segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Feira agroecológica

Agricultores do Assentamento Zumbi dos Palmares participam desde 2007 de Feira Agroecológica na UENF

Você sabia que para ter uma alimentação saudável não é necessário ter muitos gastos? Com preços acessíveis, é possível comprar alimentos orgânicos vindos diretamente da produção agroecológica. Na Feirinha de Produtos Agrícolas, que funciona no prédio P5 da UENF toda terça-feira de manhã, são comercializados alimentos sem agrotóxicos produzidos por agricultores da região Norte Fluminense.

Criada através de uma parceria entre o Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB/UENF) e o Instituto de Agroecologia e Meio Ambiente (IAMASOL), a feira acontece desde 2007 e está em constante fortalecimento da agricultura familiar. A iniciativa é parte do projeto “Agroecologia: Difusão e Popularização de Tecnologias com Base Ecológica para a Agricultura no Norte Fluminense”, que há sete anos vem realizando diferentes trabalhos com o objetivo de difundir, incentivar e promover a agroecologia da região.

De acordo com o coordenador do projeto, professor Fábio Coelho, cresce cada vez mais o número de agricultores interessados na produção agroecológica.

— Muitos agricultores que ainda relutavam entre o convencional e o agroecológico, estão cada vez mais satisfeitos com a produção e comercialização de seus produtos agroecológicos. Isto devido ao retorno econômico mais promissor, bem como o menor risco de contaminação pela não utilização de agrotóxicos — disse.

Fábio afirma que a agricultura familiar é o setor que ocupa maior parte da mão-de-obra, servindo para assegurar a permanência da família no meio rural. Além da feirinha, o projeto realiza ações como cursos sobre as diversas técnicas de cultivo em agricultura orgânica e assistência técnica a partir de reuniões que auxiliam  a comercialização.

— Além da comercialização dos produtos, os agricultores da feirinha também trocam experiências entre si e com a comunidade universitária. Percebe-se que está havendo maior difusão da agroecologia no campo e na cidade através de pesquisas e trabalhos participativos, fortalecendo assim, a agricultura familiar e o desenvolvimento rural sustentável — disse.

Em 2007 o projeto resultou em vitórias concretas nos Assentamentos Zumbi dos Palmares em termos de crescimento na utilização de técnicas agroecológicas que reduzem o nível de contaminação por agrotóxicos. A partir de então, o trabalho se ampliou e agricultores do assentamento começaram a participar do projeto.

— A ideia é que todos os produtores melhorem a renda familiar, possam desenvolver os conhecimentos em agricultura agroecológica, tenham maior acesso aos alimentos básicos, maior preservação do meio ambiente e recursos naturais, maior produção de alimentos de melhor qualidade biológica sem contaminação por agrotóxicos, e consequentemente, obtenham melhoria nas condições de saúde e de vida, tanto no campo quanto na cidade.  Além disso, buscamos a diminuição do impacto ambiental e a sustentabilidade — explica Fábio.

Uma das conquistas dos agricultores foi conseguir um transporte para levar os produtos e os próprios feirantes até a UENF toda terça-feira. Isto foi possível em 2009, quando os produtores se reuniram com o reitor da Universidade e ficou estabelecido o apoio cedido pela UENF. Neste mesmo ano houve um crescimento no número de visitas, como também a possibilidade de manejo de pragas utilizando agentes de controle biológico cedidos por professores do LEF/CCTA em busca de soluções por meios mais ecológicos.

Além disso, o projeto ainda elabora um “jornalzinho” com informações sobre agroecologia e feiras solidárias e, atualmente, realiza cursos sobre cultivo e manejo de pragas da goiaba, abacaxi e coco. O próximo passo da equipe, em união com a Pesagro, é a implantação de uma horta-mandala, onde aulas práticas serão ministradas.      

Em seu aniversário de 20 anos, em agosto, a Universidade prestou uma homenagem ao agricultor Cícero Guedes, um dos integrantes da Feira, morto no início do ano. O local onde a Feira é realizada semanalmente, no prédio P5, recebeu o nome de “Espaço Agroecológico Cícero Guedes”.

