terça-feira, 18 de julho de 2017

Coluna Nutrição: Gordura de coco e saúde humana




Gordura de coco e saúde humana


Luiz Fernando Miranda da Silva e Karla Silva Ferreira


Gordura ou óleo de coco?

Primeiramente vamos fazer a distinção entre óleo e gordura. Ambos são compostos por triacilgliceróis, que são substâncias formadas por ácidos graxos e glicerol. O glicerol é um álcool formado por três carbonos e três hidroxilas. Já os ácidos graxos que formam os triacilgliceróis têm entre 4 a 22 átomos de carbono e estas cadeias carbônicas podem ou não conter duplas ligações. É dada a denominação de saturados para os que não contêm dupla ligação e insaturados para os que contêm uma ou mais duplas ligações. Quanto maior o número de átomos de carbonos do ácido graxo e menor o número de ligações duplas, mais alto seu ponto de fusão. Em outras palavras, mais sólidos são à temperatura ambiente. As gorduras têm em sua composição maior porcentagem de ácidos graxos saturados e por isso são sólidas à temperatura ambiente (25o C). Já os óleos, por terem alta porcentagem de ácidos graxos insaturados, são líquidos nestas condições. A denominação de azeite é para os óleos que são extraídos de frutos, como o de oliva e dendê.

Abaixo pode ser observado na Figura 1 a estrutura de uma molécula de triacilglicerol e na Figura 2 de uma molécula de ácido graxo saturado e uma de ácido graxo insaturado.





Na tabela 1 é mostrada a composição da gordura de coco e a classificação dos seus ácidos graxos quanto ao tamanho da cadeia e grau de saturação. Conforme pode ser observado, 99% dos ácidos graxos são saturados. Portanto, a denominação correta, no caso do coco, é gordura de coco, uma vez que ele é composto praticamente por ácidos graxos saturados e é sólido à temperatura ambiente. Embora seja um fruto, o termo “azeite” também não é aplicável. O termo “óleo” deve ter sido colocado como apelo comercial pelo fato da palavra “gordura” ter uma conotação negativa para a população.



A gordura de coco, com a denominação de “óleo”, tem sido recomendada por diversos profissionais da saúde como alimento benéfico para a saúde humana e também como fonte energética para praticantes de exercício físico. Realmente, há algumas vantagens em seu consumo, mas não tanto quanto tem sido divulgado. Um ponto positivo para a gordura de coco é a sua fácil digestibilidade, a presença de polifenóis, que podem ter efeito antioxidante, e maior estabilidade para a fritura que os óleos, gerando menos compostos tóxicos. Esta estabilidade é dada pela baixa quantidade de ácidos graxos insaturados, apenas 1%. Todavia, a recomendação é reduzir o uso de frituras e de dietas que forneçam energia acima da quantidade que o indivíduo pode gastar, visto que isso leva a um progressivo ganho de peso. Alertamos que a incidência de obesidade está aumentando em nossa população, tanto nos adultos quanto entre os jovens e crianças.

Alguns estudos têm evidenciado que, devido à gordura de coco apresentar majoritariamente ácidos graxos de cadeia média (ácido caprílico, cáprico e láurico), poderia induzir perda de peso e fonte energética no exercício físico, uma vez que estes ácidos graxos são mais facilmente digeridos, absorvidos e transportados no sangue.. Realmente, sua indicação na prática clínica é devido a algumas destas características. Os ácidos graxos de cadeia curta e média são indicados para indivíduos nas seguintes condições:

1) Com comprometimento da formação da bílis e absorção de óleos ou gorduras formados por ácidos graxos de cadeia longa.
2) Para as pessoas que requerem elevada ingestão de energia por estarem com o catabolismo acelerado, por exemplo em casos de grandes queimaduras ou em pós-operatório.
3) Nas pessoas com deficiência de transportadores de ácidos graxos de cadeia longa nas mitocôndrias.
4) No tratamento de convulsões.

No caso do efeito positivo dos ácidos graxos de cadeia média no desempenho atlético de humanos, os estudos que demonstraram efeito positivo foram na quantidade de 30 g a 45 g para a redução do glicogênio muscular. Entretanto, não apresentaram efeito superior à suplementação com glicose em solução. Por outro lado, nestas quantias testadas, foi observado que os ácidos graxos de cadeia média provocaram efeitos gastrointestinais negativos. Sendo assim, o uso de gordura de coco no café como estratégia de pré-treino para aumento de energia não parece uma boa alternativa. Para corresponder a 30 gramas de ácidos graxos de cadeia média seria necessário 60 gramas de gordura de coco, quantia está que, provavelmente, causaria desconforto gástrico e baixa aceitabilidade de consumo. Isto aumentaria também a presença de outros ácidos graxos de cadeia longa em quantidade acima de 10 g, o que implica em baixa taxa de esvaziamento gástrico.

O elevado consumo de gordura de coco é desencorajado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Conselho Federal de Nutrição, Academy of Nutrition and Dietetics/USA e Associação Brasileira de Nutrologia, pelo fato que seu consumo em quantidade elevada aumenta o LDL no sangue (lipoproteína de baixa densidade ou “colesterol ruim’), levando a risco de aterosclerose, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico e doença arterial periférica. Este fato é causado devido aos elevados teores dos ácidos graxos saturados de 12, 14 e 16 carbonos na gordura de coco. Estes ácidos graxos são, junto com as gorduras “trans”, as principais substâncias associadas às doenças cardiovasculares. Finalmente, não há indicação dos mesmos para emagrecimento ou tratamento da obesidade. Esta gordura fornece a mesma quantidade de energia que as demais, ou seja, aproximadamente, 9 quilocalorias por grama.

REFÊRENCIAS

1. LEHNINGER, A. L.; NELSON, K. Y. Princípios de Bioquímica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.
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