevada formação de urina, que resulta em dor de cabeça e mal estar (ressaca). Para amenizar este efeito desidratante do álcool, é aconselhável bastante ingestão de água. A cor da urina, normalmente tida como referência para verificação do estado de hidratação (cor clara indica boa hidratação), não pode ser utilizada quando se consome excesso de bebida alcoólica. O álcool faz com que a urina fique clara, mesmo que o indivíduo esteja desidratado. Normalmente, quando se ingere pouco líquido, a urina tende a ficar mais concentrada, e, portanto, amarelada.           

Devido ao consumo excessivo de alimentos, são elaboradas dietas com a promessa de que desintoxicam, ou que promovem a limpeza do corpo. Isto também é um mito. Estas dietas são ricas em antioxidantes, substâncias que não possuem capacidade de limpar o organismo, mas sim de reduzir a formação de substâncias que danificam as células por reação de oxidação, ou neutralizá-las. Reações deste tipo ocorrem a todo o momento, em qualquer ser vivo e durante a vida inteira, e não somente em humanos durante festas de fim de ano. Por isso, é recomendado estar sempre hidratado, consumir vegetais diariamente e evitar alimentos com elevado teor de gordura, carboidrato e sal (rever matéria “alimentação adequada” neste blog). Muitos tipos de dietas são criados sem respaldo científico, e muitas vezes, por serem muito restritivas, exigem muita mudança do hábito alimentar repentinamente. Práticas assim dificilmente são sustentadas. O indivíduo abandona cedo, e normalmente retorna ao peso anterior. Segundo o Conselho Nacional de Saúde dos EUA, 95% das pessoas que seguem dietas sem educação nutricional retornam ao peso anterior à dieta em até cinco anos.                                         

Os alimentos secos, como castanhas, nozes e amêndoas, são muito nutritivos. O vinho, embora contenha álcool, se consumido moderadamente, é benéfico à saúde, pois é rico em substâncias antioxidantes (ex. resveratrol).             

Por fim, não deixe de consumir o que deseja, mesmo que seja rabanada ou sorvete. A estratégia é intercalar ou combinar a ingestão destes alimentos com frutas e outros vegetais disponíveis na ceia, que podem até reduzir seu apetite. Consulte um nutricionista, que, entre outras coisas, lhe informará a sua necessidade energética diária, pois isto varia entre os indivíduos. Também por isto, as dietas jamais devem ser copiadas.

Boas festas!

* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF

Matemática divertida

Renata e o jogo que criou para ajudar no aprendizado de matemática
Para muitos alunos do ensino fundamental, a matemática pode parecer a grande vilã dos estudos. Mas, quando a aprendizagem é feita de forma lúdica, os números podem ser vistos como amigos e as operações matemáticas podem se tornar mais fáceis e divertidas.  É o que vem acontecendo com os alunos do 8º ano do Centro Integrado de Educação Pública Maria Aparecida Lima Souto Tostes, na cidade de Miracema, no Estado do Rio de Janeiro, que este ano puderam aprender a divisão através de um jogo criado pela professora Renata Nalim Basilio Tissi.

— Esse jogo surgiu pela necessidade de fazer com que os alunos pudessem aprender a dividir. Alguns possuem dificuldades com este tipo de operação e o jeito foi tentar criar algo que diminuísse tal dificuldade — conta a professora.

Renata é licenciada em Matemática pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e atualmente cursa Ciências Biológicas pela UENF através do Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj). Criado em 2000, o consórcio Cederj leva educação superior gratuita e de qualidade a todo Estado do Rio de Janeiro através de sete instituições: UENF, Cefet, Uerj, UFF, UFRJ, UFRRJ e Unirio. Além da licenciatura em Ciências Biológicas, a UENF também oferece licenciatura em Química no âmbito do Cederj.

— O ensino a distância é realmente ótimo pra mim, pois não preciso me afastar da família e ainda tenho uma graduação gratuita e de qualidade — afirma Renata.

A ideia de criar outras formas de aprendizagem vem desde a faculdade, onde participou do projeto ‘Os conceitos da Etnomatemática nos Jogos Infantis’. A partir daí, ela percebeu a importância da atividade lúdica em sala de aula e começou a colocar suas ideias em prática logo no início da docência.

— Atividades lúdicas fazem com que os alunos aprendam mais, pois eles estão trabalhando com o concreto. Sabemos que trabalhar algo abstrato nos assusta; o lúdico é mais atraente e motivador — diz Renata.