Thais Peixoto

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Projeto Família Responsável

O professor Ângelo Burla conversou com os alunos
Numa parceria com o Rotary Club e escolas da rede pública de Campos, pesquisadores da UENF vêm desenvolvendo o projeto "Família Responsável", que tem por objetivo a prevenção da gravidez na adolescência. A primeira etapa do projeto ocorreu terça-feira, 19/09, quando um grupo de 60 alunos do 1º ano do ensino médio do CIEP Nilo Peçanha assistiu a aulas práticas ministradas por professores e estudantes da UENF sobre o aparelho reprodutor dos bovinos.

Os adolescentes tiveram a oportunidade de ver, através de microscópios e estereomicroscópios, espermatozoides, oócitos, embriões, fetos conservados e células da trompa uterina. Também foram utilizados órgãos de bovinos para mostrar como funciona todo o processo de reprodução do animal. De acordo com a presidente do Rotary Club e médica veterinária do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Genético Animal (LRMGA) da UENF, Carla Sobrinho Paes, ao utilizar o bovino como modelo biológico, os estudantes passam a ter mais consciência do próprio organismo e percebem como é a mobilidade das células, tanto animais quanto humanas.

— No momento em que a gente mostra o aparelho genital de uma fêmea e de um macho, além dos espermatozoides, os oócitos, embriões e as glândulas que estão envolvidas no processo reprodutivo, eles se conscientizam que essas células têm vida. Então a gente está sempre contextualizando com a espécie humana para mostrar aos alunos que o processo é o mesmo, ou seja, o organismo dos animais funciona de forma similar ao organismo humano — disse Carla, acrescentando que o material utilizado nas aulas práticas é doado por um matadouro e também é utilizado em pesquisas no Laboratório da UENF.


Os alunos visitaram a área rural da Universidade
O professor Ângelo Burla, do LRMGA, explicou aos estudantes como funcionam os mecanismos de regulação da temperatura no processo de formação do espermatozoide no bovino. Segundo Burla, milhões de espermatozoides são produzidos a cada dia. Até que estejam em condições de fertilizar o óvulo, eles passam por várias etapas. O ciclo completo dura em média 58 dias. Em sua explanação, o professor falou também sobre os mitos e verdades sobre a vasectomia.  

— Uma função é a produção espermática que se dá por um grupo de células existentes no testículo. A outra questão é a produção hormonal, que é por outro grupo celular. Então não significa que por ter tirado um fragmento e causado uma interrupção no trajeto dos espermatozóides, vá causar algum problema na produção hormonal. Ela continua independentemente desta situação —disse.

A 2ª etapa do projeto “Família Responsável” acontecerá nesta quinta-feira, 26/09, no CIEP Nilo Peçanha, de 8h30 às 11h30. Dessa vez, serão realizadas palestras abordando sexualidade, puberdade, ciclo menstrual e doenças sexualmente transmissíveis.

Para a aluna Noara Azevedo, de 18 anos, o projeto é bastante interessante, pois amplia o conhecimento na área e faz com que eles tenham mais certeza de qual carreira seguir.

— Muita coisa foi novidade para mim, principalmente sobre o sistema reprodutivo dos animais. E eu sempre gostei de Biologia, mas agora estou mais interessada ainda, acho que é o curso ideal para mim — disse.

Thaís Peixoto

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Darcy Ribeiro dá nome a alcaloide

Substância extraída da planta Rauvolfia grandiflora foi isolada por pesquisadores da UENF e batizada de ‘darcyribeirina’

Imortalizado no nome da UENF e, mais recentemente, em uma estátua colocada no foyer do Centro de Convenções, o mestre Darcy Ribeiro também será lembrado para sempre no reino vegetal. Seu nome foi escolhido para denominar um alcaloide da planta Rauvolfia grandiflora, da família Apocynaceae. Isolada em 2001, a substância foi batizada de “darcyribeirina” pelos pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas (LCQUI) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UENF, responsáveis pelo estudo.

