quarta-feira, 27 de março de 2013

Coluna 'Um quê de neurociência" - O poder da mente




O poder da mente: telepatia e movimento de objetos com o pensamento são reais.........com a ajuda de eletrodos! 


Arthur Giraldi Guimarães*


As possíveis habilidades mentais ditas “paranormais”, como a telepatia (capacidade de ler ou transmitir pensamentos para outras mentes sem conexão física, corporal, verbal ou escrita) e a telecinese (capacidade de movimentar objetos à distância, sem tocá-los) são fenômenos envoltos em dúvidas, charlatanismo e incredulidade. Afinal, não existem evidências científicas concretas e irrefutáveis de que sejam verdadeiros. Portanto, para a Ciência moderna, ou pelo menos para a maioria dos cientistas, estes fenômenos não existem.

Mas, interessantemente, a própria Ciência já é capaz de produzir fenômenos ao menos semelhantes, pois exploram a “força da mente”. Só que se utiliza de microeletrodos implantados no cérebro para dar um “empurrãozinho”! É isso que estudos recentes têm demonstrado, dando grande esperança para, por exemplo, restituir a capacidade de realizar movimentos em pessoas com paraplegia ou tetraplegia. A pessoa precisa apenas usar a sua mente, e os eletródios e demais aparatos (como braços e pernas mecânicos) fazem o resto.

A inovação tecnológica destes estudos pode ser denominada como “interação cérebro-máquina”. O córtex cerebral é responsável pelos nossos movimentos voluntários e sensações conscientes. Ele contém regiões que processam especificamente cada uma das modalidades sensoriais (os famosos “cinco sentidos”), bem como os comandos motores voluntários (figura 1).

Figura 1: córtex cerebral humano, mostrando as principais regiões sensoriais e motoras.
Extraído do site: http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto7.htm

As informações que chegam dos nossos órgãos dos sentidos atingem essas regiões corticais, e é só aí que temos a percepção consciente delas. Quanto ao movimento, nosso córtex motor é quem manda a ordem final de movimento para a medula espinhal, que a repassa para os músculos esqueléticos.

Acontece que podemos estimular artificialmente estas áreas, causando sensações “virtuais” ou movimentos não produzidos pela nossa vontade. Por exemplo, se implantarmos um eletrodo de ativação no córtex visual, a pessoa verá alguma coisa, mesmo que sua retina não seja ativada por imagem alguma! Da mesma forma, se estimularmos a região somestésica (sensorial, na Figura 1), a pessoa sentirá algo tocando na sua pele, mesmo que isso de fato não tenha acontecido. Se estimularmos a área motora, um ou mais músculos irão se contrair.

Um eletrodo pode ser de estimulação ou de detecção. Com o advento de microeletródios cada vez mais sofisticados, é possível detectar o padrão de ativação dos neurônios dessas regiões quando eles estão sendo ativados para realizar suas respectivas tarefas. Pode-se determinar o padrão de ativação do córtex motor quando a pessoa abre a mão, fecha a mão, levanta o braço, gira a mão para a direita, para a esquerda, e assim sucessivamente. O segundo passo é associar cada padrão de ativação desse (através de linguagem eletrônica) ao comando de um braço mecânico, que faz o movimento específico de cada padrão de ativação cortical. Assim, implante-se no córtex motor um microeletródio de detecção acoplado ao braço artificial, e toda vez que a pessoa pensa em realizar um movimento, o braço decodifica o padrão de ativação e realiza o movimento desejado!

O mesmo pode acontecer no sentido inverso, o da sensação. Ao se conhecer o padrão específico de ativação cortical da área somestésica para cada tipo de sensação tátil (pressão, toque fino, temperatura, etc...), pode-se implantar no córtex somestésico microeletrodos de estimulação acoplados a um braço sensível ao toque e temperatura. Quando, por exemplo, a mão do braço biônico é tocada por algo, isso leva à estimulação da área cortical de representação somestésica da mão pelo microeletródio implantado. Como este produz o mesmo padrão de ativação neuronal para o toque, a pessoa sentirá a mão biônica sendo tocada.

Um exemplo de um desses estudos foi o realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos EUA. Eles implantaram dois microeletrodos, cada um com 96 agulhas de detecção, no córtex motor de uma paciente tetraplégica de 52 anos (figura 2). Após 13 semanas de treinamentos, a paciente foi capaz de controlar o braço “pelo pensamento”, fazendo-o realizar movimentos e segurar objetos da forma como ela pensou na sua mente. Como se fosse o seu braço natural! Os autores do estudo declararam que o nível de destreza obtido com o braço desenvolvido por eles foi sem precedentes.