Segundo Renata, o jogo matemático criado este ano ajudou a turma do 8º ano do Ensino Fundamental a superar as dificuldades com o cálculo e ainda trabalhou concentração e tolerância. Além disso, as peças são feitas com garrafas PET e outros materiais reutilizáveis, o que estimulou a consciência ambiental dos alunos.

— Tem gente que acha que Matemática não tem relação com Biologia, mas tudo está ligado — afirma.

A interdisciplinaridade está sempre presente nos projetos de Renata, que já possui uma parceria com a professora de Ciências Iolanda Oliveira na escola em que leciona. Juntas, elas realizaram o projeto ‘Pare, Pense e Recicle’, através do qual incentivaram a coleta seletiva junto aos alunos.  Renata conta que a união é um incentivo a seguir com o curso de Ciências Biológicas e ir adiante na área acadêmica.

— Pretendo dar continuidade aos estudos e a UENF pesa bastante na decisão, pois fica a duas horas de distância da minha cidade e me oferece a possibilidade de cursar uma pós-graduação.

Rebeca Picanço

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O PIB regional, parte por parte


Alcimar das Chagas: raio-x da economia regional
Os royalties representaram quase 57,74% do orçamento de Campos dos Goytacazes (RJ) em 2011, mas a dependência dos recursos do petróleo vem diminuindo. É o que afirma o economista Alcimar das Chagas Ribeiro, pesquisador do Laboratório de Engenharia de Produção da UENF, que acaba de lançar a edição revisada do livro "A Economia Norte Fluminense - análise da conjuntura e perspectivas". Nesta entrevista exclusiva ao Blog Ciência UENF, o pesquisador revela que, apesar das obras de implantação do Superporto do Açu, em São João da Barra, o comércio daquele município teve saldo negativo na oferta de empregos nos primeiros dez meses de 2012. Ao avaliar as transformações no cenário econômico do Norte Fluminense, Alcimar mostra que, em 2009, Campos representava 61% do Produto Interno Bruto (PIB) regional, enquanto Macaé respondia por 22%. Confira a entrevista na íntegra: 

Blog Ciência UENF: O que acontecerá com o orçamento de Campos se os royalties deixarem de ser pagos aos municípios produtores de petróleo?

Alcimar: As receitas provenientes de royalties de petróleo em Campos dos Goytacazes, no valor de R$ 1,2 bilhão, representaram proporcionalmente 57,14% das receitas correntes totais de R$ 2,1 bilhões em 2011. Entretanto, é importante observar que esse nível de dependência é decrescente ao logo dos anos. Em 2008 era 70,0%, caiu para 68,88% em 2009 e chegou a 57,74% em 2010. Apesar da trajetória de declínio, a parcela de royalties é ainda expressiva, e a sua subtração acarretaria prejuízos substanciais, já que o nível de investimento em torno de 19% das receitas correntes no município é bem razoável. Especificamente a saúde seria prejudicada, já que Campos funciona com polo receptor de pacientes dos menores municípios do seu entorno. Campos também vem recebendo uma forte pressão populacional em função do projeto do porto do Açu, e tais demandas sociais exigem investimento em infraestrutura. Naturalmente, a alternativa para redução da dependência orçamentária passa pelo fortalecimento das atividades econômicas internas, de forma que as receitas próprias alcancem um patamar mais representativo. Essas medidas, entretanto, dependem de uma maior interação entre governo, setor produtivo e universidade, já que a base dos rendimentos crescentes é a inovação, que por sua vez depende de conhecimento científico.

Blog Ciência UENF: O comércio de Campos dá sinais de vitalidade, mas parece carecer de uma base econômica estável e robusta. O que de fato acontece nesse terreno?

Alcimar: É necessário reconhecer que o sistema econômico na região Norte Fluminense, com exceção de Macaé, que é sede da estrutura física do setor petrolífero, é muito frágil. Especialmente Campos dos Goytacazes apresenta um sistema econômico de perfil sazonal. Movimenta a construção civil a partir de investimentos públicos e privados, cujo ciclo é de curto e médio prazo, e depende da atividade açucareira em declínio. No período de safra, a atividade gera muitos empregos no contexto da cadeia produtiva que envolve: agricultura, processamento, serviços e comércio. Mas ao final da safra o mesmo emprego desaparece. A base de sustentação da economia tem um respaldo muito forte na renda do serviço público. Existe um conjunto de instituições governamentais (federais e estaduais) que geram um padrão de renda muito importante. Outro grupo também relevante, em termos de renda, concentra os profissionais liberais e empresários de maneira geral. Essa situação não é tão cômoda, já que acaba por concentrar fortemente a renda e aprofundar a pobreza no município. A indução à geração de negócios produtivos garante a geração de emprego formal e a renda para as outras classes assalariadas, amortecendo o desequilíbrio hoje observado. Campos é cidade importadora de bens e serviços, ou seja, contribui para a geração de emprego fora. É necessário romper com essa dependência.