O trabalho foi publicado em 2002 na revista científica internacional Tetrahedron Letters, sob o título “Darcyribeirine, a novel pentacyclic indole alkaloid from Rauvolfia grandiflora Mart”. A substância foi isolada durante as atividades de pesquisa da então mestranda em Produção Vegetal da UENF Náuvia Maria Cancelieri, com a orientação do professor Ivo José Curcino Vieira e coorientação do professor Raimundo Braz Filho.
   
Nativa da Mata Atlântica, a planta Rauvolfia grandiflora é abundante nas regiões Norte e Noroeste Fluminense e também no Espírito Santo. A coleta da espécie foi feita em uma fazenda no município de Bom Jesus do Itabapoana, com o objetivo de analisar a composição química das cascas de suas raízes. Segundo Curcino, trata-se de um tipo de planta invasora que pode ser uma das responsáveis pela mortalidade dos animais, já que os alcaloides são bastante tóxicos quando consumidos por bovinos.
Ivo Curcino

— Para o gado não comer, os fazendeiros costumam podar a planta por cima, mas as raízes possuem um tronco bem grande. Então a gente coletou as cascas desses troncos para fazer a análise de sua composição química — diz. 

No entanto, os alcaloides são substâncias que apresentam em seu esqueleto um ou mais átomos de nitrogênio. Portanto, a produção dessa substância na Rauvolfia é considerada importante, uma vez que ela possui grande variedade de atividade biológica, agindo no tratamento de diversos problemas, como arritmias cardíacas, tumores, febre, depressão, entre outros.

A pesquisa resultou no isolamento de oito alcaloides: isoreserpilina, darcyribeirina, darcyribeirina B, 11-demetoxidarcyribeirina, 10-demetoxidarcyribeirina, N-óxido-isoreserpilina, N-óxido-7-hidroxiindolina-isoreserpilina e isoreserpina. Segundo o professor, dentre os oito alcaloides, seis são inéditos na espécie, inclusive a darcyribeirina, o que torna a pesquisa pioneira. Apesar de a planta já ter sido analisada no Recife, ainda não havia estudos com essa classe de substâncias.

— Até então ninguém tinha pesquisado os alcaloides dessa espécie, especialmente o novo alcaloide darcyribeirina, pois era uma substância natural desconhecida. Essa dissertação foi inédita, criando o cenário para outras atividades de pesquisa com a classe dos alcaloides, envolvendo o grupo de pesquisadores de produtos naturais da UENF — disse Curcino, lembrando que o trabalho estimulou outro estudo com uma substância diferente, publicado em outra revista. Graças às pesquisas, o grupo  se tornou referência para trabalhar com essa classe substâncias.

O professor observa que, após esta pesquisa com os alcaloides,  surgiram parcerias entre a UENF e outras universidades, como a UFF e UFRJ. Estas parcerias resultaram em trabalhos de prevenção contra a enzima da inibição do mal de Alzheimer, atividades biológicas anticancerígenas e anti-leucêmicas.

Raimundo Braz
Atividades medicinais deverão ser investigadas

De acordo com o professor Raimundo Braz Filho, o Brasil possui de 40 a 200 mil espécies vegetais — o que representa um terço das espécies de plantas existentes no planeta — e cerca de 10 mil delas são medicinais. Portanto, é possível realizar mais pesquisas com diversas substâncias para tratamento e preservação da saúde humana. Braz ressalta que o alcaloide darcyribeirina poderá ser investigado para avaliação de atividades medicinais.

Para a autora da dissertação, Náuvia Maria Cancelieri, o estudo foi muito gratificante e as constatações despertaram mais empenho na pesquisa.

— Estes fatos, aliados à grande importância farmacológica dos alcaloides isolados de espécies do gênero Rauvolfia, fizeram com que o estudo fitoquímico de Rauvolfia grandiflora fosse bastante excitante — conclui a pesquisadora.

