segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Coluna Nutrição: Vitamina D




Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga: 

sem vitamina D!


Tabatha de Souza Vasconcelos, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda da Silva

A primeira função atribuída à vitamina D foi na absorção de cálcio, que a faz essencial para a formação dos ossos. Para exercer esta funçãom, o Instituto de Medicina (IOM) recomenda a ingestão diária de 15 microgramas de vitamina D ativa (D3) para a população em geral. Para pessoas acima de setenta anos, orienta-se a ingestão de 20 microgramas de vitamina D (3). A quantidade máxima de ingestão da vitamina D foi definida em 100 microgramas por dia.(1)

Estudos recentes têm provado que a vitamina D possui inúmeras outras funções além do metabolismo do cálcio. Ela atua na redução do risco de diabetes tipo I e II, redução de algumas doenças autoimunes (como a esclerose múltipla), prevenção de alguns tipos de câncer, (2) síntese de hormônios sexuais masculinos (testosterona) e funções musculares. (3,4) A testosterona é um hormônio que tem como uma das funções promover a síntese de massa muscular.

Apesar de receber o nome de vitamina, a vitamina D é um hormônio. Há uma substância inicial que tanto pode vir dos alimentos quanto ser formada no organismo pela exposição da pele à luz solar. Esta substância é denominada D2 ou ergocalciferol. Posteriormente, ela sofre modificações para ficar na forma de vitamina D ativa, também denominada de D3 ou colecalciferol. Pouquíssimos alimentos fornecem a substância precursora da vitamina D ativa, daí a grande importância da exposição à luz solar ou, na falta desta possibilidade, o uso de suplementos ou de alimentos enriquecidos. Os alimentos fontes da substância precursora da vitamina D são: peixes gordos (arenque, salmão, cavala e, em menor quantidade, sardinha e atum), gema de ovo, fígado, manteiga e alguns raros cogumelos. O leite integral contem pouquíssima vitamina D. O óleo de fígado de bacalhau é um extrato oleoso de peixe que tem sido há anos utilizado como suplemento alimentar desta vitamina D (Tabela 1). 



Nos EUA, a Escola de Saúde Pública de Harvard incluiu a suplementação de vitamina D junto à pirâmide alimentar deles pelo fato de a população americana ter grande chance de ser deficiente em vitamina D (tanto pela baixa exposição solar, quanto pela baixa ingestão de alimentos fontes).(5)  

A principal fonte natural do precursor D2 é a síntese pelo corpo quando a pessoa se expõe à radiação solar. Entretanto, esta síntese varia de acordo com fatores geográficos, faixa etária, pigmentação da pele e uso prolongado do filtro solar.(6,7) O uso do protetor solar reduz em até 95% a produção de vitamina D, uma vez que ele bloqueia de forma eficiente a radiação UVB. (8) O grau de pigmentação da pele é outro fator limitante para a produção de vitamina D, uma vez que peles negras apresentam limitação à penetração de raios ultravioleta. (9) Em pessoas idosas a síntese é menor.  

Para que ocorra a síntese de quantidade adequada do precursor D2 é suficiente a exposição de braços e pernas, sem o uso do protetor solar, por cerca de 5 a 30 minutos entre o horário de 10h às 15h, duas vezes por semana. (10) A luz solar é composta por diversos tipos de radiação, sendo os raios ultravioletas do tipo B (UVB) responsáveis por promover a síntese desta substância.

Após a pré-vitamina D2 ser sintetizada pela pele ou ingerida por meio dos alimentos, ela vai para a circulação sanguínea e, ao passar pelo fígado, recebe uma hidroxila no carbono (25). Daí volta para a circulação e, ao passar pelos rins, recebe outra hidroxilação, agora no carbono 1, sendo assim formada a 1-alfa,25-dihidroxi-vitamina D (ou calcitriol), que é a forma ativa da Vitamina D. Esta forma ativa vai para diversos locais no organismo exercer as suas funções: no intestino, promover a absorção de cálcio; nas células do sistema imune etc. A Figura 1 ilustra as fontes, síntese e funções da vitamina D.