Blog Ciência UENF: Como o Complexo do Açu vai transformar a economia regional?

Lançamento dia 12/12, às 19h, em SJB
Alcimar: As obras do porto do Açu começaram no final de 2007, e já foram gastos em torno de R$ 2,6 bilhões. Aproximadamente 40 empresas atuam na retroárea do porto, desenvolvendo diversas atividades demandas pelo projeto. Toda essa movimentação não foi capaz de dinamizar a economia local. O emprego no comércio de São João da barra é negativo neste ano. De janeiro a outubro de 2012, o comércio local admitiu 261 trabalhadores e demitiu 280, destruindo 19 vagas de emprego. Voltamos aqui com a tese da dependência. Investimentos de fora para dentro, especialmente os baseados em recursos naturais, trazem ocupações incompatíveis com aquelas a que estamos acostumados. São atividades baseadas em conhecimento que exigem qualificações mais sofisticadas. Como sabemos, nossa mão-de-obra tem baixa qualificação e sobra nesse processo. Assim, a chegada de trabalhadores de outros estados e o aumento populacional geram externalidades negativas, como a especulação imobiliária e a pressão inflacionária que empobrece ainda mais a população local. Esse momento precisa de muita reflexão e comprometimento dos gestores públicos. Quanto à cidade de Campos, vem se beneficiando em função de sua infraestrutura econômica e social mais robusta e mais adaptada às exigências da população que chega com um maior padrão de exigência.

Blog Ciência UENF: O senhor acaba de lançar o livro “Economia Norte Fluminense – Análise de conjuntura e perspectivas”.  O Noroeste Fluminense entra na abordagem do livro? Que impactos o complexo do Açu poderá ter na região vizinha?

Alcimar: O livro por enquanto não estuda a região Noroeste. Entretanto os nossos planos são ambiciosos, e brevemente poderemos atuar no contexto do Estado. Quanto à região relacionada ao porto, posso dizer o seguinte: o complexo portuário do Açu em funcionamento exigirá a contratação de mão-de-obra especializada. São processos densos em tecnologia e, como já relatei, muito distantes das nossas experiências. Assim, teremos a importação de mão-de-obra, e a riqueza gerada será substancial; porém não existem garantias de absorção das externalidades positivas por essas populações. A questão da inserção automática é um problema. Aliás, temos o exemplo de Macaé bem próximo de nós. A experiência com petróleo já dura pelo menos 35 anos e, como podemos ver, não resolveu o problema de subdesenvolvimento desse território. Macaé apresenta problemas graves no contexto de toda riqueza gerada.

Blog Ciência UENF: Quantos por cento do PIB (Produto Interno Bruto) do Norte Fluminense estão em Campos e que fatia dele está em Macaé?

Alcimar: Em 2009 o município de Campos dos Goytacazes contabilizou um PIB de R$ 19,6 bilhões, com uma participação percentual de 61% do PIB total da região. Já Macaé contabilizou um PIB de R$ 7,0 bilhões, com participação de 22% do PIB da região.

Blog Ciência UENF: Se fossem abstraídas as plataformas no mar, o que restaria do PIB de Campos?

Alcimar: O que posso afirmar a esse respeito é que o PIB industrial em Campos, segundo IBGE em 2009, somou R$ 14,2 bilhões ou 72,79% do PIB total no valor de R$ 19,5 bilhões. A agropecuária somou R$ 153,9 milhões, e os serviços somaram R$ 4,7 bilhões. No caso da subtração do petróleo, é evidente que uma parcela substancial do PIB industrial desapareceria, e o setor predominante seria o de serviços.

Ana Clara Vetromille
Gustavo Smiderle


Leia também:

Concentração regional do PIB entre municípios volta a avançar (O Globo On-Line, 12/12/12)


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Coluna Nutrição - Beterraba



 Beterraba

Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda*

A beterraba é uma raiz tuberosa que pode apresentar duas colorações: branca, da qual se extrai o açúcar; e vermelha, que é utilizada na alimentação. A de cor vermelha é a mais comercializada no Brasil, cultivada principalmente nas regiões Sudeste e Sul.