Figura 2: Foto da paciente tetraplégica e do braço mecânico acoplado a microeletrodos implantados
ao cérebro da paciente. Extraído de: BBC Brasil.

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (figura 3), do Laboratório de Neuroengenharia da Universidade de Duke (EUA) e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (Brasil), talvez seja o pesquisador que mais contribua para os avanços da “interação cérebro-máquina”. Além de estudos semelhantes ao relatado acima, ele tem demonstrado, ao menos com animais, outras possibilidades dessa tecnologia.

Num dos seus estudos recentes, ele e seu grupo conseguiram implantar um “sexto sentido” em ratos. Eles acoplaram um detector de luz infravermelha (radiação que mamíferos não são capazes de detectar) a um microeletrodo implantado no córtex somestésico. O resultado foi que os animais foram capazes de detectar o infravermelho e responder a ele! Toda vez que a luz infravermelha era emitida por uma fonte, eles tinham que movimentar uma alavanca para obter uma recompensa. Os animais foram capazes de sentir perfeitamente o infravermelho, uma vez que responderam a ele movimentando a alavanca, apenas quando ele era emitido.

Não podemos saber qual foi a sensação provocada pelo infravermelho, uma vez que os ratinhos não falam para nos responder sobre o que sentiram! Mas é muito provável que tenham tido a mesma sensação tátil das vibrissas, uma vez que o microeletrodo foi implantado na área somestésica correspondente a estas. Só que neste caso, a estimulação real foi provocada pelo detector da luz infravermelha, e não pela via natural (o toque nas vibrissas). Entretanto, os animais foram capazes de aprender a diferenciar a estimulação pelo infravermelho daquela feita pelas vibrissas (capacidade esta que não foi perdida). Isso abre a possibilidade de eles terem desenvolvido um novo tipo de sensação, diferente da sensação tátil provocada pelas vibrissas, configurando-se um novo sentido!

Figura 3: O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, um dos principais responsáveis pelo avanço
da "interação cérebro-máquina".

Num outro estudo recente, igualmente fascinante, eles conseguiram algo tipo uma telepatia! Dois ratos foram implantados com microeletrodos em seus respectivos córtices motores. Um deles, o codificador, recebeu microeletrodo de detecção e aprendeu mais intensamente a realizar uma tarefa motora que o outro (o decodificador, que recebeu microeletrodo de estimulação). O codificador tinha que decidir sobre movimentar uma alavanca baseado em pistas visuais. O decodificador tinha que fazer a mesma decisão, mas sem a pista visual.

A única pista que ele tinha era o padrão de estimulação do córtex motor do codificador, que era detectada pelo microeletrodo deste e repassada (apenas quando o codificador acertava a tarefa) para o seu, que estimulava o seu córtex motor. Os resultados mostraram que o rato decodificador recebeu e utilizou eficientemente as pistas embutidas no padrão de ativação cortical do rato codificador, uma vez que o seu percentual de acerto da tarefa foi significativamente acima do que seria esperado por mero acaso. Ou seja, eles realmente trocaram informações diretamente entre seus cérebros! E detalhe: os pesquisadores reproduziram isso com um rato no Brasil e outro nos EUA (telepático, não?).

Os estudos nessa área são fascinantes e revolucionários não apenas pelo grande potencial terapêutico que apresentam. As aplicações destas novas técnicas vão muito além da possibilidade de restituir movimentos ou sensibilidade (de todos os cinco sentidos) a pessoas que os perderam. Elas também podem permitir no futuro a expansão das nossas capacidades sensoriais para além daquelas naturais, bem como o estabelecimento de uma rede de comunicação interpessoal apenas com o pensamento, sem necessidade de falar ou apertar botões!!!

É.........a meu ver, o mais irônico disso tudo é que fenômenos parecidos com telepatia ou telecinese nunca estiveram tão perto de se tornar realidade..........e graças à própria Ciência, que tanto as refutou. Já que os fenômenos da parapsicologia são furados (até que se prove o contrário!), fiquemos então com as suas versões “camufladas” da Ciência. Elas parecem ser mais eficientes.......


*Professor do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF.


SUGESTÃO DE LEITURA:

High-performance neuroprosthetic control by an individual with tetraplegia. Collinger JL, Wodlinger B, Downey JE, Wang W, Tyler-Kabara EC, Weber DJ, McMorland AJ, Velliste M, Boninger ML, Schwartz AB. Lancet. 2013 Feb 16;381(9866):557-64.

Perceiving invisible light through a somatosensory cortical prosthesis. Thomson EE, Carra R, Nicolelis MA. Nat Commun. 2013 Feb 12;4:1482.