A emissão da radiação UVB coincide com a emissão da radiação UVA (ultravioleta tipo A), sendo ambos danosos à saúde. Cerca de 4% da radiação que chega à superfície da terra é radiação ultravioleta, composta, aproximadamente, por 96% de UVA e 4% de UVB.(11,12) Por este motivo, tem havido intensa recomendação para uso de protetor solar e, ou evitar o sol neste horário. Com isso, por um lado, evita-se a incidência de certos problemas de pele. Mas, por outro, há menor produção de vitamina D pelo organismo, havendo até casos de síntese insuficiente desta vitamina. Este fato chamou a atenção dos pesquisadores devido aos problemas relacionados com sua deficiência, visto que pesquisas identificaram que há pessoas com níveis de vitamina D no sangue abaixo do ideal mesmo em países tropicais e ensolarados como o Brasil. Isso indica que estão ingerindo quantidade insatisfatória desta vitamina e, ou se protegendo demasiadamente do sol.(13)

Quando a pré-vitamina D é sintetizada pelo organismo não há risco de intoxicação porque quando seu nível na pele atinge um patamar elevado ela começa a ser degradada pela própria luz solar. A intoxicação devido à ingestão por alimentos enriquecidos é polêmica. Alguns autores consideram que há necessidade de ingestão muito elevada para que ocorram problemas. Outros consideram o risco mesmo com baixa ingestão.  O certo é que, se ingerida em excesso, pode causar náuseas, vômitos, perda de apetite e calcificação em locais impróprios no organismo, por exemplo fígado, rins e outros locais não ósseos. Com base em sua toxidez é que os órgãos internacionais de saúde são cautelosos em recomendar a ingestão de quantidade mais elevada desta vitamina. Sua suplementação oral só pode ser feita com prescrição médica após exame comprovando níveis sanguíneos baixos.
Portanto, se proteger do sol sim, mas sem excesso!

Referências

1. Ross A.C., Manson J.E., Abrams S.A., Aloia J.F., Brannon P.M., Clinton S.K., et al. (2011).The 2011 report on dietary reference intakes for calcium and vitamin d from the institute of medicine: what clinicians need to know. J. Clin. Endocrinol. Metab, 2011. (1):2010-2704
2. Holick, M.F. Vitamina D (capítulo 20) in Shils, M.E.; Shike, M.; Ross, A.C.; Caballero, B.; Cousins, R.J. Nutrição Moderna na Saúde e na Doença. 2ª Ed. Manole: São Paulo. 2009. 2222p.
3. Nimptsch K., Platz E.A., Willett W.C., Giovannucci E. Association between plasma 25-OH vitamin D and testosterone levels in men. Clinical endocrinology, 2012. 77(1):106-112
4. Pils S, et al. Effect of Vitamin D Supplementation on Testosterone Levels in Men. Hormone and Metabolic Research.  2015, S30.
5. School Of Public Health Food Pyramids and Plates: What Should You Really Eat? Disponível em http://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/pyramid-full-story/. Data de acesso: 26/10/2015.
6. Bandeira F. et al . Vitamin D deficiency: a global perspective.Arq Bras Endocrinol Metab. 2006. 50(4):640-646.
7. Tsiaras et al. Factors Influencing Vitamin D Status. Acta Derm Venereol.2011 Mar;91(2):115-24
8. Tangpricha V., Turner A.,Spina C,,Decastro S.,Chen T.C. & Holick M.F. Tanning is associated with optimal vitamin D status (serum 25-hydroxyvitamin D concentration) and higher bone mineral density. Am. J. Clin. Nutr. 2004; 80: 1645-1649.
9. Bringhurst FR, Demay MB, Kronenberg HM. Hormones and Disorders of Mineral Metabolism. In: Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, Larsen PR editors. Williams Textbook of Endocrinology, 11 ed. Philadelphia: Elsevier, 2008.
10. Holick MF. Vitamin D deficiency. N. Engl J. Med, 2007. 266–281
11. Silva A.A. Medidas de radiação solar ultravioleta em Belo Horizonte e saúde pública .Revista Brasileira de Geofísica (2008) 26(4): 417-425.
12. INIRC (International Non-Ioning Radiation Committee).Review of concepts, quantities, units and terminology for non-ionizing radiation protection. Health Phys., 1985. 49: 1329-1362.
13. Peters BSE, dos Santos LC, Wood MFRJW, Martini LA. Prevalence of Vitamin D Insufficiency in Brazilian Adolescents. Ann. Nutr. Metab. 2009;54:15–21