É um alimento de baixo valor energético, possuindo teores insignificantes de proteínas, lipídios e moderados de carboidratos. Dentre os carboidratos, possui açúcares — que lhe conferem o sabor adocicado — mas, como estão em pequena quantidade, não apresentam riscos aos diabéticos. Possui também elevados teores de ácido fólico, potássio, e manganês.

A ingestão adequada de ácido fólico é importante para prevenir aterosclerose, problemas de má formação fetal, anemia, depressão e demência. O consumo de manganês ajuda a prevenir a osteoporose, má formação do esqueleto, intolerância a glicose e epilepsia. E a ingestão de potássio contribui, principalmente, para prevenir problemas cardiovasculares, “pedras” nos rins (litíase renal), problemas nos ossos e acidente vascular cerebral (AVC). Estudos mostram que o potássio, em quantidade adequada na alimentação (4g/dia), atua na redução da pressão arterial.


Sua cor vermelho-arroxeada é devido à presença de betacianinas, pigmentos hidrossolúveis que, além de fornecer coloração à raiz, também são importantes substâncias antioxidantes, atuando na prevenção de alguns tipos de câncer. A concentração dos pigmentos varia com o tipo e condições de cultivo, época de colheita e tamanho das raízes. Como os pigmentos são solúveis em água, os processos de lavagem e enxágüe após o corte contribuem significativamente para a sua perda.Estudos para manter a estabilidade destes pigmentos ainda precisam ser realizados visando a reduzir esta perda e preservar, assim, teores elevados destes antioxidantes naturais em beterrabas minimamente processadas.

Recentemente, foi demonstrado que a aplicação de ácido cítrico ao produto processado auxiliou na conservação destes pigmentos durante o armazenamento de beterraba minimamente processada. Os pigmentos ou corantes têm despertado especial interesse pela sua importância na indústria de alimentos. No caso de oferecerem menos riscos à saúde humana, poderão vir a substituir os corantes sintéticos, principalmente os que são questionados quanto a possíveis reações alérgicas. Seu emprego pode ser feito em sorvetes, iogurtes e alimentos que recebam tratamento térmico mínimo durante seu processamento.

Além de corante, também atua como conservante. No entanto, devido à presença de alguns compostos nitrogenados, como por exemplo nitratos e nitritos utilizados como conservantes em presunto, mortadela, salsicha e outros derivados cárneos, são capazes de reagir com estes pigmentos e formar compostos com ação carcinogênica. Por isso, coccionar a beterraba por 15 minutos e prosseguir com o descarte desta água ajuda a reduzir muito o teor de compostos nitrosos nestes alimentos. Posteriormente, é possível continuar o cozimento da beterraba normalmente. 

Devido à coloração vermelha, a beterraba tem sido equivocadamente considerada rica em ferro e utilizada no combate à anemia. Mas o teor de ferro presente na beterraba é similar ao encontrado em outros tubérculos, ou seja, quase zero.



* Professora e doutorando do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Lançado o milho pipoca UENF-14

Com capacidade de expansão e rendimento acima do recomendado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cultivar de milho pipoca UENF-14 foi lançada oficialmente na manhã desta quarta-feira, 05/12, no Colégio Agrícola Antônio Sarlo. Adaptada às características da região, a cultivar é fruto de 14 anos de trabalho dos pesquisadores do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF.

Segundo o professor Antônio Teixeira do Amaral Júnior, que coordena as pesquisas, a cultivar UENF-14 apresenta produtividade de 3.047 quilos por hectare e capacidade de expansão de 35,69 mililitros por grama — enquanto a base para o lançamento de uma nova cultivar, determinada pelo Mapa, é de um mínimo de 3 mil quilos por hectare e capacidade de expansão de pelo menos 30 mililitros por grama.

— O UENF-14 ainda é melhor do que os híbridos com as quais competiu em ensaios feitos no Norte (Campos dos Goytacazes) e Noroeste (Cambuci e Itaocara) Fluminense. Trata-se, pois, de material bastante competitivo, tendo vencido materiais considerados muito bons como o IAC-112. Importa detalhar que a UENF-14 é variedade de polinização aberta, portanto o agricultor poderá reutilizar as sementes para fazer novo plantio — disse.

Os professores Henrique Duarte Vieira, Alexandre Pio Viana e
Antônio Teixeira do Amaral Júnior fizeram o lançamento
oficial da nova cultivar de milho pipoca

A cerimônia de lançamento contou com a presença de um grupo de pequenos produtores rurais da região, que assistiram às explanações dos pesquisadores sobre o milho UENF-14. O professor Messias Gonzaga Pereira fez um histórico das pesquisas, lembrando que tudo começou com a vinda para a UENF do professor alemão Joachim Friedrich Wilhelm Von Büllow, da Universidade de Brasília (UnB), nos primeiros anos da UENF. Ele trouxe para a UENF a cultivar UNB-2, que, catorze anos mais tarde, daria origem ao UENF-14. Também participaram da apresentação do milho UENF-14 os professores Alexandre Pio Viana, José Oscar Gomes de Lima e Silvaldo Felipe da Silveira, além do diretor do CCTA, Henrique Duarte Vieira.