A Brain-to-Brain Interface for Real-Time Sharing of Sensorimotor Information. Pais-Vieira M, Lebedev M, Kunicki C, Wang J, Nicolelis MA. Sci Rep. 2013 Feb 28;3:1319.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Coluna Nutrição - Lichia




Lichia


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*


Oriunda da Ásia há 1500 a.C, a lichia (Litchi chinensis Sonn.) só começou a ser cultivada e comercializada no Brasil em 1970. Após virar febre no verão conquistando os brasileiros até na forma de sorvete, a lichia vem ganhando espaço nas dietas da moda não apenas pela boa aparência e sabor doce, mas também pelos benefícios à saúde que pode proporcionar.
Além de ser rica em vitamina C, a fruta contém elevados teores de substâncias antioxidantes, por isso seu consumo pode favorecer a prevenção de doenças cardiovasculares e neurológicas, tumores, redução da resistência à insulina, além de possuir ação antiinflamatória. O efeito antioxidante é atribuído aos compostos fenólicos, as antocianinas e flavonoides, presentes em maior concentração na casca da fruta, de onde se originam os extratos concentrados de lichia utilizados em pesquisas farmacológicas. Na tabela 1 é informado o teor de nutrientes em 100g da fruta.

Tabela 1

Na gastronomia e comércio, a lichia é utilizada e ofertada na forma fresca, enlatada, congelada, desidratada, sucos, vinhos, picles, compotas, sorvetes e iogurtes. Na tabela 2, é mostrada a comparação do teor de nutriente em 100g de lichia comercializada na forma fresca, congelada e desidratada. Em função da menor quantidade de água na lichia desidratada, os nutrientes ficam mais concentrados, e comparativamente, em maior quantidade.

Tabela 2

   Embora existam estudos correlacionando o consumo de lichia e perda de gordura corporal em ratos, não há comprovação do mesmo efeito em humanos. Ainda assim, muitos fabricantes de suplementos e editoras de revistas populares se precipitam ao informar que comer lichia emagrece. Com isso, a venda de produtos destinados à estética corporal aumenta, e os preços dos mesmos sobem em função do sucesso de venda, mas não do efeito fisiológico prometido.
    Portanto, se você teve a idéia de incluir a lichia no seu cardápio, a atitude é saudável, pois a fruta é rica em vitamina C e pouco calórica. Todavia, devemos ficar alertas com as propagandas de alimentos exóticos, muitas vezes pouco conhecido pela ciência de alimentos, mas com promessas milagrosas em capas de revistas, sempre acompanhadas de imagem de abdomens sarados!

* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF


quinta-feira, 21 de março de 2013

Avanço nas pesquisas contra a malária


Artigo de pesquisadores da UENF e da UFPA sobre a malária aviária é o mais visto na Veterinary Research, revista científica de maior impacto na área de veterinária

Foto-legenda publicada na Revista Veterinay Research
Um artigo assinado por pesquisadores da UENF e da Universidade Federal do Pará (UFPA) sobre malária aviária tem sido o mais acessado da revista científica Veterinary Research, considerada a de maior impacto mundial na área de Medicina Veterinária (impacto 4,060). Intitulado ‘Chickens treated wich a nitric oxide inhibitor became more resistant to Plasmodium gallinaceum infection due to reduced anemia, thrombocytopenia and inflammation’ (‘Galinhas tratadas com um inibidor de óxido nítrico se tornam mais resistentes à infecção por Plasmodium gallinaceum devido à redução de anemia, trombocitopenia e inflamação’), o artigo apresenta resultados em um modelo de malária aviária com possíveis reflexos para a malária humana.

Consulte o artigo na íntegra.

As pesquisas foram iniciadas em 2008. O artigo é o segundo de uma cooperação com a UFPA, formalizada por um projeto com financiamento da Capes (Procad Novas Fronteiras). Desta vez, a infecção experimental e as análises foram todas realizadas na UENF. A pesquisa concluiu que o bloqueio da produção de óxido nítrico — molécula produzida por várias células, incluindo as do sistema imune em indivíduos infectados — aumenta a sobrevida das aves, apesar de aumentar a presença do parasito no sangue. Segundo o professor Renato DaMatta, um dos autores do artigo, o óxido nítrico é produzido em grande quantidade quando o organismo das aves está infectado pelo Plasmodium gallinaceum — protozoário responsável pela doença.

Renato DaMatta
— A infecção induz excesso de óxido nítrico. Bloqueamos a produção de óxido nítrico com aminoguanidina e verificamos que os animais ficaram menos anêmicos e menos trombocitopênicos, ou seja, o número de hemácias e plaquetas não caiu tanto como costuma ocorrer. Além disso, os animais apresentaram menos hemozoina, indicando menor inflamação. Acreditamos que é justamente o excesso de óxido nítrico que leva o indivíduo à morte — afirma DaMatta, que atua no Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF.

