quinta-feira, 2 de julho de 2015

Coluna Nutrição - Suplementos para queimar gordura continuam na moda




Suplementos para queimar gordura continuam na moda


Luiz Fernando Miranda e Karla Silva Ferreira

A maioria dos suplementos vendidos como termogênicos no Brasil contem em sua formulação cafeína, chá verde, vitamina ou mineral como principais ingredientes (1). Os produtos termogênicos são comercializados com a promessa de serem um recurso alimentar destinado à perda de peso, uma vez que, segundo os fabricantes, ao promover a aceleração do metabolismo, aumentaria a queima de gordura corporal. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entretanto, não reconhece o termo “termogênico” e proíbe qualquer comercialização de produtos com promessa de emagrecimento ou queima de gordura (2).





O único princípio ativo encontrado nas formulações dos termogênicos que a Anvisa reconhece como integrante principal de suplemento é a cafeína, e para isto há regulamentação. A cafeína é estimulante do sistema nervoso central, aumentando o 3,5-AMP-cíclico pela inibição da fosfodiesterase (2). A Anvisa classifica estes produtos como suplementos de cafeína para atletas, destinados a aumentar a resistência aeróbia em exercícios físicos de longa duração. Estes suplementos devem conter entre 210 e 420 mg de cafeína na porção e não podem vir adicionados de nutrientes e outros compostos não nutritivos (3).

Num levantamento realizado com os 10 produtos mais vendidos no Brasil, sete deles (tabela abaixo) continham a cafeína como princípio ativo. Os demais (não tabelados) continham chá verde em quantidade não declarada e vitaminas.

Tabela. Teor de cafeína presente em suplementos comercializados como termogênicos, e quantidades diárias de cafeína recomendadas pelos fabricantes

Pode se observado que quase todos os suplementos continham 420 mg de cafeína por porção, e em 57% dos produtos havia a sugestão de consumo diário acima de 840 mg de cafeína por dia, o que equivale 13,5 xícaras de café expresso ou  1386 ml de café infusão (20 g de pó/250 ml de água)(4). Ou seja, doses elevadas de cafeína, acima de 300 mg/dose para indivíduos não atletas, podem provocar aumento da frequência cardíaca, insônia, crises de ansiedade e até a morte(5). Ainda assim, aqueles com doenças cardiovasculares podem ser sensíveis à ingestão de doses ainda mais baixas de cafeína e o consumo deve ser supervisionado por médico. Segundo a Anvisa, estes produtos foram elaborados exclusivamente para atletas, os quais são mais resistentes aos efeitos adversos da cafeína. Ainda assim, a prescrição de suplementos à base de cafeína, deve ser supervisionada por médico ou nutricionista.

Entre os 10 produtos avaliados, em dois foi declarada a presença da planta Camellia sinensis, como “chá verde”. O chá verde é uma bebida preparada a partir da infusão de folhas desta planta. Estudos evidenciam que o consumo desta bebida seja capaz de promover efeitos termogênicos e perda de peso corporal. Os pesquisadores associam estes efeitos à ação da cafeína e  catequinas (flavonóides) presentes na planta. No entanto, não há consenso sobre a dosagem diária deste chá ou do extrato na redução significativa de peso, mas por meio de estudos (6,7), mostrou-se que o consumo de pelo menos 1 litro diário de chá durante 13 semanas pode gerar em redução de peso em até 1,5 Kg peso corporal.

O Ministério da Saúde alerta a população sobre a presença da substância dimetilamilamine ou dimethylamylamine (DMAA) em alguns suplementos vendidos como termogênicos, pois podem acelerar em demasia os batimentos do coração e causar parada cardíaca e morte. A venda destes suplementos está proibida(8).

REFERENCIAS

1. Silva LFMS. Avaliação de suplementos alimentares para fins especiais. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.
2. Shi D, Padgett WL, Daly JW - Caffeine analogs: effects on ryanodine-sensitive calcium-release channels and GABAa receptors. Cell Mol Neurobiol, 2003; 23:331-347.
3. BRASIL. Consulta Pública n. 60, de 13 de novembro de 2008. Regulamento Técnico de Alimentos para Atletas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 nov. 2008
4. Camargo MCR; Toledo MCF. (1998) Teor de cafeína em cafés brasileiros. Ciênc. Tecnol. Aliment. 18 (4) 421-424p
5. Diepvens K; Westerterp KR; Westerterp-plantenga MS. (2007) Obesity and thermogenesis related to the consumption of caffeine, ephedrine, capsaicin, and green tea . Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol. 292: 77–85.
1. Jurgens TM , Whelan AM , Killian L , S Doucette , Kirk S , E Foy . Green tea for weight loss and weight maintenance in overweight or obese adults.  Cochrane Syst Rev. 2012. 2.
2. Phung OJ; Baker WL; Matthews LJ; Lanosa M; Thorne A; Coleman CI. (2010) Effect of green tea catechins with or without caffeine on anthropometric measures: a systematic review and meta-analysis. Am J Clin Nutr. 91(1):73-81.
3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilânia Sanitária. Anvisa alerta para risco de consumo de suplemento alimentar. Disponível em http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/1M8. Data de acesso: 26/04/2015.

Um comentário:

  1. Excelente matéria. Quero que essa coluna não acabe nunca. Parabens aos autores

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