Thaís Peixoto
Fúlvia D'Alessandri

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Preservando as orquídeas

Projeto de extensão da UENF busca conscientizar a população sobre necessidade de preservar as orquídeas em seu habitat

A região Sudeste concentra a maior parte dos produtores de orquídea — uma das principais flores cultivadas e comercializadas no país. Com o intuito de conscientizar a população sobre a necessidade de preservação destas flores em seu habitat, os professores Virgínia Silva Carvalho e Henrique Duarte Vieira, do Laboratório de Fitotecnia (LFIT) da UENF, realizam há cinco anos o projeto de extensão “Entendendo as plantas da família Orchidaceae: conhecer para preservar e produzir com sustentabilidade”.

Durante os cinco anos deste projeto foram ministrados mais de 40 cursos na UENF, na Associação Orquidófila Vale do Itabapoana (AOVI) e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro durante a Exposição “OrquidaRio”, com um público estimado de mais de mil pessoas.

— Nos cursos explicamos a importância de preservar as orquídeas em seu habitat e de não utilizar substratos oriundos da extração, como o xaxim e a casca de peroba, como formas de preservação do bioma. As orquídeas têm uma relação direta com fungos e insetos, sendo responsáveis pelo equilíbrio do meio ambiente — explica Virginia.

Os cursos buscam ampliar o nível de conhecimento e capacitar os produtores nas técnicas de cultivo e na produção comercial. Desta forma, vêm sendo oferecidos também cursos mensais sobre cultivo de orquídeas aos produtores, orquidófilos e demais interessados na produção de mudas de orquídeas in vitro. 

Virgínia Silva Carvalho
Neste ano foram desenvolvidos protocolos para a produção de mudas em larga escala visando atender aos produtores da região Norte e Noroeste Fluminense, como também aos mercados internos e externos. Segundo Virginia, o método utilizado para o semeio in vitro de orquídeas propõe a redução dos custos de produção. Portanto, há uma substituição de componentes do meio de cultura por outros mais simples como, por exemplo, a troca da sacarose P.A. por açúcar cristal, ágar por amido, entre outros que simplificam o preparo do meio de cultura e reduzem os custos de produção.

Além disso, o projeto busca impulsionar o desenvolvimento da floricultura na região Norte e Noroeste Fluminense, como também abordar a importância de reintroduzir plantas em ambientes de conservação e da reconstituição de habitats degradados pela ação indiscriminada do homem.

De acordo com Virginia, o fortalecimento de polos regionais e a grande variedade do consumo de espécies contribuem para o aumento da produção de orquídeas, o que garante maior empregabilidade tanto na área rural quanto nas cidades, propriedades e empresas agrícolas.

— Esse crescimento representa uma alternativa altamente eficiente e eficaz para o desenvolvimento econômico e social sustentável e equânime entre as diversas macrorregiões geográficas do País — disse.

Segundo Virgínia, os pesquisadores envolvidos no projeto realizam reuniões mensais na UENF, todas as segundas quartas-feiras de cada mês, às 19h, na Sala de Conferência do prédio. P4.

Extrativismo era comum até o século XX

Até o século XX o comércio de orquídeas tropicais era realizado de forma extrativista e sem preocupação com a preservação dos habitats. Devido à falta de conhecimento das técnicas de cultivo, a maioria das plantas acabava morrendo na Europa, onde eram levadas após serem retiradas das florestas tropicais americanas e asiáticas.

O cultivo comercial de orquídeas só teve um grande incentivo a partir do século XX com o aprimoramento dos métodos de propagação. De acordo com Virginia, a comercialização dessas plantas no Brasil é recente, embora a atividade já contabilize números bastante significativos.

— São mais de 4 mil produtores, cultivando uma área de aproximadamente seis mil hectares anualmente, em 304 municípios brasileiros em 12 polos de produção. Atualmente é notável o crescimento e consolidação de importantes polos florícolas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e na maioria dos estados do Norte e do Nordeste. O Rio de Janeiro importa cerca de 90% das flores que consome, sendo o segundo maior consumidor do Brasil, o que se traduz em um grande potencial de crescimento da floricultura no estado — relata Virgínia, acrescentando que os dados são da floricultura brasileira e não apenas dos produtores de orquídeas.


Thaís Peixoto
Álvaro Sardinha