O estudo, que além da Capes conta com apoio da Faperj, Fapespa e CNPq, também serviu para ampliar os conhecimentos sobre imunologia da galinha, ainda pouco estudada no Brasil. O que, segundo DaMatta, é um contrassenso, já que o país é o maior exportador de frango do mundo. Na pesquisa, foi observada alteração no número e na morfologia de linfócitos, monócitos, heterófilos e trombócitos (plaquetas). Foi feita ainda uma observação inédita em galinhas: o aparecimento na circulação sanguínea, durante a infecção, de trombócitos —que em vertebrados não mamíferos são nucleados — com núcleo longo ou duplicado, o que sugere que ainda não estavam maduros o suficiente para saírem da medula.

O artigo também é assinado pelos professores Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho e Antônio Peixoto Albernaz, do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da UENF;  além dos pesquisadores Barbarella Matos de Macchi e José Luiz Martins do Nascimento (ambos da UFPA) e os alunos Farlen José Barber Miranda (pós-graduação) e Fernanda Silva de Souza (iniciação científica), ambos do LBCT.

Fúlvia D'Alessandri

quarta-feira, 13 de março de 2013

Coluna Infinitum: A Lua, nosso satélite natural




A Lua, nosso satélite natural


Adriana Oliveira Bernardes
adrianaobernardes@uol.com.br

                                                     
Bom, nem é preciso dizer, ela é cantada em verso e prosa. Sempre companhia dos enamorados e inspirando muitos poetas ao longo do tempo. Cecília Meireles, em Lua adversa — belíssima, por sinal — e Fernando Pessoa, em O luar quando bate na relva, são exemplos de poetas que focalizaram a Lua em seus poemas.

No Sistema Solar, elas são mais de 150. Apesar de Mercúrio e Vênus não possuírem satélites, os planetas gasosos possuem dezenas delas, com composições e características diferentes.

Foi Galileu quem pôde observar a Lua, nosso satélite natural, em detalhes pela primeira vez, com a luneta que construiu. Ele observou que nosso satélite natural possuía crateras (buracos grandes), montanhas e áreas escuras, que acreditou serem mares.

Imagem da Lua, nosso satélite natural

As maiores crateras da Lua foram batizadas com o nome de cientistas: Einstein, Galileu, Newton, Aristarco, Maxwell. E, acreditem, um brasileiro dá nome a uma delas. Alguém poderia arriscar? Pois é, ele mesmo, nada mais, nada menos que Santos Dumont.

Galileu descobriu que outros planetas também possuíam corpos celestes girando em torno de si, assim como a Terra. Ele observou as quatro maiores luas de Júpiter, sendo o primeiro a saber que outros planetas também tinhas luas como o nosso.

As descobertas de Galileu nesta época colocavam em jogo tudo que era referenciado pela Igreja Católica. Se a Lua possuía características semelhantes à Terra, isso colocava em xeque a teoria de que o céu era perfeito e imutável, que, aliás, era uma teoria dos gregos, ratificada pela igreja.

As crianças na escola aprendem que a Lua apresenta quatro fases, mas isto não é verdade. Se pensarmos que fase é aparência, a cada dia ela se apresenta diferente no céu, então, não podemos afirmar que existem apenas quatro fases. Ou seja, a cada noite ela tem uma fase, pois a cada noite ela tem uma aparência diferente.

Uma das teorias sobre a formação da Lua é que um corpo tenha se chocado com a Terra no passado. O choque teria retirado um grande pedaço do nosso planeta, que prosseguiu junto a ele, preso pela forma da gravidade. Outra teoria, recentemente publicada, diz que no início a Terra possuía duas Luas e a menor delas se chocou com a maior, dando origem a nosso satélite natural.

Nos primórdios da existência humana sobre a Terra, eclipses traziam medo e pavor à população, como, alíás, qualquer outro fenômeno presente no céu para o qual não se conhecia a explicação.  Num eclipse lunar, a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, e a sombra de nosso planeta encobre nosso satélite natural.

Novas descobertas mostram que existe água congelada no solo lunar. Para isso, foram lançados foguetes sobre o solo lunar, investigando em seguida se havia água e em qual condição.

O homem foi à Lua em 20 de Julho 1969, através da missão Apolo XI. Os primeiros a estarem na Lua foram os astronautas Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin.

