sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Chocolate e os benefícios cardiovasculares...quando tem cacau! - Coluna Nutrição





Chocolate e os benefícios cardiovasculares
...  quando tem cacau!


Antonione Araújo Coelho, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda



O consumo do chocolate tem sido incentivado por conter diversas substâncias com efeitos medicinais provenientes do cacau. Portanto, seu efeito benéfico depende da quantidade de cacau utilizada em sua fabricação. A Legislação Brasileira não estabelece uma quantidade mínima de cacau a ser colocada no chocolate. Apenas define chocolate como o produto preparado com cacau obtido por processo tecnológico adequado e açúcar, podendo conter outras substâncias alimentícias aprovadas (1).

Desde a Antiguidade, as sementes de cacau já eram utilizadas de forma terapêutica pelos maias e astecas como estimulante, pomada analgésica e bebida energética consumida pelos guerreiros antes das batalhas. Os incas consideravam a bebida à base de cacau como uma bebida dos deuses (2). Atualmente seus atributos medicinais são comprovados. Ele possui substâncias antioxidantes (polifenóis), que atuam na prevenção de câncer, doenças neurodegenerativas e cardiovasculares. Os efeitos na prevenção das doenças cardiovasculares são obtidos por meio da redução do colesterol LDL (colesterol ruim), aumento do colesterol HDL (colesterol bom) e estímulo da produção de substâncias precursoras do óxido nítrico, importante para a redução da pressão arterial (3,4).




Os benefícios do cacau foram comprovados por diversos estudos científicos. Por exemplo, um destes estudos foi realizado com mulheres no período da menopausa, sem diagnóstico de doenças cardiovasculares. Estas mulheres foram observadas durante 16 anos e, neste período, houve redução do risco de morte por doenças cardiovasculares associado ao alto consumo de alimentos ricos em polifenóis (5). Outro estudo envolvendo homens idosos, saudáveis, mostrou redução da mortalidade por doença cardiovascular e por todas as outras causas no grupo com maior ingestão de cacau (6).
Os derivados do cacau presentes no chocolate são a massa de cacau e a manteiga de cacau (que é a gordura do cacau). A massa de cacau é oriunda da semente do cacau, que é fermentada e seca. Ela é que contém os compostos benéficos para a saúde, por sinal em quantidade superior à encontrada em chás e vinho tinto (7,8,9). Quanto à gordura do cacau, ela não é prejudicial ao coração. Porém, como todas as gorduras, possui valor energético elevado, o que contribui para o ganho de peso quando consumida em excesso, e não contem polifenóis.

Entretanto, nem todos estes benefícios estão nos chocolates que consumimos. Algumas indústrias colocam muito mais açúcar e outros ingredientes do que massa de cacau em seus chocolates. Pela lista de ingredientes é possível ter uma ideia da quantidade de massa de cacau presente em cada tipo de chocolate. A legislação brasileira estabelece que os ingredientes utilizados nos alimentos industrializados sejam colocados em ordem decrescente de quantidade. Portanto, o ingrediente citado em primeiro lugar na lista de ingredientes é o que está em maior quantidade no referido alimento e o último em menor quantidade.

As figuras abaixo são fotos da informação nutricional e lista de ingrediente de alguns tipos de chocolate comercializados no Brasil. Observa-se que os ingredientes colocados em maior quantidade são o açúcar, o leite em pó e a manteiga de cacau (Figura 1). O chocolate branco nem contém massa de cacau. Nele, de cacau, apenas a manteiga (Figura 2)







Os chocolates de melhor qualidade possuem maior quantidade de cacau e, normalmente, especificam o teor de cacau presente. Alguns chegam a conter até 85% de massa de cacau. Nos chocolates em que o cacau é o ingrediente majoritário, a massa de cacau deve ser o primeiro ingrediente citado na lista de ingredientes.  A figura 3 é de um chocolate que alega conter 70% de massa de cacau. Em sua lista de ingredientes pode-se observar que a massa de cacau foi o ingrediente citado em primeiro lugar.





Deve-se atentar também para outros ingredientes, como a gordura vegetal presente em muitos chocolates. Dentre as gorduras vegetais industrializadas, há o tipo hidrogenada, que contém altos teores de gordura trans e é extremamente prejudicial para a saúde. O fato de não haver especificação sobre o tipo de gordura que está sendo colocado nos chocolates levanta dúvida de que possa ser hidrogenada. Observe nas figuras 1 e 2, nas listas de ingredientes, que há presença de gordura vegetal. Já na lista de ingredientes mostrada na Figura 3 não há menção de gordura hidrogenada.

Agora consumidor, na hora de escolher o chocolate, leia a lista de ingredientes. Dê preferência ao que contém maior teor de massa de cacau e nenhuma gordura vegetal. Seu corpo vai agradecer!

REFERÊNCIAS

1 - BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 12, de 24 de jul. 1978, Normas técnicas especiais, revistas pela CNNPA, relativas a alimentos (e bebidas). Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_78_bombons.htm>. Acessado em: 12 abr. 2009.

2 - Corti R, Flammer Aj, Holemberg NK, et al. Cocoa and cardiovascular health. Circulation 2009; 119 (10): 433-1441.

3 - Schenarr O, Brassette T, Mammo TY, et al. cocoa flavonoles lawer vascular orgenase  acivity  in human endothelial cells in vitro and in erythraeytes in vivo.Arch Beachem Beophys 2008, 476(2):211-215.

4 - Fraga CG,Littero MC, Princ PD, et al. Cocoa flavonoles: effect on  vascular nitric oxide and bland pressure. J  clin Beachim Nutr 2011, 48(1): 65-67.


5 - Mink PJ, Scrafford CG,Borraj LM, et al. Flavonoid intact and cardiovascular disease mortality: a prospective study in partmenapousal women. Am  J clen Nutr 2007, 85(3) 895-909.

6 - Buijsse b, weikert C,Bragan D, et al. chocolat consumpetian in relation to blood pressure and resk of cardiovascular deseare in German adult, Eur Heart J. 2010;31(13)1616-1623.

7 - BRITO, E. S. Estudo de Mudanças Estruturais e Químicas Produzidas Durante Fermentação, Secagem e Torração do Cacau (TheobromaCacao L.); e Propostas de Tratamento Para o Melhoramento de Sabor. 2000. Tese (Doutor em Tecnologia de Alimentos)-Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas,Campinas.

8 - ZUMBÉ, A. Polyphenols in cocoa: are there health benefits? BNF Nutrition Bulletin, London, v. 23, n. 1, p. 94-102, 1998. http:// dx.doi.org/10.1111/j.1467-3010.1998.tb01088.x

9 - Manoel C, Scalbert A, Morand C, et al. Polyphenols; food sources and bioavailability Am J clin Nutr. 2004; 79(5): 727-747.