— A grande vantagem desta variedade de milho pipoca é que ela foi desenvolvida para a região. Estamos dando ao produtor mais uma opção de cultura, num lugar que antes só tinha cana. É a UENF cumprindo um de seus papeis, que é o de contribuir para o desenvolvimento regional — disse o diretor do CCTA, Henrique Duarte Vieira, acrescentando que as sementes deverão ser disponibilizadas nas lojas especializadas já no próximo ano agrícola.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Plantas medicinais

Glória, no 'Café com Ciência': respeito ao conhecimento popular
Como parte do Laboratório de Fitotecnia (LFIT) do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), o setor de Plantas Daninhas e Medicinais desenvolve atividades de pesquisa, ensino e extensão com plantas classificadas nas categorias “daninhas” e “medicinais, condimentares e aromáticas”, visando desenvolvimento de subsídios científicos de interesse ao manejo agrícola.
A engenheira agrônoma Glória Cristina da S. Lemos é responsável pela supervisão da linha de pesquisa “Manejo de culturas, plantas daninhas e medicinais”, e explica que as plantas medicinais são uma das categorias das plantas bioativas, sendo aquelas que apresentam alguma ação terapêutica sobre humanos ou animais.

- Quando a atividade biológica de uma planta sobre outros organismos, inclusive sobre plantas, resulta da liberação direta dos princípios ativos no ambiente, então podem ser classificadas como alelopáticas, cujo interesse de uso geralmente é biocida – diz Glória, que participou, em 22/11/12, da segunda edição do “Café com Ciência”, que promove o encontro entre cientistas e jornalistas, na UENF.

A linha de pesquisa é coordenada pelo professor Silvério de Paiva Freitas, atual reitor da UENF, de cuja equipe também participam bolsistas de graduação, de pós-graduação e da Universidade Aberta.

Etapa no processamento do material em laboratório
Em cerca de dez anos de pesquisa foram desenvolvidos 14 projetos. Dentre eles destacam-se “Estudo de plantas bioativas para sustentabilidade agroambiental com Eupatorium maximilianii Schrad”, “Interações plantas bioativas e ambiente”, “Tecnologias de baixo impacto ambiental para produção vegetal de interesse para biocombustível” e “Manejo orgânico de capim-limão”. Todos reúnem subsídios que apoiam as produções científicas e o desenvolvimento de atividades sustentáveis que envolvem a produção vegetal.

Os grupos de plantas estudadas são divididos de acordo com os fatores mercadológicos e de manejo. Segundo Glória, muitas plantas medicinais também são utilizadas como matéria-prima para diversos produtos, de modo que uma mesma espécie vegetal pode ser classificada em diversos categorias conforme sua finalidade de estudo ou de exploração econômica.

- O eucalipto, por exemplo, é muito utilizado nas indústrias de madeira, papel e aromatizantes, além das indústrias farmacêuticas – diz Glória, afirmando que cerca de 25% dos medicamentos farmacêuticos convencionais apresentam princípios ativos de origem vegetal.

A pesquisa também abrange projetos de extensão desde 2005, quando foi inaugurado o “Herbário Vivo – Horto Medicinal Orgânico: Interando Comunidade e Universidade”, que implantou uma coleção de plantas medicinais e se desenvolveu junto às comunidades rurais das regiões norte/noroeste do Estado do Rio de Janeiro, apoiando a agricultura familiar visando melhorias na qualidade de vida do agricultor.

- A inclusão da agricultura familiar nos arranjos produtivos norteia as políticas públicas brasileiras relacionadas a plantas medicinais, principalmente nas comunidades de assentados da reforma agrária – afirma Glória, que reconhece a importância do conhecimento popular e critica a forma como o assunto é abordado na mídia. Em sua opinião, muitos veículos de comunicação mostram os benefícios das plantas, mas não trazem explicações mais elaboradas; ou às vezes tratam informações de origem tradicional de forma alarmante, o que pode desagregar o patrimônio cultural de grupos sociais com valores conservados, que também são alvo das políticas mundiais sobre plantas medicinais para a ciência e o bem-estar social.

Rebeca Picanço