A ida à Lua foi uma incrível façanha tecnológica que contribuiu para o desenvolvimento da vida moderna, já que vários artefatos tecnológicos criados para aquele empreendimento são utilizados por nós até hoje, constituindo um avanço para o desenvolvimento da sociedade.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Florestan Fernandes, a revolução burguesa no Brasil e as cotas raciais na Uenf




Marcos Abraão Fernandes Ribeiro*

Falar sobre o mestre Florestan Fernandes não é tarefa nada fácil devido à ampla, complexa e seminal contribuição deixada por ele para a sociologia brasileira. Todavia, podemos sintetizar sua contribuição dando ênfase à sua obra sobre a revolução burguesa no Brasil. Antes, porém, vale a pena passarmos por sua trajetória pessoal e acadêmica que é, sem sombra de dúvidas, extraordinária. Depois, sim, proporemos uma apropriação da obra e da biografia deste brasileiro para uma breve consideração sobre o sistema de cotas raciais na Uenf. Como se sabe, as cotas são uma realidade na Uenf desde 2003, ainda que com algumas mudanças na legislação estadual que rege o tema. Atualmente, um total de 45% das vagas em cada curso é reservado para candidatos carentes de determinados perfis. Negros e indígenas são destinatários de quase metade destas vagas (20% do total). 

Florestan Fernandes
Florestan nasceu em São Paulo em 1920, filho de uma mãe solteira, a lavadeira Maria Fernandes, imigrante portuguesa vinda da região do Minho, norte de Portugal. Seu nome foi dado pela sua mãe em homenagem ao motorista de uma casa em que ela trabalhara. Quando, durante um período de sua infância, foi morar com sua madrinha - dona Ermínia Bresser de Lima -, teve de mudar seu nome de Florestan para Vicente, pois ela considerava Florestan um nome inapropriado para um menino pobre como ele. 

Durante este curto período em que viveu com sua madrinha, Florestan recebeu, como mesmo afirmara, sua primeira capa de socialização, pois foi levado à escola onde aprendeu a ler e a escrever, além de ter ganho o gosto e a disciplina pela leitura. Por conta da situação de penúria em que vivia, quando Florestan saiu da casa de sua madrinha, teve logo cedo de aprender as dificuldades da vida. Para ajudar a sua mãe a sustentar a casa, executou diversos trabalhos como alfaiate e engraxate. Com isso abandonou os estudos. Todavia, sua vida tomaria caminhos diferentes em sua juventude quando trabalhava como garçom no Bar Bidu. 

Este bar ficava ao lado do Ginásio Riachuelo, onde funcionava o curso de madureza que é equivalente à EJA (Educação de Jovens e Adultos) dos dias atuais. Os professores iam tomar lanche no bar e ficavam impressionados com o garçom que conversava sobre assuntos variados e vivia, nas horas vagas, lendo debaixo do balcão. Florestan acabou tornando-se amigo de alguns professores que o incentivaram e o ajudaram a voltar a estudar, pois conseguiram um bom desconto para ele e ainda outro trabalho como entregador de amostras do laboratório Nova Terápica. Desta forma Florestan completou os seus estudos e decidiu que seria professor. 

Primeiro ele pensara em engenharia química, mas o curso era integral e não teria como fazer, uma vez que precisava manter a casa. Com isso, decidiu fazer o curso de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP), que era oferecido em meio período. Todavia, a USP não estava aberta para pessoas advindas das classes baixas, como era o caso de Florestan. Era uma universidade das elites para as elites. Como demonstração disso, o concurso de admissão era feito em francês, língua dos mestres que vieram fundar a universidade. Florestan conseguiu vencer essa barreira e apresentou oralmente parte do clássico A Divisão do Trabalho Social, do sociólogo francês Émile Durkheim, em português. Ficou em quinto lugar, abrindo caminho para a construção de uma das carreiras mais brilhantes que a academia brasileira já tivera.  

Na USP, Florestan tornou-se licenciado e professor assistente. Depois fez seu mestrado na Escola Livre de Sociologia e Política sobre os tupinambá; seu doutorado na USP  também sobre o tupinambá; a livre docência com uma tese sobre o método funcionalista na sociologia e a cátedra com uma tese clássica sobre a integração do negro na sociedade de classes. Ou seja, o menino pobre vindo da ralé conseguiu construir uma trajetória pessoal e profissional espetacular. Ao mesmo tempo, foi o grande artífice da sociologia moderna brasileira, como nos apontam Garcia e Arruda (2003), além de ter produzido pesquisas seminais sobre os índios tupinambás, os negros e o tema do desenvolvimento. Estas pesquisas foram de crucial importância para que o sociólogo paulista chegasse ao tema da revolução burguesa no Brasil, obra que funciona como uma síntese da trajetória pessoal e profissional que vimos acima. 

Esta obra densa e bastante complexa foi escrita em dois momentos distintos, uma vez que a primeira e segunda partes foram escritas em 1966, e a terceira, em 1974. Ela demonstra que a revolução burguesa também ocorrera para além dos casos clássicos e que possuía caminhos tortuosos na perifeira do capitalismo. Com essa obra, Florestan nos aponta como nos constituímos enquanto uma sociedade de classes fechada e excludente para pobres, negros e mulatos. Ele demonstra como a democracia sempre foi algo restrito apenas às camadas dominantes e como necessitamos de uma saída revolucionária caso queiramos instituir uma ordem verdadeiramente democrática no Brasil, na qual a riqueza, a cultura e o poder possam ser universalizados para amplas camadas da população. 

Nesse sentido, que lições podemos tirar da trajetória e da obra-prima do mestre Florestan para uma realidade como a Uenf, que possui um sistema de cotas que tem funcionado como fator de inclusão e de combate à desigualdade racial e social (a qual é, no caso brasileiro, uma das maiores de todo o globo)? Que é possível, sim, para os estudantes advindos das cotas trilharem uma trajetória similar à que os filhos de classe média e das elites, preparados em escolas de ponta, conseguem trilhar. 

Eu mesmo estudei grande parte da minha trajetória do ensino básico em escola pública. Lá percebi as carências do ensino e a necessidade de um filho das classes populares ser muitas vezes autodidata para conseguir competir com os filhos da classe média e das elites. Aos 15 anos, a experiência de estudar em uma escola privada na cidade de Campos dos Goytacazes me possibilitou, mesmo sem o conhecimento sociológico, observar como a cidade possui uma realidade social conservadora e opressiva. Após o ensino básico, pude fazer toda a minha formação na Uenf e também dar aula por três anos nesta instituição. Com a experiência de quase oito anos de Uenf, pude perceber, em relação ao curso de ciências sociais, que os alunos cotistas possuíam um desempenho igual e muitas vezes melhor se comparado aos não cotistas. 

Sei que as cotas não são a solução para o problema educacional brasileiro, uma vez que o nó górdio a ser cortado está no fracasso da educação básica e na necessidade de sua reforma estrutural. Mesmo assim, na maioria dos casos, aqueles que se colocam contra apenas reproduzem, conscientemente ou não, a ideologia liberal conservadora do mérito individual tão ao gosto do capitalismo financeiro e da sociedade consumista, bem como os privilégios de classe que sempre tiveram, impedindo a ascensão dos debaixo como exemplarmente demonstrou o mestre Florestan em A Revolução Burguesa no Brasil.
*Doutorando em sociologia política pela Uenf. E-mail:olamarcos@yahoo.com.br

sexta-feira, 8 de março de 2013

Coluna Nutrição: Abacaxi





Abacaxi


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira*

O abacaxi — embora com diferenças que dependem da variedade e tratos culturais — se destaca pelos teores de fibras, carboidratos, enzimas proteolíticas e também vitamina C, vitamina B1 (tiamina), vitamina B6, (ácido pantotênico) e ácido fólico. Uma fruta de tamanho médio, descascada e sem coroa, pesa, aproximadamente, 750 gramas.



As enzimas proteolíticas são conjuntamente denominadas “Bromelina”. Elas degradam proteínas e, por este motivo, o seu consumo ajuda na digestão e pode ser usado para amaciar carne, bem como na fabricação de cosméticos. Estudos recentes têm indicado que a Bromelina possui atividade anti-inflamatória, imunológica e anticancerígena no intestino. Entretanto, pelo fato de hidrolisar proteínas, não é recomendável abusar de seu uso em jejum, como recomendado em determinadas dietas, pois estas enzimas podem aumentar lesões pre–existentes no trato gastrointestinal.

A vitamina C, assim como a vitamina E, é um forte agente antioxidante. Enquanto a vitamina E atua em meio lipídico, a vitamina C atua em meio hídrico, inclusive regenerando a vitamina E na interface das membranas para a correta formação do colágeno, que é uma proteína que dá sustentação aos músculos, tecido epitelial e formação dos vasos sanguíneos. Por este motivo, o consumo adequado de vitamina C é necessário para a formação de artérias resistentes e retardamento do envelhecimento. Apenas uma porção de 150 gramas de abacaxi — uma fatia e meia — fornece mais que 100% da quantidade desta vitamina que devemos ingerir diariamente.

Além da vitamina C, o abacaxi está sendo alvo de estudos sobre o seu teor de aminas bioativas, compostos que podem ser benéficos à saúde por sua ação antioxidante e anti-inflamatória. E ainda as vitaminas B1 e B6 presentes na fruta atuam no metabolismo energético e a Vitamina B6, no metabolismo de aminoácidos. Embora deficiências severas destas vitaminas sejam raras em nosso meio, deficiências leves (subclínicas) são comuns e causam alterações no sistema nervoso e muscular.

O abacaxi, como a maior parte das frutas, possui elevado teor de água. Seu suco é hidratante e auxilia na digestão.


* Doutorando e professora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) da UENF

quinta-feira, 7 de março de 2013

O Dia Internacional da Mulher: o que podemos comemorar?


Marinete dos Santos Silva*


Professora Marinete dos Santos Silva
Nos últimos anos, o Dia Internacional da Mulher popularizou-se de tal maneira que uma rede de lojas bastante conhecida em nosso país instituiu no mês de março a “semana da mulher”. As emissoras de TV em anúncios bastante ruidosos mostram as ofertas de lingerie, produtos de higiene pessoal e beleza dedicados a ela e oferecidos a preços teoricamente mais baixos. Nas empresas é bastante comum o oferecimento de rosas às mulheres como forma de homenageá-las pelo seu dia. Na grande mídia escrita — os principais jornais do país e as revistas semanais — não raro aparecem matérias onde mulheres de sucesso, com carreiras sedimentadas, abandonam o trabalho para se dedicarem ao marido e aos filhos renunciando, portanto, à independência financeira e à realização pessoal.

Essas demonstrações têm um ponto em comum: estão anexadas em uma visão de que o Dia Internacional da Mulher foi criado para homenageá-la exaltando os seus papéis tradicionais de dona-de-casa, esposa, mãe e grande sedutora. Nunca são mostradas mulheres com carreiras de êxito e que, mesmo diante de todas as dificuldades, perseveraram e muito menos os índices alarmantes da violência perpetrada contra elas.

Quando essa comemoração foi instituída pensou-se justamente em um dia onde as pessoas pudessem parar e refletir sobre a situação de metade da humanidade. Pensou-se principalmente em levar às pessoas uma questão fundamental: por que chegamos aos dias atuais com tantos avanços tecnológicos, avanços científicos nos mais variados campos, mas, apesar disso, ainda persistem grandes desigualdades entre homens e mulheres? Muitas pessoas poderiam contestar essa afirmativa dizendo simplesmente que temos uma presidenta da república, temos reitoras nas universidades públicas, deputadas, senadoras, prefeitas etc.

O fato de termos algumas mulheres em cargos decisórios não significa, entretanto, que as desigualdades tenham sido suplantadas. A maioria ainda patina em trabalhos mal remunerados e sem a mínima consideração social. Mesmo em cargos especializados, as mulheres ainda recebem em média 30% a menos que os homens.

As desigualdades econômicas entre homens e mulheres já foram aferidas por agências respeitáveis como a ONU, o IBGE, o IPEA, mas é ainda a questão da violência o que mais choca dentro desse quadro de assimetria de poderes. Em recente entrevista, o Secretário Geral da ONU revelou que a violência contra a mulher tornou-se na atualidade uma pandemia, afetando todos os países em níveis alarmantes. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que o número de mulheres assassinadas cresceu 217,6% nos últimos trinta anos. Entre 1980 e 2010, foram assassinadas 91.932 mulheres. Somente na última década, foram registradas 43.486 mortes. Se pensarmos que os Estados Unidos perderam na guerra do Vietnan 40.000 soldados poderemos ter a exata medida da tragédia que se abate sobre nós.

Poder-se-ia perguntar a essa altura: para que serve a Lei Maria da Penha, em vigência desde 2007? Imaginava-se que ela viria modificar esse quadro, preservando a integridade física das mulheres. Sua eficácia, entretanto, mostra-se bastante reduzida quando os operadores da lei não possuem treinamento adequado para atender as ocorrências, não decretando a prisão dos agressores ou não cumprindo mandados que garantissem a vida daquelas que ousam registrar queixas nas Delegacias Especializadas. Vale ressaltar que uma simples lei não muda um quadro cultural em que o homem se sente proprietário da mulher e que se acha com direitos sobre o seu corpo e a sua vontade, não aceitando o fim de um relacionamento quando a iniciativa é tomada por ela. A questão é mais profunda e se insere no quadro de desigualdades falado anteriormente.

O que podemos fazer para mudar essa dolorosa realidade? As discussões sobre ela nos remetem ao chamado “empoderamento” das mulheres. Esse termo foi criado para mostrar a necessidade de elas compartilharem o poder com os homens em todas as esferas, mudando dessa forma a correlação de forças não apenas no sentido político tradicional, mas igualmente no âmbito privado. “Empoderar” as mulheres é fazê-las capazes de decidir sobre seu corpo, seu trabalho, sua sexualidade. Essa luta não pode ser travada apenas pelas mulheres em seus coletivos de discussão. Ela é uma luta de todo o povo brasileiro: homens e mulheres. Nossos parceiros não podem ser nossos carrascos. Seria bom se esse 08 de março de 2013 pudesse ser um dia não apenas de comemorações frívolas, mas de reflexão para a vida e a felicidade de todos nós.

*Professora do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF.   


terça-feira, 5 de março de 2013

Ciência divertida

Foto do campus da UENF, com o Centro de Convenções
Alunos de Física da UENF que participam do Pibid montam feira de ciências na Escola João Pessoa, em Campos dos Goytacazes

Nesta quarta-feira, 06/03, os alunos do Colégio Estadual João Pessoa irão participar de uma Feira de Ciências com direito a atividades e experimentos que proporcionarão um divertido momento de aprendizagem. Trata-se do evento “Diversão e aprendizado de Ciência na Escola”, realizado por professores e alunos da Licenciatura em Física da UENF que fazem parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid).

— A Feira tem o objetivo de dar boas-vindas aos estudantes. Estimamos que aproximadamente 300 alunos participem — diz a coordenadora do Pibid/Física na UENF Priscila Castro.

O Pibid é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica que insere os licenciandos no cotidiano de escolas de rede pública. A Feira de Ciências permite que os futuros professores participem de experiências metodológicas e proporciona uma maior interação deles com os alunos.

Ao todo serão cinco grupos de atividades a serem desenvolvidas no evento. Um deles é a “Palestra de Divulgação da Ciência”, onde serão apresentados vídeos de divulgação científica sobre temas atuais, como a Cosmologia, que será retratada através de um programa on-line que mostra a escala de evolução do Universo.

 — É uma boa iniciativa, que influencia os alunos a terem contato prático com a Física que eles estudam em sala de aula — diz Sarah Picanço, uma das licenciandas envolvidas no projeto.

Outra atividade a ser desenvolvida na Feira é a “Mostra experimental interativa”, na qual serão apresentados experimentos de baixo custo envolvendo diversos conceitos de Física, como a câmara escura Pinhole, uma câmera fotográfica de baixo custo feita a partir de uma lata de alumínio com um furo. Foram tiradas diversas fotografias do campus Leonel Brizola que serão apresentadas na Feira com o título “UENF pelo buraco da agulha”.

— Os alunos Pibid puderam experimentar todo o processo fotográfico, desde a produção da câmera até a revelação — afirma Priscila.

Além da professora Priscila Castro, também estão envolvidos no projeto a coordenadora do curso de Licenciatura em Física, Marília Paixão; os professores do Laboratório de Ciências Físicas (LCFIS) André Guimarães e Max Soffner; as professoras do Colégio João Pessoa que atuam como supervisoras no projeto Pibid Gianna Castro e Rosa Maria Alvarenga, além de todos os licenciandos bolsistas do Pibid/Física.

Viajando na Ciência

A Feira de Ciências também irá contar com o caminhão Viajando na Ciência, que é um laboratório de ciências itinerante. A parceria vem sendo desenvolvida desde o final do ano passado sob a supervisão do professor André Guimarães e conta com a colaboração das professoras Carla Salles e Claudete Soares; além de bolsistas Pibid/Física e Química para a apresentação dos experimentos aos alunos de ensino fundamental. O caminhão Viajando na Ciência ficará estacionado no pátio da escola para que os alunos possam participar ativamente.

Rebeca Picanço

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cultura científica


"Cidadãos devem se apropriar da cultura científica", afirma professor espanhol

Em entrevista à Agência Fapesp, o professor espanhol Miguel Ángel Quintanilha defende o envolvimento de professores, pesquisadores e jornalistas na difusão de temas de ciência e tecnologia (C&T). Só assim será possível haver o que ele chama de 'apropriação cidadã da cultura científica'. Diretor do Instituto de Estudos de Ciência e Tecnologia (eCyT) da Universidade de Salamanca (Usal) e da Fundação Centro de Estudos de Ciência, Cultura Científica e Inovação (3CIN), Miguel trabalha com pesquisa e difusão de temas situados na intersecção entre filosofia, ciência e tecnologia.

— A cultura científica nada mais é do que a inserção, cada vez maior, da ciência, da tecnologia e das inovações nos mais diferentes âmbitos do nosso cotidiano — afirma o professor.

Leia a reportagem completa aqui.